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5 dicasComo fazer sua lista de resoluções de ano novo
Não é fácil olhar para si e se reconciliar com os próprios desejos e sonhos. Para evitar uma lista que seja mais motivo de frustração do que de realização, eis um esperto modo de fazê-la
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5 dicasComo fazer sua lista de resoluções de ano novo
Não é fácil olhar para si e se reconciliar com os próprios desejos e sonhos. Para evitar uma lista que seja mais motivo de frustração do que de realização, eis um esperto modo de fazê-la
Todo mês de dezembro é a mesma coisa: “Nesse próximo ano eu vou…” – e muitas vezes não vamos a lugar algum. Estudos mostram que 64% das pessoas abandonam a lista de resoluções logo no primeiro mês do ano, e 80% abrem mão desses desejos em fevereiro.
Há quem faça graça dessa desgraça, como a comediante norte-americana Robyn Schall, que ficou famosa nas redes depois de publicar um vídeo relembrando suas resoluções para 2020, pensadas antes de saber do caos que se aproximava. Entre os objetivos da lista de Schall estavam: ganhar mais dinheiro (ela perdeu o emprego em março), viajar e ser mais social (durante a quarentena? Acho que não) e passar mais tempo com a avó (que morreu no período da pandemia). Por isso, em 2021, ela baixou as expectativas e disse que vai “viver um dia de cada vez”. Importante lembrar que, nesse caso, o coronavírus foi uma exceção no fracasso da lista de resoluções da comediante.
Ganhar um aumento, perder peso, encontrar um hobby, aprender um novo idioma, passar mais tempo com a família são aquelas resoluções clássicas que aparecem nas listas de réveillon, mas que com pouca frequência se transformam em realidade no decorrer do ano. “São coisas que queremos, mas nem por isso são fáceis de conseguir”, afirma a doutora em psicologia social pela USP, Flavia Feitosa. “E na hora que encaramos a realidade, quando o ano começa, é aí que precisamos pensar onde vai caber tudo aquilo que nos comprometemos.”
Quando o ano começa precisamos pensar onde vai caber tudo aquilo que nos comprometemos
Traçar sonhos e objetivos para 2023 pode parecer uma tarefa até simples, mas não tem nada de insignificante: “Tem a ver com reconciliação, porque é uma pista das nossas verdadeiras prioridades, um entendimento do que fiz no ano anterior e do que quero fazer diferente agora, o que estou devendo para mim mesmo e o que vou me arrepender se não fizer”, explica Feitosa. “É um compromisso com competências que quero desenvolver e mudanças que quero fazer. Quando trago isso para a consciência, aumentamos a chance de nos comportarmos nessa direção.”
Para produzir sua lista de uma maneira esperta, Gama pediu dicas para especialistas e montou um modo de fazer que propõe uma autorreflexão – e também uma autoconciliação.
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Refresque a cabeça e escreva tudo que vier –
Pode ser logo após uma sessão de meditação, ouvindo seu álbum predileto ou mesmo com a ajuda de um grupo de amigos: o primeiro passo é jogar no papel tudo que vier à mente quando pensa no ano que está para chegar. Quem quero ser, o que quero conquistar, o que quero mudar, o que vou me arrepender se não fizer? Não se preocupe em transformar os pensamentos em frases bem elaboradas. Num primeiro momento, a ideia é simplesmente anotar palavras soltas, abstrações, idealizações, pensamentos, sonhos e vontades para os próximos 12 meses. “Pode ser por meio de uma conversa de fim de ano entre amigos e familiares, um brainstorm conjunto”, exemplifica Liane Dahás, que é psicóloga clínica, doutora e mestra em teoria e pesquisa do comportamento. “O que cada um vai se propor para melhorar enquanto pessoa? Todo mundo responde e pensa junto. Isso pode ser um bom exercício para entender o que e onde quero melhorar.” Ela aponta que um jeito de estimular a reflexão é focar nos cuidados que deixamos de ter no ano que passou, e começar dali a estabelecer os setores que precisam de mais atenção. Já Flavia Feitosa fala da importância da cabeça fresca e de estar em um ambiente tranquilo e “favorável à chuva de pensamentos”. “Só então se pergunte: quais são as palavras que aparecem na minha frente quando penso em 2023? Aí escreve sem filtro, para darmos uma chance para essa sabedoria interna, que reconhece o que está mais urgente dentro da gente. Depois, analisa o que está no papel e agrupa em blocos: saúde, estudos, amor, profissão, maternidade, etc.” -
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Descreva os desejos tim-tim por tim-tim –
Uma vez que o mapa de resoluções está feito, ainda que um tanto bagunçado, chega o momento de passá-lo a limpo. Nesta segunda etapa, especifique os objetivos que busca alcançar: se quer perder peso, quais os caminhos para chegar no número desejado na balança? Pode ser com mais exercícios, mudança na alimentação ou mesmo com ajuda de um profissional. Se é um aumento, o que falta para conseguí-lo? Talvez uma conversa com seu superior ou mesmo com o RH, e se for trabalhador autônomo, pode tentar cultivar novos contatos. Dahás diz que cada um vai descobrir quais são os pequenos comportamentos que funcionam para si e, assim, o que era um sonho inatingível se torna uma vontade palpável, com um passo a passo possível para chegar ao fim que desejamos. “É importante definir metas claras e adotar estratégias. Quando trazemos o detalhe daquilo que desejamos, fica mais fácil entender o tamanho do esforço, o que exatamente podemos fazer para chegar lá”, complementa Feitosa. -
