17 aprendizados sobre relacionamentos na pandemia — Gama Revista
Solteiro, casado ou outra coisa?
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Sariana Fernández

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Depoimento

O que aprendi sobre relacionamentos na pandemia?

Artistas, chefs, escritores e leitores da Gama compartilharam a sabedoria adquirida no último ano

06 de Junho de 2021
Sariana Fernández

O que aprendi sobre relacionamentos na pandemia?

Artistas, chefs, escritores e leitores da Gama compartilharam a sabedoria adquirida no último ano

06 de Junho de 2021
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A individualidade tem seu valor

Letrux, cantora e colunista da Gama

“Aprendi que a individualidade é um bem precioso. Passar muito tempo junto é um perigo para a facilidade da simbiose. Ver e ouvir as mesmas coisas, hora de acordar, comer, dormir. Amor não faz duas pessoas virarem um, isso é uma loucura. Sempre tive muito espaço e tempo livre do meu namorado, e isso é muito importante. Na pandemia, o excesso de proximidade causou conflito, mas logo ajeitamos nossa dinâmica para que cada um tenha seu espaço.”

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Gestos cotidianos e espaguete à cabornara

Joca Reiners Terron, escritor, artista gráfico e editor

“Ao longo desses quase um ano e meio, a despeito da imensa tragédia que tem sido tudo (perdi dois tios, por exemplo, um deles com a minha idade, e não vejo meus pais desde o início do isolamento), creio que aprendi algo que eu já sabia: que os relacionamentos se alimentam do cuidado generoso entre as pessoas, e que o amor é feito de gestos cotidianos às vezes ínfimos, como arrumar a cama, pela manhã, ou enviar mensagens de conforto aos amigos. Ah, também descobri que um espaguete à carbonara cura qualquer mau humor!”

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Acerto de contas faz bem

Joice Berth, arquiteta e urbanista

“Durante a pandemia, fiquei confinada com meus filhos. Meu maior aprendizado foi ver que as relações se colocam à prova quando temos contato contínuo. O excesso de coisas para fazer talvez seja um mecanismo de fuga. Quanto maior a convivência, mais os problemas que precisam ser ajustados se fazem presentes. Nesse período, vi que existiam pendências e arestas para serem conversadas e que, por alguma razão, sempre deixávamos para depois. Na quarentena, ou você resolve ou aquilo se mostra com força destrutiva. Apesar de tudo, é um período positivo para mim porque estou reaprendendo uma série de coisas sobre eles e eles reaprendendo sobre mim. Assim, questionamos se nossa relação é proveitosa para ambos os lados e, caso não seja, procuramos solucionar os conflitos.”

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Se não tem libido, afeto também é bom

Chico Felitti, escritor

“Eu aprendi que uma relação pode existir num mundo sem libido. Aqui em casa, a quarentena vem sendo uma fila de meses de todos os sentimentos agudos, menos tesão. O que abre espaço, na mente e no corpo, para um afeto que a gente encontrava lá fora no mundo.”

Nem tudo é pra já

Manoela Miklos

“A pandemia escancarou, para mim, as dimensões assíncrona e síncrona das relações. Fui notando que alguns afetos pedem convivência, pedem que estejamos em linha direta, de emissor e receptor necessariamente em sincronia para que a comunicação exista! E resista. Outros afetos existem e resistem mesmo quando a comunicação é assíncrona, intermitente. Aliás, me toquei que há afetos que prosperam porque transmissor e receptor não precisam estar sincronizados — uma novidade para uma pessoa ansiosa como eu, adicta da pronta resposta, hoje em recuperação.”

Não somos nada sem o outro

Isaac Silva, estilista

“Relacionamento, nessa pandemia, por mais que não seja físico, tem sido espiritual. Emanamos energias boas para as pessoas que queremos bem. Aprendi muito sobre como se relacionar com pessoas, como ajudar as que precisam de ajuda. Nesse momento pandêmico, o que eu aprendo sobre relacionamentos é: nós, seres humanos, não somos nada sem o outro, sem as relações.”

