Você fica diferente quando pensa em sexo — Gama Revista

Relações

Você fica diferente quando pensa em sexo

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O que acontece nas relações do dia a dia, no trabalho criativo e analítico, quando estamos com a libido em alta 

Laura Capelhuchnik 29 de Março de 2020

Se você está pensando em sexo, mesmo que não se dê conta, a chance de mudar de opinião, aceitar algo em que não acredita ou simplesmente mentir aumenta. Porque o comportamento de alguém com a libido à flor da pele sofre adaptações para que pareça mais interessante aos outros, como mostra uma pesquisa de 2019 feita pela Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, e pelo Centro Interdisciplinar Herzliya, em Israel.

Os pesquisadores separaram homens e mulheres heterossexuais de 21 a 32 anos em dois grupos. O primeiro foi exposto a uma espécie de condicionamento sexual, com imagens de conteúdo erótico de modo subliminar. Já o segundo recebeu apenas imagens neutras, nada sexuais. Os estímulos propostos pelo estudo não estavam ligados à provocação de excitação física, mas a “levar as pessoas a pensar sobre as coisas de maneira sexual”.

Ficamos mais propensos a mentir quando queremos despertar admiração e interesse em quem nos atrai

Os pesquisadores então colocaram os participantes para discutir, em duplas, o dilema profissional de um personagem hipotético. Cada um foi orientado a defender uma posição oposta à da pessoa com quem discutia. Concluiu-se que os membros do grupo que recebeu condicionamento sexual eram bem mais propensos a, no fim do debate, concordar com a opinião do “oponente” do sexo oposto. O que, para os pesquisadores, mostra que moldamos o modo de agir para causar boa impressão e aumentar a chance de ficarmos próximos de quem nos atrai. Mesmo que isso implique proceder de forma eticamente duvidosa.

Em outro experimento, os participantes que passaram pelo estímulo sexual tendiam a contar que tiveram menos parceiros sexuais. Para os cientistas, isso possivelmente se dá por acreditarmos que parecer menos promíscuos, e mais seletivos, nos traz mais chances em um flerte. Ou seja, diante de estímulos que ativam partes do nosso cérebro ligadas à sexualidade, ficamos mais propensos a mentir quando queremos despertar admiração e interesse em quem nos atrai.

Libido aguça a lógica, amor expande a criatividade

Além de nos desviar da honestidade, o pensamento libidinoso altera nosso raciocínio lógico e a atenção aos detalhes – só que para melhor. Um outro experimento, este da Universidade de Amsterdã (com homens e mulheres), mostrou que, ao resolver problemas de lógica e matemática, participantes com sexo em mente tiveram melhor desempenho.

Segundo os pesquisadores, o impulso sexual faz com que regiões do cérebro que aguçam nossa percepção sejam ativadas. O que teria a ver com uma habilidade necessária à reprodução: prestar atenção nas pessoas (para achá-las atraentes) e identificar os sinais sexuais em uma interação.

Já o amor, na contramão do pragmatismo que o sexo oferece, tende a reduzir nosso controle cognitivo. Em comparação com a performance inspirada por pensamentos neutros ou exclusivamente sexuais, a paixão está associada à redução da capacidade de concentração e à piora do desempenho em tarefas que demandam pensamento analítico mais elaborado.

Mas nem tudo está perdido para os apaixonados: pensar no amor e nas suas narrativas (um encontro romântico, um passeio de mãos dadas com seu parceiro) ajuda a trabalhar outras regiões do cérebro, ligadas à criatividade e a uma visão mais geral das figuras.

É o que mostra um experimento feito por pesquisadores da Holanda e da Alemanha. Eles convocaram 30 voluntários para imaginar uma longa caminhada ao lado de quem amavam e outros 30 para pensar em sexo casual com alguém com quem não estivessem envolvidos. Depois, todos fizeram um teste com questões criativas e analíticas.

Os voluntários do primeiro grupo, com imagens românticas em mente, tiveram desempenho melhor em situações que demandavam criatividade; já os do segundo, os que tinham sexo puro e simples na cabeça, se deram melhor quando o que se pedia era análise. Em resumo: os apaixonados são mais criativos e os libidinosos mais analíticos – mais um clichê com embasamento científico.

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