Tá precisando pisar na grama?

5

Bloco de notas

Livros em que a natureza é a grande protagonista

Entre livros de memórias e de ficção, ensaios e guias ancestrais, Gama reúne obras que colocam plantas e animais nos holofotes

Livros em que a natureza é a grande protagonista

Leonardo Neiva 21 de Setembro de 2025

Entre livros de memórias e de ficção, ensaios e guias ancestrais, Gama reúne obras que colocam plantas e animais nos holofotes

  • Imagem da listagem de bloco de notas

    As plantas como grandes protagonistas de qualquer política urbana que se preze. É a proposta que carrega o novo livro do botânico italiano Stefano Mancuso, “Nação das Plantas” (Ubu, 2024). Um dos principais escritores contemporâneos que se dispõem a explorar o fascinante mundo natural à nossa volta, Mancuso faz aqui a defesa de uma única regra essencial para as cidades: “haver uma planta onde quer que seja possível fazê-la viver.” Fruto de um experimento sério de ecologia e alteridade, o expoente da neurobiologia vegetal — área que investiga como as plantas processam informações do ambiente — busca nos sensibilizar quanto à realidade complexa desses seres tão cruciais para a vida na Terra, mas ainda tão desconhecidos para nós.

  • Imagem da listagem de bloco de notas

    Nossa relação com a natureza vai muito além do mundo visível. Ela está presente também em aspectos e ensinamentos que vêm da nossa ancestralidade. Entre eles, algumas práticas quase esquecidas no mundo atual, como receitas e rituais de cura. São essas histórias, músicas e rezas das curandeiras brasileiras que a psicopedagoga e fitoterapeuta Sueli Kintê e sua filha, a jornalista e terapeuta Sueide Kintê, resgatam em “Fé nas Folhas” (Fontanar, 2025). Ao abordar a alfazema, barbatimão, assa-peixe e manjericão, elas nos lembram que a resposta para problemas como a ansiedade e a insônia pode estar próxima, à distância do nosso quintal. Um guia prático sobre as propriedades das plantas e sua importância para o bem-estar.

  • Imagem da listagem de bloco de notas

    O terror pode ser um excelente veículo para nos alertar das consequências trágicas causadas pela devastação do meio ambiente. Em “Temporada de Caça” (Darkside, 2022), o autor nativo americano Stephen Graham Jones elabora uma intrincada teia de eventos que levam a uma vingança do mundo natural contra aqueles que o devastaram. Os protagonistas são um grupo de amigos indígenas distanciados de suas origens e tradições, que acabam perseguidos por uma misteriosa mulher com cabeça de cervo. O motivo está num obscuro acontecimento do passado, nessa história que discute nas entrelinhas os efeitos da colonização, o preconceito contra os indígenas e uma sociedade que coloca contra a natureza aqueles que um dia viveram em completa harmonia com ela.

  • Imagem da listagem de bloco de notas

    Em “A Sabedoria das Corujas” (Fósforo, 2025), a escritora norte-americana especialista em ornitologia Jennifer Ackerman repete o feito de seu best-seller “A Inteligência das Aves” (idem, 2022). Agora focada num dos animais mais carismáticos e adorados do mundo, símbolo da inteligência desde os tempos gregos — a deusa da sabedoria Atena era acompanhada por um exemplar do animalzinho —, a autora escreve não só para quem se interessa pelos bichos de forma geral, como também pela conservação da vida no planeta. Por trás dos olhões arregalados, hábitos noturnos e pescoço surpreendentemente flexível, a coruja esconde sistemas bastante complexos de comunicação, criação de filhotes, construção de ninhos e até de namoro. Aliás, assim como muitos de nós humanos, elas mantêm relações monogâmicas.

  • Imagem da listagem de bloco de notas

    O campo, o verde, o contato com a natureza… Todo esse ambiente bucólico remete sem muito esforço à poesia. E ninguém melhor que o poeta Manoel de Barros (1916-2014) para nos transportar em seus versos às paisagens do interior do Brasil através da lente dos tempos mais simples da meninice. “Poemas Rupestres, Menino do Mato e Escritos em Verbal de Ave” (Alfaguara, 2025) reúne num volume só as três últimas obras do autor. Criado numa fazenda próxima de Corumbá (MS), Barros pinta como pano de fundo para a infância a natureza do campo mato-grossense, em estrofes memorialísticas cuja experiência de leitura é quase sensorial.

