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FilhosPais e filhos na pandemia
Histórias de saudade, de transformação de papéis, de amor, parceria e aprendizado. Mães e pais contam o que mudou, o que aprenderam com os filhos e com a família neste ano difícil
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FilhosPais e filhos na pandemia
Histórias de saudade, de transformação de papéis, de amor, parceria e aprendizado. Mães e pais contam o que mudou, o que aprenderam com os filhos e com a família neste ano difícil
“A gente conseguiu realmente se ver como família”
Aline Barbosa, 31 anos, influenciadora e mãe solo de quatro — Laura, 12 anos; Vicente, 7; Joaquim, 4; e Antônia, 2
“A pandemia fez com que meus filhos ficassem mais unidos. Antes, eles tinham horários escolares diferentes e se viam mais na parte da noite. Mas era tudo super-rápido, e eles não conviviam tanto. Agora, estão o tempo todo juntos, o que criou uma resiliência. Eles aprenderam a brincar juntos, independentemente da idade e das diferenças. A relação de irmãos se intensificou, e melhorou muito também. Foram novas brincadeiras, invenções e um desenvolvimento muito grande em conjunto. Eu percebi isso principalmente no caçula, que tem um atraso na fala, faz acompanhamento com fonoaudióloga e psicóloga, e antes da pandemia falava superpouco. Agora ele fala muitas frases, está falando pra caramba!
Em contrapartida, ser mãe solo na pandemia fez com que minha carga mental ficasse superpesada. Mas é como eu digo: a gente formou um time. Cada um tem suas funções dentro de casa, é assim que tudo funciona e eu não fico tão sobrecarregada. Claro que a carga maior fica para mim, mas eu achei importante que eles entendessem e soubessem como fazer algumas coisas, pra que eles possam me auxiliar.
Toda essa situação mudou a minha relação com os filhos. Eu era uma mãe rígida, firme, bem mais do que sou hoje, e eu fazia as coisas muito no automático. Tinha horário pra tudo. Com a pandemia aprendi a respeitar mais, ver as diferenças de cada um. Entender que mesmo eles sendo crianças, eu preciso respeitar as suas necessidades e vontades (sempre guiando, claro), mas equilibrando isso com o respeito. A demonstração de afeto também mudou muito. Agora a gente conversa mais, se enxerga mais. A gente conseguiu realmente se ver como uma família.”
“Mergulhei na relação do homem com as tarefas de casa”
Carlos Baldim, 41 anos, diretor, ator, empresário e pai da Dora
“Na pandemia, eu exerci múltiplos papéis: fui professor, amigo, pai, mãe, marido. Minha esposa não parou de trabalhar presencialmente, então eu tive que lidar com todos os papéis em casa. Foi tudo muito intenso, e isso fez com que eu mergulhasse – um mergulho na relação do homem com a educação, do homem com as tarefas de casa.
Arquivo pessoal
A gente absorve essa divisão de tarefas quase por osmose, mas em algum momento você para e questiona: por que eu não posso fazer o contrário? Quem determinou essa divisão? E aí cai no machismo estrutural. Só pelo fato de ser um homem, branco, hétero, cis, você está inserido em um contexto machista, não tem jeito. Eu preciso entender isso e trabalhar melhor essas questões. E na pandemia, algo que já era claro, eu senti direto na pele, por conta dessa inversão de papéis.
Família pra mim é quem vive junto e se cuida, não importa quais são as relações de sangue e de afeto. Importa quem cuida de quem. Então, o conceito de família é ampliado, amigos são família também. Na pandemia, com essa quebra de padrões de comportamento, passei a olhar com mais cuidado para os valores por trás das atitudes em família, que é o que eu quero ensinar para a minha filha. Quando eu sirvo a comida pra ela, no lugar de uma mulher, o que eu transmito? Que imagem ela cria a partir disso? Assim eu também transformo.
Sobre trabalho, meu exercício profissional está impedido desde março. Sou ator e diretor de teatro, e tenho uma empresa de educação que trabalha em escolas, então meus dois segmentos são os mais afetados. O sentimento que bate é de frustração e de preocupação também, uma angústia em relação à situação financeira e ao futuro da minha família.
