Eles constroem um futuro melhor hoje — Gama Revista
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Eles constroem um futuro melhor hoje

Jovens lideranças contam como despertaram para o ativismo, o que estão fazendo por um futuro mais sustentável e promissor — e por que você deveria estar fazendo o mesmo

28 de Setembro de 2021

Poluição, pandemia, desastres naturais. Os danos ao meio ambiente afetam a todos nós, mas impactam de forma direta os mais jovens, que já crescem sob a pressão da crise climática. Essa preocupação constante sobre o planeta e incerteza em relação ao futuro tem até nome: ecoansiedade.

Uma pesquisa encomendada pela Electrolux, e que contempla o Better Living Program — projeto da marca que visa proporcionar uma vida mais sustentável para seus consumidores até 2030, por meio de ações e metas alinhadas aos compromissos da ONU — ouviu cerca de 14 mil jovens de 15 a 20 anos de 13 países, incluindo o Brasil, e mostrou que 59% deles se sentem muito ansiosos sobre ameaças globais relacionadas à sustentabilidade. No Brasil, o número é ainda maior: 74% dos ouvidos dizem sofrer de ecoansiedade.

Ao mesmo tempo em que sentem os impactos da devastação do planeta, a geração Z, que já é considerada a mais ativista, também está disposta a fazer mudanças drásticas no estilo de vida em nome da sustentabilidade. O levantamento mostrou que 61% dos jovens brasileiros estão preparados para arregaçar as mangas para cuidar melhor do meio ambiente e que metade deles é otimista sobre o futuro.

Para entender quais são as principais ameaças que preocupam essa geração hoje e que soluções já podem ser postas em prática, Gama ouviu quatro jovens ativistas brasileiros engajados na defesa do clima, de uma economia sustentável e de um futuro melhor.

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    @victrbravo / Greenpeace

    “A gente não quer ter apenas um emprego, a gente quer viver por uma causa”

    Jovem embaixadora da ONU e fundadora do Perifa Sustentável, Amanda Costa quer democratizar o ativismo climático, levando pessoas da periferia à mesa de decisões

    A história de Amanda Costa com o ativismo começou em 2017, quando ela recebeu uma bolsa da organização internacional World YMCA para representar a juventude brasileira na COP 23, a conferência da ONU sobre o clima em Bohn, na Alemanha. Estudante de relações internacionais na época, ela conta que não se viu representada entre aqueles tomadores de decisão.

    “O que eu vi eram homens brancos, héteros, cisgêneros falando a partir da minha realidade, ou seja, como a crise climática vai impactar principalmente os povos vulnerabilizados. Aquilo me gerou um grande desconforto e pensei: ‘Quando eu voltar para o Brasil, o que posso fazer para me engajar nessa temática?’”, lembra.

    Desde então, ela entrou para o Engajamundo, uma organização de jovens ativistas, assumiu posições de coordenação, participou de outra edição da COP na Polônia e virou embaixadora jovem da ONU sobre o tema. Sempre, como explica, tentando trazer pessoas da periferia, da “quebrada” para a mesa de discussões. “Acredito que a minha geração carrega uma ousadia e uma disrupção no sentido de que a gente não quer ter apenas um emprego, a gente quer viver por uma causa”, diz.

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    Felipe Machado

    “Me preocupa essa carga que a sociedade coloca nos jovens”

    A catarinense Cristal Muniz, do movimento lixo zero no Brasil, diz que a geração Z cresce preocupada

    Cristal Muniz lembra de, muito criança, ter ouvido de uma professora no colégio que a água era um recurso muito importante que poderia faltar no futuro: “Isso fez despertar uma certa angústia em mim”. Mais tarde, quando foi morar sozinha, se preocupava com a montanha de lixo que gerava depois de fazer uma simples compra.

    Quando começou a pesquisar sobre lixo zero, conceito de promover o máximo de aproveitamento dos produtos com o mínimo de produção de resíduos, não conseguiu achar ninguém no Brasil que estudasse o assunto mais a fundo. Decidiu, então, fazer um blog em que compartilhava um pouco das antigas e novas angústias. Descobriu uma rede enorme de pessoas interessadas pelo tema, que além de comentar e adotar ações, também replicava algumas atitudes nas suas comunidades.

