Os pequenos produtores de alimentos durante a pandemia — Gama Revista
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Pedro Kuperman

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Semana

Pequenos produtores e o tombo da pandemia

Depois de perder safras e sofrer com feiras e mercados paralisados, consumo de cestas e vendas online alavancam renda de agricultores, que reajustam produção e demanda; procura por orgânicos dispara; doações enfraquecem

Luiza Fecarotta 18 de Abril de 2021
Lucimar de Oliveira, produtora de orgânicos na agricultura familiar, segura uma bacia cheia de pinhões
Pedro Kuperman

Pequenos produtores e o tombo da pandemia

Depois de perder safras e sofrer com feiras e mercados paralisados, consumo de cestas e vendas online alavancam renda de agricultores, que reajustam produção e demanda; procura por orgânicos dispara; doações enfraquecem

Luiza Fecarotta 18 de Abril de 2021

As sacolas nas quais os tropeiros transportavam a comida em suas cavalgaduras de antigamente são chamadas embornal. Vem daí a inspiração da chef Mariana Gontijo, de Belo Horizonte, para batizar seu projeto Embornal, que leva aos seus clientes produtos que ela recolhe da agricultura familiar.

“A primeira dificuldade desses produtores na pandemia foi o acúmulo de estoque. O comércio fechou, e eles não tinham logística para transportar”, diz Gontijo, que mantém seu Roça Grande ativo em função das vendas do armazém, que antes era coadjuvante e hoje representa mais de 50% das vendas do restaurante. O Tacho, sua casa mais recente, igualmente atrelada aos produtos de pequenos agricultores, fechou — e a marca vai ser transformada em uma plataforma online de discussão sobre a cultura alimentar.

“O Embornal é um conceito. Nós seríamos os tropeiros desses produtores. Passamos para pegar esse alimento e entregar nas casas, sem o lucro do armazém.” Alguns impactos do início da pandemia são comuns aos pequenos produtores. Um deles, central, foi esse esvaziamento das possibilidades de comercialização — sobretudo as feiras que foram desativadas ou murcharam, mas também o fechamento de lojas e restaurantes– e a consequente perda da safra.

Por outro lado, a adaptação ao longo deste último ano mostra que a tendência é não perder novas safras — houve um ajuste entre demanda e produção, neste novo cenário, e parecem consolidadas novas formas de escoamento, sobretudo as cestas e as vendas online.

Os pequenos produtores são muitas vezes pessoas invisibilizadas, marginalizadas, massacradas pelo governo, pelo agronegócio, sem acesso à saúde pública e à educação

O próprio Embornal, que nasce da necessidade de escoar o queijo Maria Nunes, de uma produtora da região do Serro que estava com peças estocadas, passa a atrair agricultores e extrativistas de todo o Brasil, diversifica o repertório, constrói um catálogo denso e se transforma em uma forma de presentear. Há sugestões de sacolas temáticas, com itens como vinho, charcutaria, azeite, rapadura, cachaça, paçoca de pilão, café, iogurte, queijo, doces.

A comercialização, que estava restrita a Belo Horizonte, hoje rompe as fronteiras municipais. Ficam circunscritos nas proximidades apenas perecíveis, como pastel de angu e carne de lata com taioba. “Os não perecíveis a gente envia, sela a mula e bota a tropa na estrada para todo canto”, brinca Gontijo.

Ela conta que além do escoamento, ouviu de um agroextrativista da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, empecilhos à coleta na pandemia. “Seu Calixto, do [território quilombola] Kalunga, me contou que por terem ficado isolados passou da hora de coleta a baunilha, várias foram comidas pelos animais e eles perderam a safra.”

Para Gontijo há uma generalização do pequeno produtor. “Na minha concepção, são pessoas muitas vezes invisibilizadas, marginalizadas, massacradas pelo governo, pelo agronegócio, sem acesso à saúde pública e à educação.”

Ela se refere a eles como parceiros e não como fornecedores. “Não faço caridade, temos uma relação de troca. Sem eles, não tenho como cozinhar. Sobrevivi à pandemia também pelo vínculo que estabeleci com os pequenos.”

