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RepertórioMulheres precisam ser fortes?
Profissionais e pesquisadores da saúde falam dos benefícios que mulheres com músculos fortes alcançam, da funcionalidade nas tarefas cotidianas à prevenção de doenças como a diabetes 2 e as cardíacas
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Mulheres precisam ser fortes?
Profissionais e pesquisadores da saúde falam dos benefícios que mulheres com músculos fortes alcançam, da funcionalidade nas tarefas cotidianas à prevenção de doenças como a diabetes 2 e as cardíacas
A importância de músculos fortalecidos para as mulheres é indiscutível para os profissionais e pesquisadores de saúde ouvidos pela Gama. Segundo eles, é uma boa massa muscular que vai garantir que elas não sintam dores e consigam fazer tudo o que desejam. Mas mais que isso, nos últimos anos foi descoberto que o poder dos músculos vai além, que podem ajudar na saúde cardíaca, hormonal e até a preservar a cognição.
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Apesar dos muitos benefícios, no entanto, fica o alerta de que não vale tudo para ter um corpão musculoso e que o corpo das mulheres, por mais fortalecido que seja, nunca será igual ao dos homens. Abaixo, um cardiologista, uma ginecologista, um ortopedista, uma nutricionista, uma neurocientista e um pesquisador da medicina do esporte explicam como e por que as mulheres precisam ser fortes e quais os limites da busca por um corpo musculoso.
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“Os benefícios vão desde o aumento da capacidade física até a redução de eventos cardíacos”
Luiz Ritt, cardiologista e presidente do Departamento de Ergometria, Exercício, Cardiologia Nuclear e Reabilitação Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia
“A manutenção e o ganho de massa muscular têm efeitos positivos no sistema cardiovascular, como aumento de capacidade física e até mesmo redução de eventos cardíacos, especialmente em pacientes com insuficiência cardíaca. Ou seja, os benefícios são ainda maiores e mais importantes quanto mais grave for o quadro do paciente. Os exercícios de resistência (que focam no ganho de massa muscular) são indicados em programas de reabilitação cardíaca e fazem parte do tratamento desses pacientes. Esses exercícios também auxiliam no metabolismo, promovendo melhor controle glicêmico, da pressão arterial e do peso. E além dos benefícios metabólicos e cardiovasculares, eles reduzem a fragilidade do idoso e o risco de quedas.”
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“Se você tiver uma atividade muscular boa, você minimiza o processo biológico de envelhecimento”
André Pedrinelli, ortopedista e especialista em Traumatologia do Esporte, membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte
“Ter músculos fortes e equilibrados garante a saúde do aparelho locomotor e promove independência nas atividades diárias. Músculos competentes distribuem melhor as forças aplicadas ao corpo, facilitando o equilíbrio articular. A gente perde massa muscular à razão de 1% ao ano, mais ou menos. Então, se você tiver uma atividade muscular boa, você minimiza o processo biológico de envelhecimento. Para as mulheres, a musculação também ajuda na regulação hormonal. A menopausa pode causar uma queda significativa na produção de testosterona, o que leva à perda de força. Por volta dos 50 anos é o momento de intensificar os exercícios para compensar essa perda de massa muscular.”
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“A prática de exercícios pode ser tão eficaz quanto a medicação para a cognição e retardar a progressão da demência”
Isadora Ribeiro, doutora em neurociência e mestre em gerontologia pela Unicamp, primeira autora do artigo científico sobre o potencial da musculação na prevenção da demência em idosos
“No estudo que realizamos, eram 44 participantes que tinham diagnóstico de comprometimento cognitivo leve — com perda de memória, de atenção, de função executiva e com risco aumentado para desenvolver demência. Dividimos eles em dois grupos: o primeiro treinava duas vezes na semana durante seis meses, enquanto o outro não. Os resultados mostraram que o grupo que se exercitou teve regiões do cérebro protegidas contra atrofia, enquanto o grupo controle, que não fez o exercício, teve essas regiões reduzidas. Além disso, o grupo que se exercitou teve melhora na memória, na força muscular em todos os equipamentos de musculação usados, e nas atividades do dia a dia. Isso reforça que a prática regular de exercícios é uma terapia não farmacológica importante e acessível. Ela pode ser tão eficaz quanto a medicação para a cognição e retardar a progressão da demência. No entanto, é fundamental que a atividade seja acompanhada por um profissional de educação física, para garantir segurança, evitando lesões.”
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“Não se destrói o patriarcado com fome!”
Fernanda Imamura, nutricionista
“Os músculos vão garantir que nós tenhamos força e disposição para realizarmos nossas atividades que possamos envelhecer com autonomia e qualidade de vida.
A alimentação é fundamental para garantir uma boa massa muscular e para isso é preciso ser variada, composta por todos os grupos alimentares. O consumo de proteína é importante, mas os demais alimentos também são essenciais para um bom fortalecimento muscular. Portanto, dietas restritivas são contraindicadas e podem inclusive ocasionar a perda de massa muscular. Restringir e passar fome pode até ocasionar a perda de peso, mas vai enfraquecer o corpo e te fazer perder massa muscular.
