Dez livros sobre o amor para você presentear o seu
A seleção inclui clássicos da ficção realista, romances recentes, coleções de cartas e até uma antologia de anedotas em tempos de amor digital e à distância
Não é preciso sucumbir ao capitalismo que alimenta o 12 de junho para querer presentear seu amor. Um livro que o faça pensar no amor — tem coisa mais oportuna? — pode ser singelo e contundente ao mesmo tempo. Por isso, Gama fez uma seleção de obras literárias para se amar lendo. De clássicos da ficção realista repletos de tragédia e paixões proibidas, a romances recentes, coleções de cartas de amor e até uma antologia de anedotas contemporâneas em tempos de amor digital e à distância — tem de tudo nessa lista. É boa pedida para o dia dos namorados. Mesmo para quem não tem um: amar é verbo intransitivo.
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1
Cartas extraordinárias: amor
Shaun Usher (Org.). Companhia das Letras, 2020
O que um escritor como Machado de Assis diria sobre o amor na intimidade de uma carta? Ou um político ativista como Nelson Mandela? Ou ainda a pensadora feminista Simone de Beauvoir ou o compositor Ludwig van Beethoven? A correspondência amorosa é uma espécie de leitmotiv da literatura, tema recorrente e fundador dos gêneros literários românticos. Então era mais do que natural que o escritor Shaun Usher, obcecado pela arte da missiva e autor do famoso blog Letters of Note, se dedicasse ao assunto. O blog originou o livro “Cartas extraordinárias”, de 2014 e outros volumes temáticos de missivas. Neste volume, as 30 cartas escolhidas por Usher, algumas tomadas pela raiva e pelo desgosto, outras cheias de ternura e felicidade por um amor correspondido, dão conta de reconstituir um panorama sobre as formas de demonstrar o amor por escrito.
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2
Modern Love, Revised and Updated: True Stories of Love, Loss, and Redemption
Daniel Jones (Org.). Broadway Books, 2019
O subtítulo diz tudo: essas são histórias de amor, de perda e de redenção. Da jovem que descreve os cinco estágios do luto após receber um “ghosting” à viúva que titubeia antes de apresentar aos filhos seu grande amor, dessa vez uma namorada; da advogada bipolar com seus altos e baixos amorosos ao homem cujo caso tórrido termina na emergência do hospital: todos têm em comum a vontade interminável de amar — e o fato de terem sua vida narrada na famigerada “Modern Love”. Criada em 2004 e sucesso indiscutível até hoje, a coluna do New York Times tem servido como um cardápio das infindáveis possibilidades dos relacionamentos atuais. Há amores que duram décadas, ou que se desfazem em dias, virando fantasmas ou (doces ou amargas) memórias. Há amores não correspondidos, fruto de “stalkeamento” nas redes, ou mesmo à distância. Mas há, sempre, amor. O que permite a essa pequena coletânea traduzir boa parte da complexidade de relacionamentos em tempos atuais. Apenas em inglês.
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3
Me Encontre
André Aciman. Intrínseca, 2019
Para quem ficou apaixonado pelo amor pungente e proibido de Oliver, o pós-doutorando bonitão, e Elio, o adolescente delicado, personagens do filme Me chame pelo seu nome, o autor André Aciman oferece a sequência. Aqui, as duas vidas que se cruzaram na casa de verão do pai do menino e então se separaram em destinos distintos voltam a se cruzar. Oliver agora é casado, pai de família e professor na Nova Inglaterra, nos Estados Unidos e cogita cruzar mais uma vez o Atlântico; Elio é um pianista renomado em Roma, prestes a receber a visita do pai. O acaso dará conta do resto. O livro segue a mesma toada de encontros e desencontros do primeiro. Será que a força daquela paixão de verão se converteu num amor maior que as proibições, os acasos e o tempo?
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4
De amor tenho vivido
Hilda Hilst, Companhia das Letras, 2018
“Nós, poetas e amantes o que sabemos do amor?”, pergunta Hilda Hilst no verso de um dos 50 poemas da coletânea. “Somos humanos e frágeis mas antes de tudo, sós”, ela responde no mesmo poema. Mais conhecida por sua prosa escandalosa, como “O Caderno Rosa de Lory Lamby” e “A Obscena Senhora D”, e por uma poesia rascante, que fala de amor como fala de morte — como o maravilhoso “Da Morte. Odes mínimas” –, HIlda não seria um nome óbvio para pensar o amor romântico. Mas ela é autora de “Do Amor”, e ele está semeado por toda sua obra. Aqui, o amor de Hilda está reunido em poemas curtos, muitos deles simples, cristalinos, que parecem ter saído de uma mente apaixonada. Afinal: “E o mais certo é sorrir/ Quando se tem amor /Dentro do peito.”
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5
A Espuma dos Dias
Boris Vian. Cosac Naify, 2013
A maioria conhece a história da obra-prima de Boris Vian a partir das telas do cinema — pelo filme homônimo (e esteticamente desafiador) de Michel Gondry. Mas a poética onírica e surreal da história advém do próprio romance. Imersa em referências ao jazz e ao existencialismo sartriano que florescia na Paris dos anos 1950, “A Espuma dos Dias” conta o amor do excêntrico milionário Colin pela bela Chloé. Ele gasta sua fortuna em flores para animar sua amada a lutar contra a flor que cresce em seu pulmão e ameaça matá-la. Conforme o mal avança no peito da moça, o universo da história se dobra à sua melancolia, tingindo de um tom fúnebre o que antes florescia colorido e belo. Há ainda outros amores não menos malucos. E muitas são as passagens que insuflam no leitor imagem poéticas e surreais — que dão conta, a seu modo, de representar o absurdo que é amar alguém.