  • Imagem da listagem de bloco de notas

    Mesmo se você já assistiu ao ótimo longa de 2014, que rendeu indicações ao Oscar para as atrizes Reese Witherspoon e Laura Dern, vale a pena ler “Livre” (Objetiva, 2013), obra da norte-americana Cheryl Strayed que inspirou o filme. O livro é um conto de autodescoberta e conexão com a natureza inspirado numa experiência que a própria autora viveu aos 26 anos de idade. Quatro anos após a repentina morte da mãe e o fim de seu casamento, Strayed toma uma decisão impulsiva: caminhar totalmente sozinha por 1.770 km da costa oeste dos Estados Unidos. A trilha passa pelo deserto de Mojave e atravessa todo o estado do Oregon — que tem metade do seu território coberto por florestas —, representando uma difícil jornada pessoal junto à natureza. Aqui, a agonia física e mental serve de matéria-prima para colar de volta os tais caquinhos de uma vida prestes a recomeçar.

  • Imagem da listagem de bloco de notas

    Para os povos indígenas no Brasil, a cultura e a própria existência estão profundamente ligadas às florestas e ao meio ambiente, a ponto de se confundirem numa coisa só. É um pouco dessa visão ancestral que o escritor, ambientalista e conferencista indígena Kaká Werá captura em “Tekoá: Uma arte milenar indígena para o bem-viver” (BestSeller, 2024). A obra relata os primeiros contatos do autor com os guarani e suas experiências pessoais em relação ao bem-estar e à evolução de corpo, mente e coração a partir do que se observa na natureza. Premiado com o Jabuti, Werá nos lembra da importância de restabelecermos uma conexão com o solo, o verde, o planeta e os seres que o habitam como ponto de partida para uma vida mais harmônica e feliz.

  • Imagem da listagem de bloco de notas

    É através de imagens, e não de palavras, que “Agueiro” (FTD, 2025) nos conta suas histórias sobre infâncias vividas nas deslumbrantes paisagens do Pantanal. O livro das escritoras e ilustradoras Patricia Auerbach e Roberta Asse é resultado de uma viagem feita em 2023 em visita a uma escola da região. Muito diferente das infâncias que conhecemos em grandes cidades, devido às enormes distâncias e desafios de locomoção, muitas crianças pantaneiras passam seis dias por semana na escola. A obra retrata um momento especial: as férias escolares, que coincidem com a cheia do rio, num lugar em que as brincadeiras e a própria vida acontecem em comunhão com o mundo natural ao redor. Uma leitura, ou melhor, uma experiência visual voltada tanto para crianças quanto para adultos.

  • Imagem da listagem de bloco de notas

    Um pai, um filho e as infinitas possibilidades do universo. Na superfície, “Deslumbramento” (Todavia, 2023) narra uma simples viagem às montanhas empreendida por um astrobiólogo viúvo e seu filho, uma criança amorosa que sonha ser ambientalista mas que enfrenta sérios problemas de temperamento. Só que o olhar questionador do romancista norte-americano vencedor do Pulitzer, Richard Powers, faz dessa história de acampamento uma aventura familiar pelo cosmos, uma jornada profunda de conexão e uma busca por desvendar os mistérios da vida. Assim como no best-seller “A Trama das Árvores” (idem, 2025), o autor, que vem se especializando em narrativas sobre a reconexão humana com a natureza, nos leva a repensar o lugar que ocupamos no universo e no mundo natural.

  • Imagem da listagem de bloco de notas

    O cipó representa uma força anticolonialista nos 15 ensaios que compõem o novo livro do filósofo francês Dénètem Touam Bona. “Sabedoria dos Cipós” (Ubu, 2025) reúne textos que se inspiram em saberes indígenas e afrodescentes, assim como na lógica da floresta e da dança, para refletir sobre novas formas de vida e resistência no mundo contemporâneo. Com textos de Davi Kopenawa, Ailton Krenak e Euclides da Cunha, que apontam a forte conexão do autor com o Brasil, a obra se entrelaça de acordo com a figura flexível, sem hierarquias e aparentemente desordenada da planta trepadeira. Além destes, o volume também inclui autores como Joseph Conrad, Frantz Fanon e Natassja Martin. E encarna um modo de pensar que serpenteia, se camufla e resiste, propondo uma escuta mais atenta às formas de vida que insistem em permanecer livres.

Um assunto a cada sete dias