Sabe qual o novo jeito de falar sobre sexo? — Gama Revista
Mulher deitada em uma pedra com mamilo tampado por figurinha Free
Reprodução Instagram/@rqlmnz

Sabe qual o novo jeito de falar sobre sexo?

Nas redes, perfis liderados por mulheres falam abertamente e de forma divertida sobre sexo, masturbação e erotismo. Além de venderem acessórios selecionados para o prazer feminino

Manuela Stelzer 03 de Março de 2022

No cinema, na literatura, na mesa do bar e na internet – muitos são os espaços que se abriram para um papo mais sincero e diverso sobre sexualidade. Antes dominado por pornografia e desinformação, o universo online também foi um dos principais palcos de preconceito quando o assunto era sexo. Mas hoje há mais do que isso: nas redes sociais, sobram perfis liderados por mulheres que falam abertamente e de forma real sobre masturbação, prazer e erotismo.

A censura do algoritmo nas redes, que veta mamilos femininos, foi uma questão para essas contas — e muitos outras. Foi o caso da foto que ilustra essa reportagem, em que a artista precisou posicionar um emoji estrategicamente na imagem para evitar que ela fosse banida da plataforma. A jogada, no caso das marcas que se propuseram a falar abertamente sobre sexualidade, foi buscar abordagens diversas. Por isso, há tanto os perfis que falam de sexo de maneira inusitada, usando e abusando da artimanha dos memes, como aqueles que escolheram um caminho mais místico, e relacionam prazer sexual, astrologia e espiritualidade.

Seja qual for a estratégia escolhida para engajar o público, a finalidade é sempre a mesma: democratizar o acesso à informação, desmistificar tabus e transformar sexo em sinônimo de prazer. E de quebra, aproveitar o boom do mercado sexual e da masturbação para vender alguns produtos eróticos que prometem magias entre quatro paredes. A seguir, Gama lista cinco desses perfis que são também marcas de vibradores, lubrificantes, brinquedos e outros acessórios quentes.

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    Reprodução Instagram/@pantynova

    Memes e mais memes

    Panty Nova

    A designer de moda Izabela Starling e a artista plástica Heloisa Etelvina foram um casal e consumidoras de sex shops, mas se sentiam constantemente intimidades nesses espaços por flertarem com a pornografia. Sentiam falta de produtos confortáveis, inicialmente para os corpos femininos, que foi o público alvo do site no início, e hoje já se expandiu. “Temos dildos e strapons patenteados, além de vibradores testados e aprovados por nós mesmas”, contam as fundadoras. “Sentimos a necessidade de abrir a Panty Nova por faltarem opções que dialogassem com público feminino de forma natural e sem tabus.”

    Definida como uma sextech, que desenvolve produtos e conteúdo sobre sexualidade, a Panty Nova chama atenção de seus seguidores pelas cores e humor vibrantes. “Sempre achamos que o humor é uma ótima maneira de tornar temas difíceis mais fáceis. Acreditamos muito na força dos memes e dos conteúdos compartilháveis como agentes de mudança e conversas.” Hoje com mais de 250 mil seguidores no Instagram, elas compartilham dicas para masturbação dependendo do período menstrual, incentivam, além da linguagem inclusiva, uma transa igualmente diversa e divertida, e claro, nunca deixam os memes de lado.

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    Reprodução Instagram/@__venusemleao

    K-pop, tarot e safadeza

    Vênus em Leão

    “Na minha visão, espiritualidade e sexualidade não se separam”, conta a designer gráfica Marina Thobias. “A Vênus em Leão, fundada há dois anos, é muito atrelada a minha própria jornada de autoconhecimento.” Depois de um relacionamento abusivo, um tempo sozinha viajando pelo mundo, e a percepção de que as amigas não tinham a prática da masturbação recorrente, decidiu que precisava fazer algo.

    Na época, Thobias já lia tarot para conhecidos e resolveu unir os dois universos. “Querendo ou não, o tarot e também a astrologia geram uma identificação muito grande. Pode ser uma das ferramentas de autoconhecimento.” A estética fofa, recheada de k-pop e animes é tanto uma tentativa de driblar a censura do algoritmo do Instagram, quanto de aproximar a geração Z da temática. Toda a estratégia de comunicação do perfil mira no diálogo mais aberto e real sobre sexualidade, seja pelo tarot ou pelo k-pop. “Quanto mais falamos disso de uma forma que normatiza e até democratiza as informações, mais as pessoas entendem como normal, como um assunto tranquilo de ser falado”, finaliza Thobias.

