Podcasts, livros e conteúdos sobre alimentação e mudanças climáticas

As plantações têm mudado de período de produção, rendendo menos e exigido mais aparatos tecnológicos devido às extremas ondas de calor e seca, assim como chuvas fortes fora de época. A infeliz expectativa dos especialistas é que a escassez se torne cada vez mais presente e os pesquisadores tenham que modificar geneticamente os grãos para que se tornem mais resistentes às mudanças climáticas. É o que conta a revista Wired em um panorama global publicado na reportagem “The foods the world will lose to climate change” (os alimentos que o mundo perderá devido às mudanças climáticas, em tradução livre).

A América Latina não escapa dos perigos de escassez de produtos em decorrência das mudanças climáticas. A exemplo disso, o café arábica, o mais comum da indústria cafeeira, que exige temperaturas mais amenas, tem sofrido gravemente. Em alternativa, entra em cena o café robusta, com produção por indígenas amazônicos, como que mostra a reportagem “O café multipremiado que vem da Amazônia”, da Gama.

O podcast Vai Se Food, da jornalista e pesquisadora Ailin Aleixo, debate a gastronomia em diferentes âmbitos com consciência socioambiental e política. Encerrado em 2023, o programa convida especialistas para conversas sobre preservação dos biomas, hábitos alimentares, cadeia de produção de alimentos, desmatamento do cerrado e outros temas importantes. No total, são 144 episódios que duram em média 1h.

As consequências das chuvas devastadoras que aconteceram no Rio Grande do Sul durante o primeiro semestre de 2024 foi tema do podcast Café da Manhã. O episódio analisou os impactos no agronegócio, na economia — estima-se que os prejuízos chegaram a R$ 1,3 bilhão —, e como as políticas de afrouxamento em proteção ambiental no estado se conectam ao desastre. O programa conta com a entrevista de Mauro Zafalon, autor da coluna Vaivém das Commodities, da Folha de S. Paulo.

“Nós Somos O Clima” (Rocco, 2020), do escritor estadunidense Jonathan Safran Foer, mostra, a partir de anedotas, que precisamos agir se queremos salvar a vida humana do colapso climático no planeta. O também autor de “Comer Animais” (2009, Rocco sugere quatro principais mudanças na sociedade inseridas nas histórias narradas. São elas: ter menos filhos, andar menos de carro e de avião e consumir menos produtos vindos da agricultura animal.

Flexitariano, reducetariano, climatariano, sustentariano, vegavore ou carnesparsiano. Cada vez mais pessoas assumem diferentes formas de se alimentar em uma tentativa individual de conservar o planeta. No episódio “A linguagem política da comida”, do podcast Panela de Pressão, a nutricionista e apresentadora Elaine de Azevedo explica essas nomenclaturas e também como a indústria se aproveita de palavras vagas para mascarar a falta de qualidade dos produtos, e vender para públicos despreparados.

O podcast Prato Cheio, produzido pelo Joio e o Trigo, aborda temas como sistema econômico, alimentação, agronegócio e a exploração do planeta. No episódio “Agroecologia não é mercadoria”, são discutidos a falta de comida para quem faz parte da cadeia de produção, o surgimento da nova política da agroecologia e o direito ao alimento para quem produz. O programa entrevista especialistas e pessoas que buscam viver de maneira mais sustentável.

O chocolate já faz parte do cotidiano de muitos, mas as constantes mudanças climáticas têm dificultado a manutenção dessa rotina, afetando a produção de cacau. O grão, que abastece grande parte da indústria, é cultivado principalmente em Gana e na Costa do Marfim, países que há anos enfrentam dificuldades para desenvolver geneticamente a planta e aumentar sua resistência. A matéria “Preço do cacau triplica e já ameaça produção de chocolates artesanais”, da Folha de S. Paulo, destaca outro motivo para essa crise: o cacau commodity passou a ser especulado na bolsa de valores de Londres e Nova Iorque.

Publicado originalmente pelo The New York Times e traduzido pela Folha de S. Paulo, a reportagem “O amor dos americanos por abacate está acabando com as florestas do México” denuncia o desmatamento das florestas na região oeste do México para dar espaço às lavouras de abacate. O consumo da fruta cresceu cerca de três vezes comparado as últimas duas décadas, o que chamou a atenção de gangues que têm financiado o desmatamento, visando se aproveitar do novo negócio lucrativo. Além disso, para uma boa produção de abacates, é necessário alta drenagem de água, o que tem reduzido o volume dos aquíferos mexicanos.

Simulando uma constituição em que cada capítulo é um artigo de lei, “Nação Das Plantas” (Ubu Editora, 2024), do botânico italiano Stefano Mancuso, convida a entendermos as plantas como uma comunidade que deve estar integrada aos humanos — pela nossa própria sobrevivência. A escrita mistura a ficção de uma sociedade de plantas com pesquisa e dados reais sobre como elas se tornam cada vez mais escassas, gerando menos comida e oxigênio para a Terra.