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Lembre-se de ser realista –
A falta desta dose de realismo pode te cobrar lá na frente, com bastante frustração por não ter ticado a extensa lista de sonhos impossíveis que você se propôs. “Aquilo fica vagando na mente e algum dia vai te cobrar, porque tudo que está na lista são desejos e vontades reais.” É menos sobre ser realista, e mais sobre ser honesto com seu momento de vida, suas capacidades e possibilidades. Isso não significa que não podemos nos desafiar a dar grandes passos em direção ao que queremos, mas tentar subir esse degrau muito rapidamente pode te deixar frustrado, caso falhe. Um bom termômetro é seguir a técnica SMART (em inglês, inteligente ou esperto): na silga, o S é para listarmos metas específicas; o M, para mensurarmos essas metas; e o A, para “achievable”, ou seja, é preciso que sejam objetivos possíveis e que façam sentido serem alcançados. Então, por exemplo: se você tem 30 anos e quer, para 2023, começar a juntar dinheiro para se aposentar em menos de 5 anos – esta não é uma resolução exatamente realista. Mas economizar cem reais a mais por mês pode ser que seja. Por isso, na hora de definir seus objetivos para o ano que vem, pondere o que faz sentido e é exequível. Este guia do jornal The New York Times destrincha esta técnica e dá outras dicas para produzir uma lista condizente com cada realidade. -
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Não esqueça que o ano tem 12 meses –
Dizer o óbvio também é importante. Por serem objetivos de longo prazo, a ansiedade pode atacar e querer resolver tudo que nos propusemos da noite para o dia. E claro que, na hora em que isso não se concretiza, desistimos. Além da paciência, uma das sugestões das especialistas é registrar os desejos em um lugar em que possa ser revisitado com frequência, seja uma agenda física, um documento no computador, ou até mesmo um mural na parede do quarto. “Muita gente só para e relembra o que tinha se prometido no final do outro ano, e esquece que temos 12 meses para olhar com cuidado para essas resoluções”, afirma Liane Dahás. Uma maneira, inclusive, de facilitar a visualização das metas a serem cumpridas é dividí-las por mês. Em janeiro, buscar um curso de mestrado. Em fevereiro, encontrar uma academia para se inscrever. Em março, organizar as finanças, e assim por diante. Outro ponto importante é não apenas escrever as resoluções (uma condição que diminui a chance de abandono da lista, segundo Flavia Feitosa), como escrevê-las no positivo. Em vez de “não vou acordar tarde”, prefira “vou acordar mais cedo”. “Não queremos lembrar que somos trastes e que não fazemos nada do que nos comprometemos. A ideia é nutrir um outro tipo de comportamento, mais condizente com quem queremos nos tornar”, explica Feitosa. -
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Alimente os hábitos necessários, mas abra mão do que não fizer sentido –
Hábitos são tudo na vida: eles regem quase metade das nossas atitudes diárias. Mas na mesma potência da importância, está o nível de dificuldade em alterarmos esses hábitos, já que eles são geralmente ativados como resposta a sinais sociais ou ambientais. Um texto escrito por dois professores, publicado no The Conversation, foi traduzido pelo Nexo e traz uma seleção de regras da psicologia para manter as resoluções de Ano Novo mesmo depois da emoção e motivação intensa da virada. Entre as normas, estão o cuidado com a rotina – é ela que pode introduzir novos hábitos, por forçarem o sujeito a se adaptar a novas circunstâncias. Outra é o monitoramento dos comportamentos. Uma tática aqui, para automatizar novos hábitos, é trocar x por y, pensando no que quero mudar. Exemplo: “se estou com vontade de comer chocolate, então bebo um copo de água, dou uma caminhada ou até como uma fruta no lugar”. Por fim, também é importante imaginar-se no futuro, tentar deixar de lado as recompensas imediatas e focar nas que podem vir mais a longo prazo. E Flavia Feitosa relembra: “Não tem problema se você, ao revisitar a lista durante o ano, descobrir que alguma das resoluções não te satisfaz mais. Faz parte descobrir que algo não tem mais a ver com você”. Ela diz que a lista de resoluções não deve ser mais uma dor de cabeça, e sim um guia, uma pista para entender nossas prioridades, sonhos e objetivos, e aproveitar momentos como o réveillon pode ser favorável: “Esses ritos de passagem, virada do ano, aniversário, formatura representam uma reconexão com nossos desejos, com o que queremos melhorar e nos dedicar”, finaliza.
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CAPA É tempo de reconciliação?
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