Tem uma história que me tocou, e diz muito sobre o que é família pra mim. Em um final de semana da pandemia, estávamos almoçando juntos, e num clima ótimo. Curtindo aquele momento família, tranquilo, confortável. E eu recebi um WhatsApp de uma amiga elogiando um trabalho que a gente tinha feito juntos. Eu li a mensagem e comecei a chorar. Até então eu não tinha desaguado nada. Na briga, na tensão, na hora da sobrevivência, seu corpo trava total, e aquele episódio foi como puxar a rolha.
Eu saí de perto das duas, e fui pensar com meus botões. Quando voltei, as duas tinham feito um desenho lindo, de três palhacinhos juntos, e minha filha disse que éramos nós três no papel. Aquilo foi muito acolhedor. Me deixou com a sensação de proteção, de carinho. Foi quando percebi muito claramente que tinha duas pessoas ali que eu podia contar, que transformaram um momento triste em um produto artístico (risos), que é o que eu faço da vida. Foi ali que eu vi estampado o conceito de família.”
“Você não vai morrer, né mãe?”
Anarella Andrade, 41 anos, emergencista pediátrica e mãe de Artur, 9 anos, Francisco, 6, e Joaquim, 3
“Eu sou emergencista pediátrica de formação, e quando surgiu a questão do coronavírus, achei mais seguro mandar meus filhos pro interior. Então, dia 15 de março eu mandei eles para a casa dos meus pais. E eles ficaram lá até dia primeiro de junho. Eu e meu marido ficamos aqui, ele trabalhando de casa, e eu, em hospital de campanha.
Quando a família se separou, a primeira coisa que meus filhos falaram para mim, e que ficou muito marcado, foi: ‘Você não vai morrer, né mãe?’. Hoje eu falo com tranquilidade sobre isso, mas foi uma das coisas mais doídas que eu já escutei. Eu estava indo cuidar de quem precisa, mas eles me queriam ali, eles também precisavam de mim. Apesar da saudade e da angústia da separação, meus filhos entenderam muito essa necessidade profissional. Foi um entendimento precioso, e um apoio importante.
Arquivo pessoal
Estarmos totalmente separados e depois intensamente juntos, foram fases igualmente difíceis. Estar separado causou muita falta. Era muita saudade, vontade de abraçar, de estar junto de novo. Mas quando voltamos a ficar juntos foi também intenso. Bem ou mal, quando você está dentro de casa, quem manda é o pai e a mãe, por mais democrática que sejam as relações. É um diálogo que é muito vertical. Isso foi difícil para os dois lados, para os meninos, e para mim e meu marido, que às vezes nos percebíamos superautoritários, algo que vai contra tudo que eu sempre acreditei.
O que sempre me deixou muito tensa foi a questão da escola. Do ponto de vista mental, tanto para a família, quanto para as crianças, os pequenos foram totalmente negligenciados. Quando a gente manda os filhos para a escola, a gente assume alguns riscos: deles se machucarem, pegarem piolho, caírem e quebrarem o braço. Só que o risco do isolamento social não se sabe. A escola tem um papel muito importante na formação e na rotina domiciliar das famílias. Precisa da escola para que tudo permaneça em equilíbrio. A gente sempre valorizou muito os momentos familiares, todos juntos, mas se tira um dos pilares, que é a escola, é provável que o resto não se sustente. Meus filhos sentem muita falta. Um deles disse que ‘só torce para que o coronavírus não apareça em 2021, para a gente poder voltar para a escola’.”
“Um dos meus objetivos foi não passar a ansiedade da pandemia para o meu filho”
Leandro Ferreira, 30 anos, pesquisador, podcaster no “AfroPai” e pai de Benjamin, 2 anos
“Eu tenho uma criança de dois anos com muita energia em casa. O que eu vou fazer?”, foi a primeira coisa que passou na minha cabeça quando ouvi que as fronteiras da Alemanha estavam fechando e que o governo suspenderia todas as atividades não essenciais.
Estava concluindo meu doutorado em Jena e morava na cidade com minha mulher, Cris, e com meu filho, Benjamin. O parque que ficava na frente de casa e a Kiga, Kindergarten em alemão, fecharam e o que nos restou foi viver a pandemia isolados em um pequeno apartamento de 50 metros quadrados.