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Um segura a mão do outro

Janaína Rueda, chef

“Tenho um relacionamento maravilhoso com o Jefferson [Rueda]. São 20 anos juntos. Um segura a mão do outro. Quando um cai, o outro levanta. Um homem que sempre me deixa livre, fica feliz com as minhas vitórias. Torce pelo meu sucesso. Não é egocêntrico, muito menos egoísta. Isso faz com que a gente seja grudado. Sabemos que somos uma casa que temos que fazer as manutenções, terapias, para não pirar um com o outro. Mas acredito que um casamento sobrevive pela admiração e respeito. Acreditar, lutar junto, sobreviver junto. Estamos juntos pelo amor que sentimos por tudo que somos, tudo que construímos. Como vamos evoluir? Como podemos melhorar? Sabemos que queremos estar juntos. Mas nunca o lugar certo, sempre fazemos mudanças. Nunca paramos no mesmo sofá.”

Os leitores da Gama respondem

Amo estar sozinha

Beatriz Multari

“Terminei meu namoro de dois anos e aprendi que o amor não basta por si só. Que mesmo com amor, quando fomos obrigados a ficar distantes por tanto tempo, faltou esforço, paciência e dedicação, virtudes que nunca achei que seriam tão essenciais em um relacionamento. Mas, ao mesmo tempo, aprendi que amo estar sozinha. A pandemia está permitindo que eu me conheça muito mais, principalmente sem namorar.”

Caetano está certo

Rosa Espinheira

“Nestes tempos de pandemia e pseudoisolamento, sentimos a urgência da necessidade do outro e de nós mesmos. O que é de fato essencial a dois e quando estamos sós? O amor é digital? Só consigo pensar em Jung e Caetano Veloso para responder pois a vida junto é luz e sombra, como diz Caetano: ‘Ninguém de perto é normal e o amor não é digital’.”

Uma vida a dois pede espaço

Joyce Iensen

“A paixão é rápida e o amor é calmo. A paixão não precisa de muito, mas o amor precisa de tempo e espaço. Depois de um ano e meio eu descobri o que acontece quando temos que conhecer alguém dentro de quatro paredes, sem contato com o mundo externo, sem contato físico com mais ninguém. A gente se conheceu quatro meses antes da pandemia chegar no Brasil. Quatro meses maravilhosos. A vida que tinha gosto de aventura, novas descobertas, encontros mirabolantes deu lugar ao pijama de todo dia. Eu vi a sua vontade de viver indo embora cada semana que a quarentena se estendia e a situação piorava. A gente não teve tempo para se conhecer antes de tudo. Mas também não teve espaço para se conhecer depois. Ele não conseguia mais tentar, eu estava perdida demais para dar um passo para trás. O relacionamento acabou, a pandemia não.”

Tudo é transitório

Fabiola Ribeiro

“Meu aprendizado foi bem doloroso. Terminei um relacionamento que enfrentou um ano de isolamento, mas se perdeu pelo caminho. Tinha passado quase toda a pandemia com ele e nossos filhos (o dele e o meu). A separação trouxe um grande vazio de gente, de abraço, conversa, cheiro. Aprendi a lidar com o luto e o silêncio e a buscar a paz de espírito. O maior aprendizado sobre relacionamentos, no meio deste caos, é que tudo é transitório. Estranhos se tornam amigos e amigos se tornam estranhos.”

O que fazer com a libido?

Luli Liebert

“Eu estava no auge da minha autoestima. Era uma mulher solteira, livre e sexualmente bem resolvida. Sabe quando você se sente linda, sexy e atraente? Eu era tudo isso. Na pandemia, logo os paqueras sumiram. Quem não sumiu foi o tesão. Com a libido a mil, a tecnologia foi a salvação — via aplicativo de paquera ou aplicativo de mensagem, me conectei com novos e antigos pretendentes ao longo desses 14 meses. Mas por carência ou cuidados com minha biossegurança, os encontros não evoluíram. Foram passageiros, fugazes e efêmeros. Não me martirizei: peguei todas as ferramentas de cursos de autoconhecimento e as coloquei em prática para me manter tranquila. Não foi fácil, mas também não foi impossível. Com as desconexões, em vez de ficar desiludida, eu aceitava, não resistia. Peguei pra mim que não há nada que eu possa fazer se o outro não quer se conectar comigo. Entender esse processo foi libertador.”