Gabriela Mattos, fundadora do Instituto Ibiá, cuja missão é fortalecer a agricultura familiar orgânica em território nacional, compartilha desse pensamento. Considera “pequenos produtores” uma desvalorização do trabalho. “A gente compreende a agroecologia como a produção familiar em pequenas porções de terra, com manejo ecológico, sem insumos químicos e com relações justas.”

Troca, comercialização e consumo próprio

O Instituto Ibiá, cujo nome se origina de “ibi”, que no tupi antigo significa chão que pisa, tem a perspectiva de dar autonomia ao produtor agroecológico, promover negócios sustentáveis e evitar a dependência de compras públicas, outra baixa na pandemia que os atingiu. Para reforçar o eixo da comercialização nacional, em maio será lançada a venda online da Estação São Paulo, um espaço na Vila Sônia, que atende atacado e varejo por meio da política de precificação transparente, à semelhança de institutos como o Chão, na Vila Madalena.

Está entre suas responsabilidades estimular a circulação de mercadoria entre as redes para que os próprios agricultores não tenham de recorrer ao mercado convencional para se alimentar. “A troca de produtos regionais entre os agricultores faz com que tenham diversidade para comercialização e para consumo próprio”, diz Mattos.

A troca também é um dos pilares do modelo que a fazenda Sta Julieta Bio, no interior de São Paulo, adota. Conduzida por Rafael Coimbra, que deixou a publicidade para se dedicar ao plantio e à comercialização de orgânicos, despertado pela busca por uma alimentação mais saudável para si próprio, segue um modelo de economia colaborativa.

Consumidores finais, chamados membros, se juntam para apoiar um produtor e pagam antecipadamente por uma cesta semanal, que respeita a sazonalidade. “Assim, consigo planejar a demanda e a produção e não tenho desperdício.”

Os chamados membros da Fazenda Sta Julieta Bio (SP) se juntam para apoiar um produtor e pagam antecipadamente por uma cesta semanal e variada, como a da foto
Os chamados membros da Fazenda Sta Julieta Bio (SP) se juntam para apoiar um produtor e pagam antecipadamente por uma cesta semanal e variada, como a da foto
Divulgação

A fazenda, que produz cerca de 130 itens, como grão-de-bico, feijão, batata-doce, folhas verdes, em Santa Cruz da Conceição, criou pontos de entrega nos quais os membros podem retirar seus produtos, trocar com os demais participantes e ter acesso aos gastos da produção. Uma rede que começou em 2017 com seis integrantes em uma cidade, hoje tem 240, em cinco cidades. As trocas, porém, estão suspensas na pandemia, pois pressupõem contato social, assim como as visitas à fazenda no início das estações, nas quais os membros se juntam em torno de um café da manhã organizado coletivamente e podem visitar a propriedade.

Se a Sta Julieta faz referência a história de uma família, o Instituto Ibiá, por meio de pesquisa e desenvolvimento de ferramentas, apoia 11 mil famílias, das quais os núcleos principais estão no sul da Bahia e na Chapada Diamantina. São cinco os eixos de atuação: comercialização, produção, beneficiamento, crédito e certificação. Ainda que comercialização seja um dos mais agudos gargalos desses produtores familiares é este último pilar, a certificação, que tem sido ponto de maior tensão e vulnerabilidade na pandemia.

O hábito de consumir orgânico é despertado pelo benefício individual de saúde mas, depois, o consumidor entende que é um benefício coletivo, para o ambiente e para a sociedade

“A certificação tem sido complicada porque é participativa, presencial, exige o coletivo”, diz Mattos. Mesmo obedecendo a todas as práticas orgânicas, portanto, agricultores em transição não tiveram seus processos concluídos e isso dificulta o acesso à venda. “O mercado consumidor ainda exige a certificação.”

Houve disparada de aproximadamente 30% no crescimento do consumo de orgânicos no Brasil no último ano, segundo levantamento da Organis, uma associação de promoção dos orgânicos, que faz mapeamento do mercado desde 2005.

