Especialistas compartilham estratégias para criar resistência às armadilhas do consumismo, ajudando a transformar a impulsividade em escolhas planejadas e saudáveis
Comprar na impulsividade, sem pensar se o objeto adquirido é necessário no momento ou se será, de fato, usado, é um hábito que muitas vezes traz um alívio imediato e uma compensação fugaz. No entanto, também pode levar a um ciclo de culpa e descontrole financeiro.
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Para começar um novo ano sem dívidas e arrependimentos, Gama consultou especialistas que compartilharam insights e estratégias práticas para ajudar na criação de resistência às armadilhas do consumismo. Não se trata de parar de consumir, mas de adotar hábitos mais conscientes e alinhados ao que realmente oferece satisfação e faz sentido no dia a dia.
São pequenas mudanças capazes de fazer uma boa diferença, ajudando a transformar um consumo impulsivo em escolhas planejadas e saudáveis.
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Dificulte o acesso às compras online –
Em um mundo hiperconectado, com toda a sorte de produtos disponíveis para compra a dois ou três cliques, criar barreiras virtuais que dificultem o consumo impulsivo é uma das táticas ensinadas pela educadora financeira Júlia Ábi-Sâmara, fundadora do perfil As Investidoras. Ela sugere, por exemplo, o descadastramento do cartão de crédito dos sites em que o consumidor está mais habituado a fazer compras fáceis, sem nem pensar — como aquela blusinha que ninguém precisa, de fato, ou o delivery da preguiça, quando há comida na geladeira ou na despensa. Essa medida faz com que a pessoa precise inserir manualmente os dados, criando um momento de pausa e reflexão. “Uma pesquisa da Amazon mostrou que a demora de segundos no carregamento da página pode causar a desistência de uma compra. Pequenos obstáculos podem ser decisivos para evitar um gasto desnecessário”, diz a especialista. Outra ideia é baixar uma extensão no navegador que bloqueia temporariamente determinados endereços. Excluir do smartphone aplicativos de plataformas de e-commerce também é uma dica, pois, se o app não está ao alcance das mãos, a tentação diminui consideravelmente. -
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Deixe de seguir marcas e influenciadores digitais que promovem o consumo –
Mesmo que os algoritmos entupam o feed dos usuários com anúncios que provocam desejos de consumo, há alternativas para amenizar esse bombardeio de posts de roupas, produtos de skincare, maquiagem e suplementação, itens de decoração e um sem-número de apetrechos tecnológicos. Uma delas, segundo Júlia Ábi-Sâmara, é deixar de seguir influenciadores digitais que, ao invés de compartilhar algum tipo de conhecimento, apenas promovem vendas, dia após dia, post atrás de post. A mesma regra vale para marcas que, constantemente, divulgam promoções “imperdíveis”, “só até hoje”. A profissional indica ainda a desativação das notificações de aplicativos de compras e delivery. “Muitos apps enviam cupons de ofertas em horários estratégicos para incentivar gastos”, alerta. Em casos mais extremos de compras impulsivas, a opção é deletar por um tempo o Instagram e o TikTok do celular. -
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Coloque o produto no carrinho e espere pelo menos 24 horas para tomar uma decisão –
Antes de finalizar uma compra, faça uma pausa. Autora do livro “E Se Eu Parasse de Comprar?” (HarperCollins, 2021), a publicitária, escritora e colunista da Folha de S.Paulo Joanna Moura, que passou 12 meses no início da década de 2010 sem adquirir uma roupinha nova e narrou a experiência no blog Um Ano sem Zara, recomenda parar e, em vez de clicar em “comprar”, apertar o “salvar” — na maioria dos sites e aplicativos, o botão de salvamento é representado por uma bandeirinha ou um coração. Feito isso, espere pelo menos 24 horas para tomar uma decisão. “Se você acordar no dia seguinte ainda pensando naquela peça, avalie como ela se encaixaria no seu guarda-roupa e a deixe ali mais um pouco. Volte depois e faça o exercício novamente. Muitas vezes, a vontade passa ou nos esquecemos, e vemos que não era tão importante assim”, explica Moura. Mas, nos casos em que a reflexão pender para a efetivação da transação, Júlia Ábi-Sâmara fala que é importante checar se o valor em questão cabe no orçamento. No entanto, para a educadora financeira, há uma grande chance de o consumidor não ter mais vontade de comprar. “Ou, então, a pessoa até diminui as coisas do carrinho pela metade”, comenta. -
