Trecho de Livro: Triste República, de Lilia Schwarcz e Spacca — Gama Revista

Especial

Triste República

Em HQ da antropóloga Lilia Schwarcz e do cartunista Spacca, o escritor Lima Barreto narra a criação de uma República brasileira repleta de preconceitos e contradições

Leonardo Neiva 15 de Novembro de 2022

No dia 15 de novembro de 1889, a monarquia brasileira deu seu último respiro, abrindo alas para a República. Nascido na segunda metade do século 19, o escritor Lima Barreto (1881-1922), autor de obras clássicas como “Triste Fim de Policarpo Quaresma” e “Clara dos Anjos”, viveu na pele os impactos de todo esse processo político no Brasil. Com apenas oito anos, observou de longe o movimento que destituiu a monarquia e colocou o Marechal Deodoro na posição de primeiro presidente do Brasil. Agora, na história em quadrinhos “Triste República” (Quadrinhos na Cia, 2022), é o próprio escritor carioca quem narra o nascimento e a evolução da primeira República brasileira.

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Escrita pela historiadora e antropóloga Lilia Scwarcz, com imagens feitas pelo cartunista Spacca, a HQ nos guia duplamente: tanto pela vida desse personagem fundamental para nossa literatura quando pelo desenvolvimento republicano, marcado desde o início por características autoritárias. Com a voz típica de um escritor militante, como se denominava, e com fortes críticas à nossa idolatria por estrangeirismos e ao racismo, que o próprio escritor enfrentou, Barreto desfia as mazelas políticas e sociais do período.

“Da tal história da proclamação da República, só me lembro que as patrulhas andavam, nas ruas, armadas de carabinas. E meu pai foi, alguns dias depois, demitido do lugar que tinha”, narra em determinado momento o personagem na HQ. Então funcionário do jornal Tribuna Liberal e apoiador da monarquia, seu pai deixou a redação antes que os republicanos atacassem o local, matando um jornalista. Em meio a todo o imbróglio que se seguiu, a obra reforça o caráter machista e racista do novo governo, assim como a predileção por símbolos estrangeiros, desde o positivista “Ordem e Progresso” até a figura que representa a República, emprestada da Revolução Francesa. Schwarcz e Spacca, que já colaboraram em obras como “As Barbas do Imperador” (Quadrinhos na Cia, 2014) e “Uma Amizade (Im)Possível” (Quadrinhos na Cia, 2014), traçam uma narrativa que vai além do tempo de vida do próprio Barreto, chegando ao governo Vargas. Uma leitura para quem quer entender as complexas origens da nossa política.


Produto

  • Triste República
  • Lilia Schwarcz, Spacca
  • Quadrinhos na Cia
  • 196 páginas

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Este conteúdo é parte da série “Ecos de Outros 22”, produzida em parceria com o Itaú Cultural, uma organização voltada para a pesquisa e a produção de conteúdo e para o mapeamento, o incentivo e a difusão de manifestações artístico-intelectuais.

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