“O crescimento, em si, não é uma grande surpresa, esse movimento vem desde 2003 no Brasil”, diz Cobi Cruz, diretor da associação. Ele associa o salto do consumo na crise ao fortalecimento de uma tendência. “O hábito de consumir orgânico geralmente é despertado pelo benefício individual de saúde mas, depois, o consumidor entende que é um benefício coletivo, para o ambiente e para a sociedade.”

Mais concentrado nas classes com maior poder aquisitivo, os orgânicos às vezes chegam às classes C e D. “Dependendo do lugar, existe uma democratização.” Ele cita a Fazenda da Mata, em Goiás, como exemplo. Trata-se de uma produção em larga escala que consegue proporcionar preços mais acessíveis.

Segundo Daniella Lunardelli, diretora de comunicação da fazenda, a Da Mata distribui para redes de supermercados de classes C e D em Goiânia e em Brasília, que recebem uma tabela de preço abaixo da regular e praticam valores para atender essas classes.

“Temos estrutura para absorver a produção de pequenos e médios agricultores orgânicos certificados que não têm volume para acessar grandes redes e não conseguem escoar seus insumos”, diz Daniella.

Hoje, a Da Mata produz 10 mil itens diferentes e, neste ano, deve alcançar os 14 mil se somadas as variedades de produtores vizinhos homologados a serem distribuídas pela fazenda. Está no horizonte dos Lunardelli lançar saladas prontas para outros Estados e produtos desidratados para exportação.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também enxerga na escala uma condição para que suas ações sejam bem-sucedidas. Impulsionado pela conquista da terra e pela rejeição ao modelo convencional do agronegócio, tornou-se o maior produtor de orgânicos do Brasil. Uma de suas buscas é disseminar a agroecologia como sistema de produção de alimento saudável, em cadeia que respeita produtor, ambiente e consumidor.

Maior produtor de orgânicos do país, o Movimento Sem Terra (MST) incrementou suas vendas durante a pandemia. Na foto, colheita de arroz orgânico no Rio Grande do Sul
Maior produtor de orgânicos do país, o Movimento Sem Terra (MST) incrementou suas vendas durante a pandemia. Na foto, colheita de arroz orgânico no Rio Grande do Sul
Foto: Reprodução site MST/Thiago Giannichini

“Quando veio a pandemia muito de nossos assentados, ribeirinhos e quilombolas recuaram, com medo. Mas, por incrível que pareça, não tivemos grandes dificuldades de escoamento porque a principal forma de comercialização, infelizmente, ainda é o atravessador”, diz Ademar Ludwig, 44, coordenador da rede de armazéns e desde os 14 anos integrante do MST.

Em março de 2020, quando o comércio fechou, todas as lojas do MST lançaram atendimento pelo WhatsApp. “O Armazém do Campo virou uma marca.” São seis lojas no Brasil e a meta é de pelo menos mais vinte nos próximos dois anos.

O lançamento do e-commerce foi antecipado também em função da pandemia. Em São Paulo, passou a operar em junho, e a loja virtual já faz entre 800 e mil entregas por mês. Idem para as cestas, lançadas no Natal. No total, a venda do MST foi incrementada no último ano.
“A gente não conseguia ter hortifruti em São Paulo regularmente. Antes correspondia a 20% dos nossos produtos e, hoje, quase 40%. O aumento da venda do ovo também foi impressionante“, afirma Ludwig.

A crise dos restaurantes e das feiras

No início da pandemia, a fazenda Sta Julieta Bio quase dobrou sua venda de cestas, mas sofreu impacto com o fechamento de restaurantes para os quais fornecia, como o Corrutela, por exemplo, que encerrou as atividades; e o D.O.M., o Komah e o Cepa, que reduziram ou suspenderam os pedidos — todos em São Paulo.

“Estamos fazendo outras adaptações ao nosso modelo na pandemia, como parcerias com produtores vizinhos.” Itens como ovos, cogumelos, café, pão e leite podem ser incorporados às cestas, sob demanda.

Agora, a preocupação de Rafael Coimbra está concentrada no inverno, época em que a produção incha. “Provavelmente vamos ter excedente”, diz.