Conseguir aproveitar a minha companhia

Mariana Midori

“Durante a pandemia, aprendi a ficar sozinha. Um feito difícil para alguém que passou os sete anos anteriores entrando e saindo de relacionamentos, sem um mês de distância sequer entre eles. A impossibilidade de encontrar pessoas me forçou a olhar pra dentro, a encarar minhas angústias sem que tivesse algo pra me distrair e colocá-las de lado. Tive tempo para refletir em relacionamentos passados o que era amor e o que era carência. Na psicanálise entendi um pouco sobre o narcisismo e como isso afeta os apaixonamentos. Consegui dar um ponto final em relacionamentos que continuavam rondando o imaginário. Pela primeira vez em muito tempo sinto que estou bem solteira, que consigo aproveitar minha própria companhia.”

Cabem quatro numa cama

Renata Belleza

“Aprendemos à força a pedir ajuda, a ter insônia juntos, a ficar de saco cheio, a dançar as músicas mais ridículas no meio da sala todos juntos. Aprendemos que numa cama de casal podem caber quatro pessoas e dois cachorros e que crianças também podem ter crise de ansiedade. Passamos por momentos muito difíceis juntos e sozinhos, de muita autorreflexão e senti que nunca foi tão necessário se olhar e se ajustar. A maior lição que tirei da minha quarentena foi ver a felicidade dentro da minha bolha. Sempre procurei isso no externo, mesmo gostando da minha vida em família. Hoje gosto de acordar aqui, tomar o meu café com calma, voltar pra cama, ver meus filhos acordarem, gosto de ter influenciado o meu marido a se cuidar e acompanhar seus treinos online na sala e também de ver o cachorro fazer xixi no lugar certo. Descobri que a vida muda de um segundo para o outro e que aqui e agora com essas pessoas é o melhor lugar para se estar.”

Casamento é desafio

Bia Maluf

“Descobri que meu marido tinha uma amante e tive que decidir sozinha se era melhor eu perdoar e continuar o casamento ou separar e seguir a vida. Descobri que estar casada é um desafio, mas que me conforta. Descobri que queria me dar uma chance e desenterrar a poeira debaixo do tapete, que com a pandemia não dava mais para esconder. Descobri que relacionamentos fazem da gente o que somos, mas que temos que ter boas escolhas.”

Culpa é inútil

Gabriela Ferreira

“Culpar-se e culpar o outro pelo fim de uma relação faz você carregar o peso de suas culpas e as do outro. A primeira você pode encontrar respostas, mas a segunda é do outro e não temos como responder. No fim, o importante não é o que ele fez, mas como eu lido com isso. Eu percorro a mesma rua, mas reaprendo a olhar para ela. Ou me perco nos caminhos e quem sabe encontro outros detalhes. Mas no fim o que resta sou eu movimentar coisas bonitas que existem em mim e no mundo dos encontros com coisas que desconheço.”

Uma lembrança bonita e imensa

Laura Caldas

“Aprendi a conviver com lupa de aumento, a ligar todos os dias para alguém querido, a não ignorar mais nenhuma mensagem com florezinhas de bom dia, a dizer mais o que eu sinto para que palavras deixem de me sufocar, a tentar olhar para o momento pois não dá pra apostar, que cozinhar pode ser meditação, que aula online irrita mas ensina, que novas amizades podem ser descobertas pelo oceano da internet, que velhos amigos tem que cultivar, que não tem ninguém bem, que preciso encorajar cada ser que me chega pois é assim que sinto a coragem pulsar dentro de mim, que existem distâncias que aproximam e que tanto tempo fazendo tudo junto vai inevitavelmente aconchegar, unir e colar. Ao menos da convivência tenho absoluta certeza que ficará uma lembrança bonita e imensa.”