A atuação do governo alemão nos garantiu uma quarentena mais curta, mas o fim do meu contrato nos obrigou a voltar ao Brasil. A conversa com Ben, de apenas dois anos, foi tranquila. Ele entendeu o recado, mas mesmo hoje — já no Brasil — acredita que a volta para a Alemanha vai acontecer em alguns dias.
Falamos para ele que, para chegar no Brasil, teríamos que pegar dois aviões, um trem e ainda andar de carro. Tentamos transformar a viagem em uma aventura lúdica.
Da Alemanha, Ben sente saudades da caixa de areia da Kiga, de sua professora e de seus amigos. Alguns dias depois de receber a notícia de que nós iríamos nos mudar, ele me pergunto: “Papai, o Johannes vai também?”, se referia a um amigo alemão.
No Brasil, passei a me preocupar cada vez mais com as pequenas demandas. Construí, mesmo sem ser engenheiro, uma caixa de areia para Ben. Um dos objetivos que eu coloquei pra mim é que eu não iria passar a ansiedade da pandemia para o meu filho. Fiz ele entender que nós precisávamos ficar em casa, que não podíamos sair o tempo inteiro.
O objetivo do AfroPai, meu podcast sobre paternidade negra, e de todo o movimento em volta é criar um esforço para que pais estejam atentos à pequenas demandas. É ir brincar, nem que seja dez minutinhos durante o trabalho. Há três anos, eu chamaria isso de “paternidade ativa”. Hoje, chamo de tomar vergonha na cara.
Entender as minhas demandas e as demandas da minha família foram essenciais para sobreviver à pandemia. Os planos de voltar para a Alemanha ainda existem, mas foram adiados. No momento, nós estamos morando temporariamente na casa da minha mãe.
Vez ou outra, levo Ben para passear de bicicleta. Sempre que estamos voltando, ele me pergunta: “Chegando em casa a gente não precisa tomar banho, né? Nós não encontramos ninguém na rua.” Eu rio, mas digo que o banho ainda é necessário.
“Pude observar meu filho crescer e descobrir os próprios sentimentos”
Caio San, 34 anos, ex-publicitário, podcaster em “Refogado” e “Afropai“, padeiro artesanal e pai de Gael, 2 anos
“Há sete anos, me mudei para o Chile. Caseiro, sempre brinquei que minha mudança foi quase um acidente tamanha minha paixão em ficar em casa. O que eu, e o mundo, não esperávamos era que ficar em casa seria uma das coisas mais importantes de 2020.
No começo da quarentena, o homeoffice consumiu minha vida. Houveram dias em que, mesmo trabalhando em casa, sequer vi meu filho Gael. Já estava pensando em sair do meu emprego formal antes do isolamento social, a pandemia foi só o último empurrão.
Peguei o dinheiro da rescisão e comecei a produzir e vender pães de fermentação natural. Inicialmente vendia para os vizinhos do meu condomínio, mas já comecei a vender para algumas empresas.
Rosário, minha companheira, também encontrou um novo emprego durante a pandemia. O escritório se tornou território dela e a cozinha passou a ser minha. A quarentena, que para muitos foi monótona, seguiu outro caminho para nós. Com dois anos, Gael não deixava ninguém ficar parado.
Os surtos também vieram, mas nós soubemos navegá-los. Os vínculos que já existiam foram fortificados e, pela primeira vez em muito tempo, consegui analisá-los. Pude observar meu filho crescer e descobrir os próprios sentimentos.
Mas a relação familiar não foi a única que foi ao divã. A nossa relação com a casa também mudou. É um espaço pouco explorado pelas pessoas, nós passamos a maior parte do dia fora dela, trabalhando. A quarentena foi uma oportunidade de explorar mais meu próprio lar e meu próprio teto, restabelecer uma conexão com esse espaço que eu passei a entender como meu refúgio.”