A estação também preocupa Lucimar de Oliveira, agricultora familiar de Urubici, na serra de Santa Catarina. Ela tem um pequeno roçado, o Sítio Recanto do Velho Pai, cuja terra nunca foi vendida — sempre transmitida de pai para filho –, no qual produz e comercializa verduras orgânicas há 12 anos.

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Família de Lucimar de Oliveira, coletora de pinhão na serra de Santa Catarina
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Sede da Fazenda São José, com produção orgânica e agroecológica no interior de São Paulo, que pertence à mesma família desde 1915, quando ainda era produtora de café

A maior parte de sua produção era escoada para Florianópolis, mas estagnou com a pandemia. “Não tenho nem noção de quanto perdemos. Temos uma entrega de cestas, mas o município é muito pequeno. Ainda bem que temos para o nosso consumo. Imagina como eu estaria? Passando fome.”

Lucimar esperava que a coleta de pinhão, em plena safra, fosse uma possibilidade de incremento na renda, mas está contrariada pelo mercado. “A produção está alta e o preço está caindo muito”, diz ela, que neste ano teve de trazer um primo de fora para ajudar na coleta.
É preciso subir nas araucárias para fazer a coleta porque se esperar ou os macacos comem antes ou a pinha cai no chão e as vacas se empanturram. “O local onde a gente coleta é de difícil acesso. Tem que ir a cavalo ou a pé por uma boa distância. Não tem energia, a água precisa coletar numa fonte. Depois de coletarem por uma semana, passam um dia carregando os cavalos, que descem a serra com oito malas cheias.”

A feira ainda é um sistema importante de venda para a gente, mas há cinco anos correspondia a 95% das vendas e hoje corresponde a 40%. Com a pandemia, a gente resolveu investir em novos pontos

Em seguida, ainda há um trabalho fastidioso de debulhar, separar as pinhas e extrair o pinhão. “É muita mão de obra, e tem hora que dá um desânimo, mas fazer o quê? É uma semente que Deus nos dá de graça e só temos que coletar e tentar aproveitar”, lamenta Lucimar, que também integra o Slow Food.

Para Gabriel Corulli, que assumiu recentemente responsabilidades na produção de orgânicos na fazenda São José, no interior de São Paulo, há uma romantização desse contato com a natureza entre citadinos. “Tem o seu charme, mas é bem difícil. Aqui não tenho Sabesp, por exemplo. Se eu quiser água, tenho de entrar no brejo, ver o cano, ver a bomba. A gente entra em contato com a nossa vulnerabilidade como ser humano”, diz Corulli. “O nome é fazenda porque você nunca para de fazer coisas”, complementa, e ri.

Esse recorte de terra em Santo Antônio de Posse, que pertence à sua família materna desde 1915, hoje acolhe mais de dez familiares, e há anos passa por dificuldades financeiras, sofreu contratempos profundos, como a Crise de 29, que fez o preço do café desabar, sua principal atividade à época. “Na década de 80, os pés de café já estavam velhos e era caro replantar. Foi outro tombo.”

Rompeu-se, então, o ciclo do café e abriu-se espaço para uma produção agroecológica e orgânica, cujo escoamento estava restrito às feiras, das quais a família participa há 35 anos, até o início da pandemia.

“A feira ainda é um sistema importante de venda para a gente, mas há cinco anos correspondia a 95% das vendas e hoje corresponde a 40%. Com a pandemia, a gente resolveu investir em novos pontos, como os institutos Chão, Feira Livre e Baru. Também entramos recentemente na Raízs, a maior plataforma de venda online de orgânicos, e lançamos cestas.”

Produtos do projeto Embornal, que leva aos seus clientes a produção de agricultura familiar; cesta da fazenda Sta Julieta Bio, no interior de São Paulo
Produtos do projeto Embornal, que leva aos seus clientes a produção de agricultura familiar; cesta da fazenda Sta Julieta Bio, no interior de São Paulo
Divulgação

As entregas, realizadas uma vez por semana numa rotina que começa às duas da manhã, quando Corulli acorda para se deslocar até São Paulo, envolvem verduras, frutas e produtos como fubá peneirado à mão, feito a partir do grão íntegro do milho moído, ovos, doces e café.
A produção de queijos, iogurte, manteiga e requeijão orgânicos com receitas familiares é em uma escala enxuta, baseada em apenas 150 litros de leite ao dia — um concorrente das vizinhanças coleta 1.700 litros de leite ao dia.

