“Não posso fazer horóscopo porque há dúvidas: não se sabe se nasci em 23 de novembro ou 10 de dezembro. Nem em que hora. E foi num lugar que não figura no mapa: uma aldeia na Ucrânia.” Embora a vida e a obra de Clarice Lispector tenham sido esmiuçadas por biógrafos e pesquisadores, sua data de nascimento, como relatado por ela em uma carta ao escritor espanhol Jose Luis Mora Fuentes, permaneceu sempre uma incógnita. Já que os documentos da imigração falam em 10 de dezembro de 1920, convencionou-se esse dia — o que marca seu centenário nesta semana. Entre as comemorações, que incluíram algumas reedições ao longo do ano e um volume com epístolas inéditas (como aquela à Mora Fuentes), está o lançamento de um site bilíngue dedicado à escritora pelo Instituto Moreira Salles, detentor de seu acervo. Em português e inglês, o portal traz fotos, manuscritos, áudios, vídeos e cartas, além de aulas e textos críticos, e faz parte da Hora de Clarice, evento-homenagem realizado anualmente pelo IMS desde 2011. No embalo das celebrações, o Nexo publica duas análises de especialistas sobre os enigmas que rondam o conto “O Ovo e a Galinha”, misterioso até para a própria autora. (Mariana Payno)
Uma adolescente trans e youtuber que precisa se adaptar à realidade e aos preconceitos de uma nova escola e o assassinato da vereadora Marielle Franco como inspiração de campanhas políticas de várias mulheres pretas pelo Brasil estão entre os destaques da tradicional Retrospectiva do Cinema Brasileiro do CineSesc, que chega à sua 21ª edição neste ano online e gratuita. “Alice Júnior” e “Sementes: Mulheres Pretas no Poder” estão entre os dez filmes da retrospectiva que ficarão em cartaz entre os dias 10 e 16 de dezembro e podem ser acessados no site da plataforma. Além disso, também haverá uma programação especial dedicada a curtas-metragens contemporâneos, exibidos ao longo de duas semanas, e uma retrospectiva da obra do grande cineasta Leon Hirszman, que permitirá rever alguns clássicos do nosso cinema como “Eles Não Usam Black-Tie” (1981) e “São Bernardo” (1972). (Leonardo Neiva)
Em uma ano atípico para atores e atrizes, a 16ª edição da Virada Cultural, que acontece nos dias 12 e 13 de dezembro, irá prestigiá-los como 2020 não foi capaz. Entre as mais de 400 atrações com o mote "tudo de arte, nada de aglomeração", estarão 27 espetáculos virtuais na série "Novas Formas, um Novo Teatro", com apresentações que fizeram sucesso ao longo do ano, como "(In)Justiça", da Companhia de Teatro Heliópolis; "Novos Normais – Sobre Sexo e Outros Desejos Pandêmicos", da Companhia Os Satyros; e “Siete Grande Hotel”, do Grupo Redimunho. A maratona, que vai das 18h de sábado até o mesmo horário no domingo, ainda conta com oito espetáculos presenciais, como "Mãe Fora da Caixa" e "Os Monólogos da Vagina", que irão seguir os protocolos de segurança relacionados à pandemia e que serão encenados em diferentes teatros da cidade. Além das artes cênicas, artistas como Criolo, Elba Ramalho, Gloria Groove, Arnaldo Antunes e Elza Soares terão seus shows gravados no Theatro Municipal, e transmitidos nos dias do evento. (Manuela Stelzer)
Para quem gosta de cinema, não é nenhuma novidade exaltar o diretor prodígio Orson Welles ou sua obra-prima “Cidadão Kane”, considerada por muitos um dos maiores filmes de todos os tempos. Embora trate da conturbada produção de “Kane”, “Mank”, novo longa de David Fincher, no entanto, prefere não enfocar a trajetória do cineasta, e sim a de seu roteirista James L. Mankiewicz. Baseado num roteiro antigo, escrito pelo pai de Fincher, o projeto praticamente já nasceu como postulante ao Oscar, tanto por seu tema centrado nas glórias e mazelas de Hollywood quanto pelo talento por trás e em frente às câmeras. E as reações iniciais positivas parecem ter vindo só para confirmar essa aposta. Capitaneado por Gary Oldman no papel-título, o elenco é um dos quesitos mais celebrados e conta com Tom Burke na pele de Welles, Charles Dance como o magnata da imprensa William Hearst — em quem Kane foi inspirado — e uma elogiadíssima Amanda Seyfried vivendo a atriz Marion Davies. Já em cartaz nos cinemas brasileiros, a produção da Netflix chega às telas do streaming no dia 4 de dezembro. (Leonardo Neiva)