    “Entendi que tinha esse poder de influenciar as pessoas, uma coisa que ainda acho um pouco complicada de assumir, uma grande responsabilidade. Aprendo muito com as pessoas. Sempre falo que sou mais uma agregadora de informações. Meu papel é filtrar, coletar as melhores e mostrar para as pessoas”, diz a ativista, que soma mais de 250 mil seguidores só no perfil Uma Vida sem Lixo.

    A catarinense diz encontrar mais acolhimento das suas ideias entre os mais jovens. “É como se a geração Z já tivesse crescido com preocupações socioambientais e entendendo conceitos como feminismo e machismo”, diz. Ao mesmo tempo, se preocupa com a carga sobre os ombros dos mais novos. “A sociedade coloca toda a carga em cima dos jovens, que vão resolver. A gente precisa estar bem para conseguir enfrentar nossas batalhas porque quem estava aqui antes não se preocupou em fazer o mínimo.”

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    Divulgação

    “Só existe futuro com justiça climática, social, racial”

    Cientista social e ativista pelo clima, Iago Hairon acredita no poder de mobilização dos jovens

    Iago Hairon tinha 13 anos e vivia na região do recôncavo baiano quando ouviu pela primeira vez sobre aquecimento global. “Naquele época, a pergunta que mais me fazia era: ‘Por que será que não está todo mundo falando disso?’”

    Começou, então, a se envolver em movimentos voluntários como o Plant for the Planet, do qual é hoje vice-presidente, e Engajamundo, em que atua como conselheiro. Numa época de transições rápidas, ele acredita que os jovens de hoje começam mais cedo a se mobilizar pela internet e a pautar temas do seu tempo, como a emergência climática e discussões sobre gênero e sexualidade.

    A emergência climática, com efeitos que já podem ser sentidos hoje, como a crise hídrica enfrentada pelo país e a conta de energia mais cara, está no topo dos problemas a serem enfrentados, na opinião do baiano. Mas um futuro melhor, afirma, depende ainda de muitas mudanças a nível macro, com mais articulação política entre os jovens.

    “Só existe futuro com justiça climática, social e racial, transição energética, o fim da exploração de petróleo e a geração de empregos em setores da economia que dialoguem com a preservação do meio ambiente, e principalmente da floresta Amazônica”, diz.

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    Instagram / @mahryan

    “Nossa geração é muito mais do que uma hashtag”

    Diretora-executiva do Perifa Sustentável e embaixadora da juventude da ONU, Mahryan Sampaio diz que os jovens da geração Z são agentes poderosos de transformação

    Ativista, palestrante e estudante de relações internacionais, a paulistana Mahrian Sampaio conta que a trajetória nos movimentos sociais começou tão cedo que ela já não consegue dissociar da sua história de vida.

    “Sempre tive a transformação socioambiental como um grande ideal e missão de vida. Creio que todas as pessoas deveriam se perguntar: qual é sua pauta inegociável? Eu encontrei o meu porquê, e ele me diz que é impossível que eu viva em um mundo que não protege as pessoas e o planeta”, afirma.

    Para ela, o ativismo maior por parte dos jovens da geração Z vem de um inconformismo e da urgência que muitas dessas causas exigem, além de um senso de coletividade e responsabilidade social.

    “Somos a geração de cidadãos globais, que valorizam a diversidade e celebram as diferenças. Sabemos a força da globalização, da internet e das redes sociais, mas somos muito mais do que uma hashtag. Somos o futuro e o presente, protagonistas do nosso próprio destino, assim como agentes poderosos de transformação.”

    Cabe a esses jovens ativistas, afirma, o papel de engajar pessoas, empresas e governos na diminuição de desigualdades e impacto socioambiental. “Os líderes mundiais e empresas não estão investindo tempo e recursos suficientes compatíveis aos riscos das nossas ações à sociedade e ao planeta”, completa.

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