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6
O Amante
Marguerite Duras, Tusquets, 2020
Considerado o livro mais abertamente autobiográfico da escritora francesa, “O Amante” conta a (tórrida e detalhada) história de amor de uma jovem de 15 anos com um negociante milionário chinês 12 anos mais velho. O romance se passa na Indochina (atual Vietnã) da juventude da autora, mas não se resume a uma simples história de amor proibido. Duras explora as contradições do colonialismo francês na Ásia, as tensões raciais, o erotismo que emerge dos tabus da época. Tampouco se resume a uma autobiografia: o leitor ficará para sempre imerso na dúvida que mal separa ficção e realidade. Escrito em 1984, o livro recebeu o Prêmio Goncourt, o principal da literatura francesa e consagrou de vez a escritora. Curto e rápido como um amor de verão, o livro carrega a densidade de todos os amores.
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7
Norwegian Wood
Haruki Murakami. Alfaguara, 2008
Para quem conhece Murakami de livros grandes, complexos e fantásticos como “Kafka à Beira-mar”, esse é um pequeno romance de formação — que vendeu mais de quatro milhões de cópias no Japão, alçando o escritor ao estrelato nacional e a ícone cultural de uma geração. O título se refere à música homônima dos Beatles, singela e curta, que narra um amor interrompido. O livro segue caminho similar. Na Tóquio do fim dos anos 1960, o estudante de teatro Toru Watanabe descobre o amor em Naoko, antiga namorada do amigo que se suicidara. A tragédia em comum os aproxima, dando origem a um amor delicado, cheio de sutilezas, receios e fantasmas. Publicado originalmente em 1987, Norwegian Wood é um dos mais bonitos e singelos romances do autor japonês. Há uma pitada autobiográfica, o que sempre aproxima o leitor. E há o frescor e o viço dos amores em sua gestação, no que eles têm de engano e de loucura. Como na música, o pássaro sempre voa para longe.
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8
Úrsula
Maria Firmina dos Reis, Penguin, 2018
Essa é uma obra que fez história por retratar a condição dos negros brasileiros sob o olhar dos negros brasileiros. Considerado um dos primeiros romances escritos por uma mulher no Brasil — e uma mulher negra, maranhense, fora do circuito Rio-São Paulo –, o livro de Maria Firmina dos Reis foi publicado em 1859 e conta a história de amor de Úrsula e Tancredo. Não são poucos os obstáculos que a narradora precisa ultrapassar para viver seu amor. Mas o tom, ultrarromântico, não impede uma crítica à escravidão e ao racismo estrutural (ainda que dentro dos limites possíveis à época). Essa versão da Penguin traz ainda uma introdução com boa contextualização histórica. Para muitos críticos, trata-se da obra inaugural da literatura afro-brasileira.
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9
Sem dó
Luli Penna, Todavia, 2017
Uma história de amor em imagens. De amor por outra pessoa, por um homem, e de amor pela cidade. Na São Paulo dos anos 1920, metrópole pulsante de modernidade, com edifícios altos em construção e carros ganhando as ruas, Lola vive uma paixão proibida, ignorada pelos pais conservadores — uma bela e trágica história de amor traduzida em signos. Assim, o universo dessa jovem apaixonada (e também de sua irmã, Pilar) ganham as tirinhas na forma de sapatos e chapéus, caixinhas de lembranças repletas e revistas de moda — referências de costumes que retratam a rotina de uma mulher romântica, apaixonada por um homem que mal conhece.
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10
Anna Kariênina
Liev Tolstói. Companhia das Letras, 2017
A edição com tradução de Rubens Figueiredo dá nova vida à obra-prima de Tolstoi — um dos maiores clássicos realistas do amor romântico. E o livro é realista não só por seguir as convenções do gênero, o realismo russo, com dezenas de personagens e descrições detalhadas de lugares, pessoas e sentimentos –, mas porque a protagonista ama e sofre, deseja e sucumbe como na realidade ordinária de um amor impossível. Do caso passional entre a jovem mãe aristocrata e o jovem (e belíssimo) oficial surgirá o esperado ocaso. Mas a obra vai bem além do desejo, da traição e e de suas consequências morais e físicas. Publicado no fim do século XIX, o livro retrata a aristocracia decadente da Rússia czarista. É uma aula de História e um romance de folhetim ao mesmo tempo, um novelão de mais de 800 páginas em que se sabe e sente exatamente tudo o que esses heróis tão humanos vivem — pra não falar de vestidos de renda e mansões, de casas de campo e caças na floresta, de tiros e jogos de azar, de vodka e encontros fortuitos na calada da noite. É leitura perfeita para o tédio da quarentena. Alerta de spoiler: o fim do livro faz parte do conhecimento geral, mas se você ainda não sabe o que acontece com Anna, punida pelo destino por amar demais, melhor não dar um Google.