O lado ruim do apoio incondicional — Gama Revista

Relações

O lado negativo de um relacionamento empático

© Eberhard Grossgasteiger (Unsplash)

Ter um parceiro cheio de empatia nem sempre é bom – especialmente em conflitos com  pessoas fora do relacionamento

Edward Lemay e Michele Gelfand* 23 de Julho de 2020

Imagine que você teve uma discussão acalorada com um colega de trabalho e liga para seu parceiro amoroso para falar sobre a situação. Ele pode reagir de duas maneiras: garantir que você estava certo e seu colega, errado, e que você tem o direito de ficar chateado; ou pode te encorajar a olhar para o conflito de maneira objetiva, citando as razões pelas quais a pessoa com quem você brigou talvez não seja tão condenável assim no final das contas.

Qual dessas respostas é preferível? Você deseja um parceiro que te apoie incondicionalmente ou alguém que faça o papel de advogado do diabo? Qual alternativa é melhor para você a longo prazo?

Em um estudo recente, nós exploramos os contornos e a repercussão desse tipo de dinâmica de relacionamento, que é tão comum.

Nós queremos apoio incondicional?

Se você for como a maioria das pessoas, provavelmente quer um parceiro que te dê cobertura. Todos nós tendemos a querer pares empáticos, que nos entendam, se importem com nossas necessidades e validem nossas posições.

Essas qualidades — chamadas de responsividade interpessoal por pesquisadores de relacionamento — são vistas como um ingrediente-chave em relações estáveis. A pesquisa identifica a relação entre ter um parceiro responsivo e ser feliz e bem ajustado.

Mas ter um amor empático nem sempre é bom — especialmente em conflitos com pessoas de fora da rede do relacionamento.

Quando entramos em uma discussão com alguém, a tendência é minimizar nossa própria contribuição para o conflito e superestimar o erro do adversário, o que pode tornar a briga pior.

Depois de nos envolvermos em uma disputa, geralmente procuramos nossas caras-metades para desabafar e procurar apoio. E na pesquisa descobrimos que parceiros empáticos e cuidadosos tinham uma tendência maior a concordar com as visões negativas de seus amados sobre os adversários e a culpar o outro lado pelo conflito.

Também descobrimos que pessoas cujos pares responderam dessa maneira acabaram se sentindo muito mais motivados a evitar seus adversários, a vê-los como pessoas más e imorais, e a ter menos interesse na reconciliação.

Na verdade, 56% daqueles que receberam esse tipo de empatia reportaram que evitaram seus adversários, o que pode prejudicar a resolução de conflitos, e geralmente envolve interromper o relacionamento.

Por outro lado, entre os participantes que não recebem apoio de seus parceiros, apenas 19% disseram evitar seus adversários.

Receber empatia de quem amamos também está relacionado à escalada do conflito: depois dos parceiros tomarem seu lado, 20% dos participantes disseram querer ver seus adversários “magoados e miseráveis”, em comparação com apenas 6% daqueles que não recebem esse tipo de suporte. E 41% dos que recebem respostas empáticas tentaram viver como se seus oponentes não existissem, em comparação com apenas 15% daqueles que não recebem apoio inabalável.

Consequências a longo prazo

Essas dinâmicas se tornaram enraizadas ao longo do tempo. Elas impediram as pessoas de resolver suas disputas, mesmo quando achavam que as respostas de seus pares eram emocionalmente gratificantes. Por essa razão, continuavam a desabafar, o que criou mais oportunidades para acender as chamas do conflito. As pessoas pareciam procurar relacionamentos românticos que terminavam por deixar seus conflitos ainda piores ao longo do tempo.

Qual é a lição?

Nós frequentemente queremos alguém que nos compreenda, seja cuidadoso e valide nossas opiniões. E é natural querer que nossos amados se sintam apoiados.

Mas reações tranquilizadoras ou de validação não estão sempre entre os nossos melhores interesses no longo prazo. Assim, priorizar uma gratificação emocional imediata em vez de buscar objetivos de longo prazo pode ser custoso. Existem desvantagens quando os parceiros querem nos fazer sentir bem no momento, em vez de nos ajudar a enfrentar apropriadamente os problemas difíceis de uma maneira racional e imparcial.

Aqueles que querem apoiar o bem-estar de seus amados no longo prazo provavelmente vão considerar primeiro ser compreensivos e proporcionar uma oportunidade para o desabafo e, então, pular para a parte mais difícil do trabalho, que é ajudar a pensar objetivamente sobre os conflitos, reconhecer que, na maioria deles, as duas partes têm alguma responsabilidade e que, na verdade, apenas veem a situação de perspectivas muito diferentes.

A verdade pode machucar. Mas, às vezes, um confidente objetivo e desapaixonado é o que mais precisamos.

*Publicado originalmente em The Conversation, em inglês. Tradução: Laura Capelhuchnik

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