Livros que debatem os padrões de beleza
Obras para repensar os ideais estéticos e a autoimagem na sociedade contemporânea
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Um guia para entender os tempos em que vivemos, “Falso Espelho: Reflexões sobre a autoilusão” (Todavia, 2020) é uma coleção de nove ensaios de Jia Tolentino, renomada jornalista da revista New Yorker. Ela aborda os efeitos negativos da vida online, que parece configurada para favorecer a performance e a hiperexposição, levando-nos a perder o senso de identidade. Em um mundo onde importa mais parecer do que ser, Tolentino antecipa um futuro de ilusões sobre a tecnologia e reflete sobre as degradantes imposições da indústria da beleza, o reflexo do machismo nas heroínas da literatura, a eleição de Donald Trump, entre outros temas.
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Como aquilo que é considerado belo mudou com o tempo? O que permanece? Para Umberto Eco, “o homem cria o belo à imagem e semelhança da forma como vê e representa a si próprio”. Com essa noção, ele desenha em “História da Beleza” (Record, 2010) uma linha do tempo do padrão de beleza não só nas artes, como na filosofia, na ciência e em diversas áreas do conhecimento. Acompanhada de ilustrações e passeando pelas visões do Ocidente, da Antiguidade Clássica grega até a sociedade do do final do século 20, a obra apresenta paralelos inusitados — ao comparar, por exemplo, o corpo atlético do Apolo do Belvedere, exibido no Musei Vaticani, em Roma, e os bíceps anabolizados de Arnold Schwarzenegger no filme “Comando”.
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Por que as fotos que vemos rolar pelo feed das redes sociais podem nos levar a sentimentos de ansiedade, raiva, tristeza e frustração? É isso que a socióloga sueca Liv Strömquist questiona na HQ “Na Sala dos Espelhos” (Quadrinhos na Cia, 2023). Com lettering, referências teóricas, um toque de humor e muito didatismo, ela mostra como as estruturas da sociedade contemporânea atuam para oprimir as mulheres a partir da distorção da autoimagem, abordando como a inveja e o instinto competitivo alimentam o consumo compulsivo.
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Ganhador do Prêmio Jabuti em 2007 na categoria livro juvenil, o livro “Alice no Espelho” (Edições SM, 2015), de Laura Bergallo, reinventa a personagem de Lewis Caroll para abordar a liberdade de ser diferente e o perigo dos transtornos alimentares. Na narrativa, a protagonista adolescente é mais uma vítima da ditadura estética e ao enfrentar também a ausência do pai e o descaso da mãe, entre outros problemas, sofre de bulimia e anorexia. Quando entra em coma (ou “no espelho”), ela conhece um mundo em que todas as pessoas são iguais e abrem mão da individualidade para ter uma aparência padronizada.
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O Brasil é o segundo país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo. Para entender de onde vem tanto descontentamento com o “feio”, Denise Bernuzzi de Sant’Anna estudou o padrão estético nacional ao longo dos séculos 20 e 21. Em “História da Beleza no Brasil” (Contexto, 2014), livro baseado em sua tese de doutorado, ela constrói um panorama da mentalidade do brasileiro a partir da propaganda de produtos relacionados ao mundo da beleza. Com isso, resgata publicidades peculiares como a de um desinfetante corporal chamado “Socorro da Mocidade”, na Primeira República, e ilustra a mudança gradual, nos anos 1950 e 60, do padrão de beleza feminino de elegante para sensual.
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Com lições práticas, “A Coragem de Ser Imperfeito” (Sextante, 2016) pode te ajudar a lidar com os padrões de beleza inalcançáveis. Também conhecida por sua Ted Talk e pelo especial da Netflix, Brené Brown é pesquisadora e professora na Universidade de Houston, onde estuda a coragem, a vergonha e a empatia há duas décadas. No livro, ela mostra que para ter uma existência plena e criar vínculos verdadeiros, é necessário abandonar a ideia de perfeição e aceitar a própria vulnerabilidade.
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Entender o mito da beleza sob uma perspectiva racial é algo essencial para o contexto brasileiro, como afirma a colunista da Gama e maquiadora Vanessa Rozan. Um livro que pode ajudar nessa missão é “História Social da Beleza Negra” (Rosa dos Tempos, 2021), A obra, que é a tese de doutorado da historiadora e teórica do feminismo Giovana Xavier, explora o surgimento da uma indústria cosmética voltada para a mulher negra nos Estados Unidos na virada do século 19 para o 20, época em que a “brancura” era estabelecida como padrão de beleza universal e a eugenia se popularizava. Nesse contexto, era vendida a ideia de que a pele clara traria mais oportunidades, levando pessoas negras a clarear a pele para fugir da violência.
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“Um Apartamento em Urano: Crônicas da travessia” (Zahar, 2020) é uma coletânea de textos de Paul B. Preciado escritos durante seu processo de transição de gênero, acompanhando também as transformações do contexto geopolítico entre 2013 e 2018. O filósofo espanhol e expoente da teoria queer aborda temas como as novas formas de violência masculina, o assédio a crianças trans, os Estados Unidos de Trump, a apropriação tecnológica do útero e o trabalho sexual. A obra é uma amostra do pensamento de Preciado, que defende sobretudo a liberdade dos corpos e das subjetividades.
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Fundamental para compreender as raízes racistas do ideal estético, o livro de Carmen Álvaro Jarrín discute, a partir de pesquisas de campo nos hospitais brasileiros, como a beleza se tornou objetivo de saúde nacional. “A Biopolítica da Beleza: Cidadania cosmética e capital afetivo no Brasil” (Editora Fio Cruz, 2023) apresenta esse conceito como um “capital afetivo”, um conjunto de práticas, símbolos e status, que determina posições e lugares sociais. O estudo abrange desde o início do século 20, com o projeto de embranquecimento da nação, até o presente.
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Após avanços significativos das pautas do movimento feminista, que levaram à queda do consumo de cosméticos, a indústria de beleza contra-atacou, incutindo nas mulheres a ideia de que a insatisfação estava relacionada à pressão da independência excessiva, entre outras falácias. “Backlash – O contra-ataque na guerra não declarada contra as mulheres” (Rocco, 2001), de Susan Faludi, vencedora do prêmio Pulitzer em 1991 e em 2017, revela, por meio de dados, os diversos mecanismos usados para desafiar o direito das mulheres — levando-as a pensar que a pressão pela beleza e as demais opressões coletivas eram questões individuais.
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CAPA Qual é a sua vaidade?
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1Reportagem Ninguém mais vai ficar velho?
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2Depoimento Você é uma pessoa vaidosa?
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3Podcast da semana Bruno Gualano: "O mundo fitness é individualizante e egoísta"
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4Reportagem Não fale (bem ou mal) sobre o corpo alheio
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5Bloco de notas Livros que debatem os padrões de beleza