“Os conselhos que recebíamos era de uma gravidez que jamais existiu para nós”
Bárbara Abbês, 36 anos, diretora de arte e mãe de Martín, três semanas
“Nós já havíamos conversado sobre a possibilidade de engravidar, mas não estávamos planejando nada. Quando descobri que estava grávida havia apenas um caso de coronavírus em Nova York. Uma semana depois, fomos de “vocês podem ou não fazer homeoffice” para “tudo está fechado”.
Eu brinco que foi como uma gravidez secreta de 1920, porque ninguém sabia. É muito esquisito anunciar para os outros que você está grávida e ter que mostrar uma foto. E olha que eu só tenho foto de gravidez na rua onde estou usando máscara.
O covid-19 nos impossibilitou de ter apoio em diversos frentes, nós nos sentimos muito cansados. Eu sou brasileira e o Eduardo é colombiano, nós não temos família aqui. Não havia como delegar nada, estávamos isolados. Foi difícil conversar com amigos e parentes que têm filhos, eles não passaram por essa experiência durante a pandemia.
A nossa gravidez foi completamente diferente, ela aconteceu em um mundo com pandemia. As outras pessoas não passaram por isso. Os conselhos e as dicas que recebíamos era de uma gravidez que jamais existiu para nós. As aulas do pré-natal, por exemplo, foram feitas via Zoom. Tivemos que usar bichinhos de pelúcia no lugar do bebê.
Até teste de coronavírus eu fiz no meio do parto. Eu tive uma febre no meio do processo, provavelmente pela tensão da situação. Os médicos surtaram. Fiz um segundo teste, enfiaram aquele negócio no meu nariz enquanto eu empurrava a criança. Foi uma loucura.
Mas houveram momentos positivos. O Eduardo pode ser mais presente e, quando os dias começaram a parecer o mesmo, as novas fases da gravidez marcavam o passar do tempo. Foi uma experiência só nossa, não há como comparar com nada. Aprendemos a confiar mais no outro e acabamos ficando mais próximos.”
“O nosso filho ainda não conhece ninguém”
Eduardo Palma, 32 anos, designer e artista visual, pai de Martín, três semanas
“No começo da gravidez o bebê ainda estava no plano das ideias para mim. Eu não tive a oportunidade de ir com a Bárbara para o hospital, ela tinha de fazer os exames sozinha. Então o bebê existia, mas eu nunca tinha visto.
Senti muito medo. Quando a pandemia começou eu estava renovando o meu visto. Não sabia se poderia ficar aqui [o casal mora em Nova York] ou se teria que viajar para renová-lo. Isso foi muito difícil para a gente.
Eu tive que aprender a confiar na Bárbara. No começo, não confiava muito nela para limpar as coisas. Eu achava que ela estava muito relaxada [com a pandemia], que ignorava o fato de que tínhamos que limpar todas as superfícies.
Sempre pensei que fosse mais cuidadoso nessa área de saúde, mas durante a pandemia eu estava ansioso. Tivemos que conversar sobre isso e eu aprendi a confiar nela não só nesse aspecto, mas em outros também. Nossa confiança aumentou.
O começo da gravidez foi muito abstrato para mim. Mas hoje, tenho a oportunidade de ajudar mais. Pude ficar muito envolvido com todo o processo e posso ficar mais próximo dele. E eu gosto disso, de ficar perto.
Nós nos sentimos muito isolados. Nossos amigos têm tentado ajudar, eles mandam comida para nossa casa. Mas o nosso filho ainda não conhece ninguém.”
“Apesar das dificuldades do ano, a adoção foi uma parte muito especial”
Juliana Labaki, 48 anos, advogada e Guilherme Muniz, 44 anos, físico, pais do Tomás, 3 anos, e da Sofia, 11 meses.
Juliana. “É uma longa história. Há muitos que eu e o Guilherme estávamos juntos, tentando ter filhos, e não aconteceu. Entramos na fila da adoção há seis anos, mas mantivemos os tratamentos de fertilização.”
Arquivo pessoal
Guilherme. “E em um desses tratamentos, a Juliana ficou grávida do Tomás. É nosso filho biológico que está com três anos. Mas mesmo assim, continuamos na fila [da adoção], e éramos chamados de vez em quando pra atualizar o cadastro. É um processo superlento, e a gente já estava mais desencanado com isso, nem pensando tanto sobre o assunto. Mas aí eles ligaram.”
