Casa verde
“Colocar a mão na terra em tempos tão difíceis virou um desses rituais que me deixam no presente.” Gama traz histórias e dicas de quem se orgulha de seus jardins pessoais
Reza a lenda que as plantas têm o poder de transformar qualquer casa em um lar. E mesmo as almas mais urbanas passaram a sentir falta de uma boa dose de clorofila durante o isolamento. A busca por novos vasos para decorar o interior de casa encontrou motivações diversas. Seja por passatempo ou como parte da rotina de manutenção da sanidade mental.
“Para mim, ter plantas dentro de casa traz essa ideia de desacelerar, sair desse ritmo e entrar no ciclo daquele ser vivo. É uma relação inteira que se constrói”, diz Julia Rettmann, formada em arquitetura e uma das criadoras da Selvvva, loja paulistana de plantas especializada em jardins urbanos. “Estamos sempre tão mergulhados em crises, que cuidar de um vasinho te tira dessa loucura, e te coloca, mesmo que numa pequena proporção, em contato com a vida como ela é.”
A seguir, Gama reuniu histórias de quem se orgulha de seus jardins pessoais.
Pâmella Zakrzewski
motion designer e revisora de textos, 31 anos
“Eu sempre estive em contato com as plantas, desde pequena. Gosto de vê-las crescendo e, agora na quarentena, tenho reparado ainda mais nos detalhes, quando surge uma folhinha nova ou um botão floresce. As plantas dependem de mim, mas eu dependo delas. Tê-las como companhia, já que moro sozinha, me ajudou a criar um laço com a minha própria humanidade. Até dou bom dia para elas, virou algo natural!”
Guilherme Henrique de Sousa
assistente de relacionamento na Selvvva, 24 anos
“Para mim, sempre foi mais confortável um local rodeado de plantas. Além de hobby, as plantas são minha maneira de relaxar, costumo gastar algumas horas ou até um dia todo em manutenções diárias, como poda, rega e adubação. Quanto o assunto é plantas eu trato como filhas, estou sempre com aquele olhar de pai em todas!”
Daniela Arrais
jornalista e sócia-fundadora da @contente.vc, 37 anos
“Aprender sobre plantas nesta quarentena me mostrou que não dá pra ser boa em algo sem aprofundar (na ilusão de que tem gente que leva jeito pra planta e gente que não). Também mostrou que com atenção e cuidado, tudo cresce. Vão ter aquelas que você faz tudo certo e, ainda assim, morrem. Faz parte, sem drama. Por fim, colocar a mão na terra em tempos tão difíceis virou um desses rituais que me deixam no presente. E nada melhor que isso para conseguir respirar melhor.”
Benigno Ruiz Payno
bancário aposentado, 83 anos
“Eu nasci na zona rural, e me habituei a mexer com plantas. Eu cuido da horta como meu pai fazia. E esse trabalho, agora na quarentena, tem sido uma benção, já que eu não posso sair para fazer nada. Meu passatempo está aqui, neste pequeno pedaço de terra.”
Larissa Mabelli
professora, 24 anos; e Renan Hernandes, biólogo, 29 anos
“As plantas trazem alegria, tampam espaços da casa e ocupam o tempo. A gente rega, conversa, tira mudas, compra vasos, troca de vaso, limpa as folhas. É uma maluquice. Até abrimos um blog, o Casal Floema (@casalfloema), para compartilhar algumas dicas. Tem sido uma delícia. E essa relação mexeu tanto com a gente que começamos a dar nomes a elas: Nicole, Maísa, Afonso, Sônia, Paola. Sim, talvez seja uma tentativa de humanizá-las em algum grau. Mas somos assim, os mamíferos são assim. A gente se apega.”
Vera Andrade
designer e decoradora de eventos, 63 anos
“Nessa quarentena eu e minha filha fizemos uma horta no quintal. Era uma vontade antiga, e que tomou corpo agora no isolamento, já que meu trabalho está totalmente parado. Na horta, cultivamos alface, couve, cenoura, tomate, capim cidreira, xuxu, repolho, ora-pro-nobis, cebola e alecrim – um pouquinho de cada”
Carollina Lauriano
curadora de arte, 36 anos
“Eu sempre gostei muito de plantas, sempre tive em casa. Mas na quarentena, eu me dediquei muito mais a elas. Me traz alívio, e um bem estar para dentro de casa. Estar rodeada de verde é um privilégio. Cuidar das plantas é cuidar de mim, e também da minha casa. Traz uma chama de vida e de continuidade, ainda mais neste momento de suspensão.”
Vinicius Marson
designer gráfico, 43 anos
“Sobre o porquê as plantas me fazem bem? Começaria pela calma. Pela observação e paciência que elas impõem. Seu tempo, não o medido no relógio. O silêncio. Além disso, tem lições pra caramba pra se tirar de um mero feijãozinho. Muita gente acha que ‘já viu o que precisava ver’, e as plantas me ensinam justamente o contrário: que sempre tem o universo em detalhes que eu não vi ainda.”