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Tenha um planejamento financeiro mensal –
Ter um controle cristalino das finanças, organizado por mês, ajuda a evitar gastos que ultrapassam o limite planejado. Ábi-Sâmara reforça a importância de definir um valor específico para todos os tipos de despesas, inclusive as pessoais, como lazer e vestuário, e segui-lo com disciplina. Por exemplo, se há disponível R$ 200 mensais para serem usados com roupas e acessórios, é possível gastar essa quantia sem culpa e sem comprometer as outras áreas do orçamento. “Não é proibido pedir delivery ou comprar uma blusinha, no entanto, é necessário ter equilíbrio para fazer isso de forma que não prejudique outros setores da vida”, ensina. Ela reforça que, tendo um panorama financeiro geral do mês, com as divisões de qual é o teto para usar em cada seção, é factível que, caso necessário, você possa rearranjar os valores quando precisar um pouquinho extra aqui ou ali. “Com organização, dá para ser maleável”, sinaliza a especialista em educação financeira. Ábi-Sâmara fala ainda que, para prevenir rompantes consumistas, pode ser interessante configurar no aplicativo do banco a opção de transferir automaticamente logo uma parcela do salário para um investimento predeterminado assim que o pagamento cair na conta, garantindo que uma parte esteja reservada para o futuro — e, consequentemente, aquele dinheiro nem será lembrado quando uma promoção qualquer aparecer. “Assim, se houver um gasto a mais com uma coisa ou outra, a pessoa terá de ajustar no orçamento, sem comprometer o dinheiro reservado. Ela vai precisar mexer os pauzinhos do mês.” -
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Conheça-se e compre de forma consciente –
O autoconhecimento é um importante aliado contra a vontade desenfreada de comprar algo. É esse instrumento que auxilia no entendimento de quais são os gatilhos que levam à aquisição de supérfluos ou do que não precisamos naquele momento. Esse estopim pode ser um pé na bunda, uma demissão, uma insatisfação por perder um prazo; cada pessoa vai ter o seu — ou os seus. “Quando entendemos que o nosso consumo por impulso está relacionado a buracos que temos dentro da gente e que o consumismo serve como uma espécie de bengala emocional para nos sentirmos melhores, conseguimos canalizar esse processo para ações mais saudáveis”, reflete Joanna Moura. A escritora conta que, quando chegou ao fundo do poço das dívidas e percebeu o porquê comprava tantas roupas e em quais momentos, passou a a cozinhar e a usar o tempo e a energia em atividades que a faziam bem sem fazer mal. “Desenvolvi outros hobbies. A criação do blog, a fotografia, a edição das fotos e a escrita me trouxeram muitas alegrias, foram como uma terapia. Foi bom para mim porque era onde eu conseguia depositar essas frustrações sem precisar gastar aquela grana toda”, afirma. Autoconhecer o próprio estilo também é essencial para quem não passa incólume ao shopping — físico ou online. De acordo com Moura, saber o que se gosta e o que realmente se usa, evita cair em modismos e em fazer compras por pressão. “Acho que a coisa mais inteligente é consumir coisas que você realmente vai usar. Eu tenho uma matemática que a minha mãe me ensinou e que sempre aplico: não importa o quanto uma coisa custa, importa a quantidade de vezes que você vai usá-la”, compartilha.
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