Destaca-se entre os itens mais cobiçados, o requeijão, cremoso e encorpado. “Fazemos na panela e no braço. Tudo aqui é artesanal no úrtimo, como a gente fala.” Encomendas de cestas são feitas pelo Instagram (@fazsaojose), no qual Corulli também compartilha as histórias da fazenda e os detalhes de toda a produção.

Doações enfraquecem

Quando instaurou-se o isolamento social, as doações estimuladas e organizadas por instituições como o Orgânico Solidário, o MST e o Instituto Ibiá beneficiaram, a um só tempo, os pequenos agricultores, que puderam escoar suas safras, e a população em situação vulnerável, que teve acesso à marmitas e cestas básicas.

“No início, diversas esferas da sociedade apoiaram políticas de arrecadação preocupadas com pessoas em vulnerabilidade, mas isso se enfraqueceu”, diz Gabriela Mattos, do Ibiá, que promoveu o Rangô no ano passado.

Trata-se de uma iniciativa apoiada na união entre campo e cidade. O Ibiá arrecadou dinheiro, comprou dos agricultores e entregou os insumos em restaurantes, que prepararam marmitas orgânicas e distribuíram a comunidades em situação de rua.

Quando instaurou-se o isolamento social o MST distribuiu 10 mil cestas em São Paulo e, no Recife, o movimento está alcançando as 700 mil marmitas doadas
Quando instaurou-se o isolamento social o MST distribuiu 10 mil cestas em São Paulo e, no Recife, o movimento está alcançando as 700 mil marmitas doadas
Foto: Reprodução Instagram @movimentosemterra

Os Armazéns do Campo, do MST, foram incisivos na produção das marmitas solidárias e na entrega de cestas básicas. No ano passado, distribuiu 10 mil cestas em São Paulo e, no Recife o movimento está alcançando as 700 mil marmitas doadas.

“Já que o MST não estava em mobilização, em luta, estava produzindo com a missão de salvar o máximo de vidas possível, oferecendo comida saudável para quem estava na cidade”, diz Ademar Ludwig, 44, coordenador da rede de armazéns.

Cestas solidárias também ajudaram a acudir Lucimar de Oliveira, a produtora de verduras orgânicas e catadora de pinhão na serra de Santa Catarina. “O projeto ajudava o agricultor e quem precisava comer. A gente montava 60 cestas e a colônia daqui se encarregava de levar até uma universidade em Florianópolis, a menos de 200 quilômetros daqui.”
Ela teve de interromper o fornecimento por falta de produto. “É um ano atípico. Além da pandemia, o tempo está desregulado. A gente costuma produzir até maio e este ano, uma hora com muita chuva, outra hora com seca, a gente perdeu muita coisa.”

O Orgânico Solidário, plataforma sem fins lucrativos, há um ano recebe doações de empresas e pessoas físicas, montam cestas de frutas, legumes e verduras, com auxílio de uma rede de operadores orgânicos e entregam a organizações e projetos sociais que distribuem para famílias vulneráveis, gerando segurança alimentar e renda aos pequenos agricultores.

Essa ponte que estabeleceu entre pequenos produtores de orgânicos e comunidades carentes ajudou, entre outros, a escoar a produção da Fazenda Sta Julieta Bio. As doações, porém, retraíram. “Eu cheguei a vender 150 cestas em uma entrega só. Hoje, vendo cerca de 50 a cada 15 dias”, diz Rafael Coimbra.

Para Gabriela Mattos, o consumidor final tem de ter consciência de que é parte ativa dessa cadeia. “Existe um trabalho enorme acontecendo em todo país para que esses produtos da agricultura familiar orgânica existam”, diz Mattos. “O consumidor impacta diretamente na vida dessas pessoas. É por meio do consumo, aliás, que essas famílias podem se manter em suas terras, produzindo.”