Ter um corpo forte e saudável permite que nós tenhamos energia para fazer tudo aquilo que desejamos e engajar em pautas que são importantes para nós, como por exemplo lutar por aquilo que acreditamos, exigir condições melhores de trabalho ou ainda ocupar posições que nunca nos foram permitidas. Um corpo fraco não consegue ter energia pra fazer nada disso; é um corpo mais fácil de ser silenciado e deixado de lado. Por isso que sempre falo: não se destrói o patriarcado com fome! A alimentação saudável é o combustível que vai nos possibilitar colocar em prática tudo o que acreditamos. Ela é uma aliada na nossa luta.” -
“É importante construir um banco de músculos como investimento para o futuro”
Patricia Valentini Melo, ginecologista
“Os músculos desempenham um papel essencial na saúde da mulher em todas as fases da vida. Eles são fundamentais para a mobilidade, a postura, a estabilidade articular e a prevenção de dores e lesões. Além disso, a manutenção da massa muscular contribui para um metabolismo mais eficiente, ajudando no controle do peso e na regulação dos níveis de açúcar no sangue, o que reduz o risco de doenças como diabetes tipo 2.
Hoje os músculos são considerados como um órgão endócrino, a maior glândula do nosso corpo porque produzem hormônios importantes para o equilíbrio da nossa saúde. Quando ativados pelo exercício, produzem também mais de 500 tipos de miocinas, substâncias que atuam em diversas áreas do organismo, favorecendo um metabolismo equilibrado, ação antiinflamatória, queima de gordura visceral, proteção neurológica e cerebral e fortalecimento do sistema imunológico. Eles também tem receptores para insulina, favorecendo o equilíbrio desse hormônio, e produzem testosterona.
Outro ponto importante é a saúde óssea. O fortalecimento muscular estimula a densidade dos ossos e pode ajudar na prevenção da osteoporose, um problema comum em mulheres após a menopausa. Músculos fortes também protegem as articulações, reduzindo o risco de quedas e fraturas, e garantem saúde, bem-estar, mobilidade e autonomia na longevidade.
Para fortalecê-los é importante unir quantidade adequada de matéria prima (proteínas na dieta/suplementos proteicos) e exercícios resistidos. Os suplementos são muito bem-vindos para complementar a dieta, quando a meta protéica diária não é alcançada. Alguns exemplos: colágeno em biopeptideos, whey protein, pool de aminoácidos essenciais, creatina.
Sempre é tempo para fortalecer os músculos, porém a tendência de perda é maior com o envelhecimento (sarcopenia). Por isso é tão importante construir um banco de músculos como investimento para o futuro. Mesmo mulheres mais velhas podem ganhar força e funcionalidade com um treinamento adequado, incluindo musculação, pilates, yoga e outras atividades que envolvem resistência e equilíbrio.” -
“As mulheres precisam fortalecer os músculos, mas elas não precisam ter músculos de homens”
Bruno Gualano, professor do Centro de Medicina do Estilo de Vida da Faculdade de Medicina da USP
“As mulheres precisam ter força porque força significa funcionalidade. Ser funcional é você executar bem as atividades da vida diária, a locomoção, os agachamentos, subir e descer escadas. O músculo também produz as miocinas, que agem como se fossem hormônios, melhorando a saúde geral das pessoas.Ter reserva de músculo é importante para acumular glicose, o que previne diabetes do tipo 2.
Para fortalecer os músculos há o fator da dieta e o fator do exercício, da sobrecarga mecânica. O exercício mais tradicional é musculação, mas pode ser pilates, calistenia, ciclismo, hidroginástica. Até em casa você pode fazer sua academia com seu quilo de feijão e arroz. A gente não precisa ficar prisioneiro só da musculação, tem que ser alguma coisa que a gente goste.As mulheres precisam fortalecer os músculos, mas elas não precisam ter músculos de homens. Há modismos em relação aos corpos ideais e hoje quanto mais musculoso melhor. Tem um significado por trás disso, de empoderamento, mas é importante entender que você precisa fortalecer os músculos pela sua saúde, para melhorar a sua qualidade de vida, mas não precisa injetar hormônios, que é o que vemos por aí. O chip da beleza é hormônio e tem efeitos adversos muito graves no corpo feminino, como hipertrofia das cordas vocais e de clitóris, crescimento de pelos faciais, alopécia e acne, entre outros. Há ainda os mais graves, como problemas cardíacos e até morte súbita.
A boa alimentação é um consumo alimentar com uma quantidade adequada de caloria total e proteína. Proteína é importante para dar a estrutura do músculo, fornecer material para o músculo ser construído. Isso não significa que a gente precisa sair tomando whey por aí. Podemos encontrar a proteína que a gente precisa nos alimentos. Se por questões biológicas ou culturais a alimentação não fornece o consumo adequado, aí é ver caso a caso. .”
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