Juliana. “A Sofia, nossa filha, nasceu em Guianases (SP). Por conta da pandemia, o primeiro contato foi feito por vídeo: conhecemos a Sofia pelo Zoom. Tivemos alguns encontros virtuais, e aí só depois de umas duas ou três semanas, a gente se encontrou pessoalmente.”
Guilherme. “No momento em que a conhecemos por vídeo, ela ainda não é parte da família. Esse foi um dos pontos mais difíceis. Quando a gente vê pela tela, não reconhece ela como da família, é um processo, uma construção. A gente fica um tempo se perguntando se vamos seguir, se temos essa coragem. E por conta da pandemia, avisaram que a gente tinha uma semana para decidir – depois de alguns encontros online e quatro presenciais. Não podia mais visitar em casa e depois voltar pro abrigo porque tinha o risco do contágio. Então, no quarto e último encontro presencial, trouxemos ela para casa definitivamente.”
Juliana. “Tivemos algumas reuniões antes de conhecer a Sofia com uma psicóloga e uma assistente social. Foram todos muito cuidadosos, é um processo demorado, mas existe ali um cuidado, uma preocupação com a criança. Nos encontros virtuais era estranho porque existia uma vontade muito grande de encontrar, estar junto, pegar no colo. Foi muito diferente caso não tivéssemos pandemia, se não, desde o primeiro encontro teríamos visto a Sofia pessoalmente. E esse encontro pessoal é muito importante para o processo de adoção. O dia em que conhecemos a nossa filha, sem ser pela tela, foi decisivo. Foi quando a gente teve certeza de que ela viria pra casa. Ela dormiu no meu colo, brincamos com ela, foi muito especial.
Quando a Sofia chegou, o Tomás curtiu muito, ele estava bastante sozinho. Foi uma companhia importante pra ele. A gente flexibilizou um pouco a quarentena também, não dava para ficar longe dos primos, dos tios, dos avós. Essa fase é muito importante pra criação de vínculos da Sofia.”
Guilherme. “E nessa questão da adoção, as duas famílias, minha e da Juliana, foram bem acolhedoras. Isso foi muita sorte. Antes de tomar a decisão de adotar, a gente conversou com outras famílias que adotaram, para trocar experiências, entender algumas questões que a gente vai ter que enfrentar para o resto da vida. Uma delas é a questão racial.”
Juliana. “Um dos casais que conversamos foi muito importante no processo todo. Essa troca com os pais que passaram por isso é essencial. Não fizemos tantos cursos de formação para a adoção, então a troca foi nossa maior fonte de conhecimento. Na hora que te ligam do Fórum e dizem ‘pode vir buscar’ é muito intenso, é uma mistura muito louca de sentimentos, é medo, dúvida, euforia, alegria, angústia.”
Guilherme. “A gente tem muita angústia sobre tudo o que uma criança negra vai sofrer no Brasil violento que a gente conhece. Por isso, nos indicaram uma doula de adoção. É quase uma psicóloga, já com experiência tanto na questão burocrática do Fórum, quanto na questão racial. Ela que falou que essa angústia que a gente sentia era parte do processo. Era normal. A parte importante era a vontade de vencer essa questão, de lutar. O que importa é querer acolher e criar a família. Nessa hora, a questão do racismo e da violência fica um pouco de lado. A gente vai enfrentar.”
Juliana. “Chegamos a um ponto que não dá mais para não falar sobre isso. A pauta está aí. E a gente acredita que vai ser um mundo melhor para a Sofia no futuro. Essa questão precisa ser falada. As pessoas têm medo, têm inseguranças, mas o mais importante é acolher seu filho, acima de tudo.”
Guilherme. “Vale mais do que levantar bandeira.”
Juliana. “O que importa é que a Sofia foi bem recebida, bem acolhida. A gente ficou muito feliz com isso. Ela é outra criança de quando chegou e agora.”
Guilherme. “Mas isso tudo é extra pandemia, né? Foram os dois grandes eventos de 2020. E pra gente, apesar de todas as dificuldades do ano, a adoção foi uma parte muito especial.”
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