Vozes brasileiras no debate da emergência climática — Gama Revista
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Vozes brasileiras no debate da emergência climática

A COP26 foi dos ativistas do meio ambiente. Gama elenca algumas vozes dessa luta e eles falam sobre seus ideais, suas reivindicações, e defendem a importância da mobilização

Manuela Stelzer 09 de Novembro de 2021

No combate à emergência climática, estamos em uma corrida contra o tempo: pesquisas apontam que mais do que preservar é hora de começar a recuperar o que foi destruído. A urgência da pauta ambiental é a tecla que os ativistas já batem insistentemente há anos — e na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, chegou a vez deles.

Mesmo que o evento reúna líderes mundiais e direcione os holofotes para o debate climático, ainda falta eficiência, como afirma a ativista sueca célebre Greta Thunberg. Diante de manifestantes em Glasgow, na Escócia, ela disse que a cúpula do clima foi um “fracasso”, e que “deveria ser óbvio que não podemos resolver uma crise com os mesmos métodos que levaram ao início dessa crise”. Pela primeira vez, entretanto, lideranças indígenas ganharam voz e fundos inéditos na COP26, embora a delegação brasileira oficial não tenha incluído nenhum de seus representantes, tampouco ambientalistas.

A seguir, Gama elenca algumas vozes importantes no debate ambiental — sua história, origem e as principais pautas. A maioria fala direto da COP, em Glasgow, em meio a reuniões, entrevistas e debate pelo resgate do meio ambiente.

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    Humanizar o debate climático

    Mariana Belmont, 33 anos, jornalista e integrante do Instituto de Referência Negra Peregum

    Nascida no extremo Sul da cidade de São Paulo, no distrito de Parelheiros, Mariana Belmont sempre esteve conectada à natureza — próxima do mato, como ela diz, e com cachoeiras à sua disposição. “Nasci nesse lugar extremamente verde, de natureza, de vida pulsante, e é muito louco como peguei isso como uma causa. Nossa origem nos acompanha”, contou ela a Gama, enquanto acompanhava a transmissão da COP 26, da qual tem articulado e ajudado seus colegas de longe.

    Mariana participou do processo de criação das duas primeiras unidades de conservação no município de São Paulo: Capivari-Monos, e em seguida, Boreré Colônia. Depois da gradução em jornalismo, seguiu para o poder público: trabalhou na comunicação da Secretaria do Verde e Meio Ambiente de São Paulo, e também no ICMBio, um órgão ambiental do governo brasileiro. Em 2016, voltou para a sociedade civil, e hoje atua como articuladora e uma tradutora do que significa a crise climática. “Estou sempre nessa articulação, tentando trazer clima e cidade para o mundo real, tirá-los desse lugar de números e metas. Humanizar o debate.”

    Hoje, Mariana é colunista do Uol, além de integrante da UneAfro Brasil e do Instituto de Referência Negra Peregum. No movimento, sua principal pauta é a justiça climática — que, segundo ela, não se faz sem justiça racial. “Não dá para falar de uma coisa ou de outra, elas caminham juntas. É preciso trazer para a centralidade do debate ambientalistas periféricos, negros, marginalizados. Estou empenhada nisso.”

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    Questão de vida ou morte

    Paulo Ricardo dos Santos, 27 anos, coordenador do grupo de trabalho sobre mudanças climáticas no Engajamundo

    Hoje em sua terceira Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 26, Paulo Ricardo conta a Gama que não pensava em ser ativista climático. “Venho de escola pública, e o assunto não era tão latente nos espaços que frequentava.” Foi só depois da faculdade, na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, que a questão do clima ficou mais evidente, ainda que posta em uma linguagem complexa. “Foi quando conheci o Engajamundo. Estou lá desde 2017.”

    A ONG traduz assuntos técnicos do debate ambiental e social para uma linguagem acessível. A ideia é atrair jovens para atuarem na área, tanto em nível nacional quanto internacional. Para Paulo Ricardo, foi um processo orgânico. Inicialmente, ele queria impactar sua comunidade local — jamais imaginou que seu ativismo o levaria até a Escócia.

    “Quando falamos de ativismo contra as mudanças do clima, é uma questão de sobrevivência.” Ele explica que vem da periferia e que tem amigos negros, indígenas, periférios, e por isso, vê cotidianamente como esses são os grupos mais afetado pela crise climática. “Isso me traz preocupação e medo”, conta. Mas algo o mantém firme: “De forma muito particular, ver outros jovens interessados em participar do debate, em se mobilizar, é muito gratificante, dá esperança”.