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    Reprodução Instagram/@lojaclimax

    Sexo é poder

    Climaxxx

    Nascida em 2016 pelas mãos da designer e produtora Larissa Ely, a Climaxxx ganhou corpo a partir da leitura de um título homônimo, escrito por Chuck Palahniuk, autor do “Clube da Luta” (W. W. Norton, 1996). “No livro, o CEO de uma empresa gigante queria dominar os corpos das mulheres colocando microchips nos vibradores”, explica Ely, que percebeu na leitura o poder da sexualidade e do empoderamento. “Nosso primeiro slogan era, inclusive, o empoderamento por meio do orgasmo.”

    Ao lado da jornalista Clariana Leal e da atriz Marcela Abul, o grupo pensou em uma comunicação bastante artística para o perfil. “Temos uma conexão forte com as artes visuais porque sempre tivemos o entendimento que a construção do erotismo é muito artística, parte do subjetivo, e esse subjetivo é facilmente tocado com arte.” Segundo ela, em um contexto que trazia números absurdos de feminicídio, anosgarmia [incapacidade de chegar ao orgasmo], melhor qualidade do sexo para lésbicas do que mulheres hétero, “era muito necessário que surgisse uma empresa com essa abordagem”.

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    Reprodução Instagram/@somoslilit

    Liberdade pra gozar

    Lilit

    A publicitária Marília Ponte, fundadora da Lilit, sempre se interessou pelo tema da sexualidade. Mas também se frustou muito, principalmente ao descobrir a carência de informações e ao perceber quão pouco sabia sobre o próprio corpo e prazer: “A marca nasceu quando entendi que não eram dores só minhas. Mulheres à minha volta, da minha chefe no trabalho que tinha MBA em Harvard, a faxineira da minha mãe que estava terminando o curso de alfabetização, nenhuma delas sabia o que era o clitóris”.

    Logo no início, foi feita uma pesquisa com algumas mulheres para desenvolvimento de um vibrador. O processo mostrou que a parte mais importante da Lilit não era palpável. “Tem como você usar um vibrador e continuar num relacionamento abusivo, ou não conseguir olhar a própria vulva no espelho”, explica Ponte. “Somos uma empresa mais de educação do que de venda de produtos eróticos.” Ela conta sobre o mito de Lilith, que originou o nome da empresa, uma mulher que buscava liberdade e prazer, e a escolha das cores maduras para a identidade visual do perfil. “Queremos tirar essa conversa do lugar do segredo. Temos casos de clientes que compraram o vibrador, amaram e voltaram para comprar para a própria mãe. Se não fosse uma marca que naturaliza o prazer como um lugar de liberdade, potência, autonomia, não conseguiríamos acessar as pessoas dessa forma.”

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    Reprodução Instagram/@prazerobvious

    Pelo bem-estar delas

    Prazer, Obvious

    A agência Obvious, quase um oásis da felicidade feminina, já é gigante nas redes sociais. E o próximo passo da CEO e fundadora Marcela Ceribelli é em direção à sexualidade. “Quando olhamos para a próxima área que deveríamos tratar da vida das mulheres, o prazer foi o mais óbvio.” De primeira mão a Gama, ela conta que a Prazer, Obvious, ainda em construção mas já com alguns posts publicados no perfil do Instagram, será mais do que um perfil: “Teremos uma loja, em que vamos trazer itens para transformar a casa das mulheres num santuário de bem-estar, e que coloquem o prazer como prioridade”.

    No universo online, a iniciativa pretende “tratar com muita simplicidade aquilo que as pessoas veem como tabu”. Ceribelli explica que quis seguir a estética dos outros perfis da Obvious e desvincular a sexualidade da perspectiva masculina, trazê-la para mais perto do imaginário das mulheres. “O refinamento visual tem a ver com naturalizar o papo sobre sexo. A ideia é fugir do lugar de ser só educativo, e também trazer entretenimento, risadas.”

    Aos 31 anos, ela diz que sua geração foi muito educada por filmes como “American Pie” (1999), totalmente centralizado no prazer masculino. “Os meninos puderam dar risada do fato de se masturbarem. Agora trazemos elas parar rirem e gostarem da própria masturbação.”

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