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    Não desperdiçar nenhuma oportunidade

    Paloma Costa, de 29 anos, é assessora no Instituto Socioambiental e uma das sete ativistas nomeadas para grupo de consultores da ONU

    Depois de discursar na Cúpula do Clima das Nações Unidas, em Nova York, ao lado da ativista sueca Greta Thunberg, Paloma Costa mostrou para o mundo que “precisamos de ações, e não orações”. O que a ativista sempre quis é simples: ser ouvida.

    À Gama, ela conta que queria trabalhar com a pauta ambiental “desde pequena”. Começou a faculdade no curso de ciências sociais, mas migrou para o direito depois de se interessar por questões de justiça ambiental. Ao começar um estágio no Instituto Socioambiental, entendeu a urgência do debate, e como poderia alinhar seu propósito à defesa de povos indígenas. Em seguida, se juntou ao Engajamundo.

    “A pandemia nos mostrou que enfrentamos não só uma crise climática, mas uma crise estrutural. A agenda climática é um guarda-chuva que afeta tantas outras agendas. Precisamos articulá-las para garantirmos nosso presente e futuro”, diz ela. Não à toa que seu ativismo foi notado pela ONU: em 2020, Paloma foi uma das selecionadas pelo secretário-geral António Guterres a compor o Grupo Consultivo da Juventude sobre Mudança Climática. Na COP 26, depois que já perdeu as contas de quantas edições já participou, deixou claro o motivo de estar ali: “Como o governo só atrapalha, é a nossa oportunidade de falar sobre o clima, de lutar”.

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    Direito à vida

    Marcelo Rocha, 24 anos, fotógrafo e ativista em educação, negritude e mudanças climáticas no Fridays For Future Brasil e FFF MAPA (Most Affected Peoples and Areas)

    Natural de Mauá, região metropolitana de São Paulo, Marcelo Rocha notou, desde cedo, as dificuldades que o clima e o meio ambiente enfrentam. Próximo ao Rio Tamanduateí, que nasce no município, ele foi conselheiro municipal de Juventude de Mauá e trabalhou na manutenção do afluente do Rio Tietê. “Lá, comecei a perceber que quando perdemos recursos naturais, perdemos também o direito à vida. Perceber essa perda me motivou a buscar diálogo, e expandir aquilo que eu já fazia”, conta ele a Gama, direto da COP 26, segunda edição da qual participa.

    Rocha fundou e hoje é diretor do Instituto Ayika, uma organização que entrelaça temas como raça, clima, território e juventude. Também é ligado à Coalizão Negra por Direitos, uma reunião de entidades do movimento negro do Brasil, e já trabalhou com adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas na organização Ação Educativa. Neste ano, fez um TEDTalk sobre a emergência climática e como sua vivência na periferia o levou a se engajar nessa causa. Na última sexta-feira (5), durante uma manifestação em Glasgow, ele discursou para milhares de jovens — um dos convocados pela plataforma Fridays For Future, liderada por Greta Thunberg, para cobrar medidas concretas contra a crise climática. Em seu discurso, destacou a importância de se discutir o racismo climático e pediu atenção na hora de considerar as necessidades dos países em desenvolvimento. “Quanto mais descubro sobre o ativismo climático, mais tenho vontade de me envolver no debate.”

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    Proteção dos territórios indígenas

    Jaciara Beatriz, indígena do povo Borari, de 26 anos, é acadêmica de antropologia, faz parte da Associação de Mulheres Indígenas e é ativista do meio ambiente, além de articuladora no Engajamundo

    Representante do povo indígena Borari, uma aldeia de Alter do Chão, no Pará, Jaciara Beatriz é uma dos 13 jovens na delegação do projeto Engajamundo em Glasgow, para a COP 26. “Cresci dentro do ativismo. Sou ativista porque, quando defendo meu território, também defendo o clima”, diz ela a Gama, relacionando as reservas indígenas à proteção do meio ambiente. “Decidi seguir esse caminho porque se trata da minha vida, da ancestralidade do meu povo, também da natureza e da nossa Amazônia.”

    Jaciara é estudante de antropologia na Universidade Federal do Oeste do Pará, além de articuladora e facilitadora na organização de jovens Engajamundo, e integrante da Associação de Mulheres Indígenas, que combate a violência e o racismo contra a mulher indígena. Segundo ela, sua delegação está lá para mostrar o que realmente acontece no Brasil e com o meio ambiente — ao contrário da “farsa”, em suas palavras, que o governo prega. “Levar isso internacionalmente é um apelo para tentarmos frear a enrolação de promessas vazias”, conta. “Nós, indígenas, sabemos da importância e da riqueza da floresta em pé, e queremos mostrar isso para o mundo.”

Nescafé origens do Brasil

Conteúdo produzido como parte da Cobertura Especial sobre a COP26, realizada em parceria com Nescafé Origens do Brasil.

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