Ser verde nunca foi tão pop — Gama Revista
Getty Images/Thiago Quadros

Ser verde nunca foi tão pop

Para agradar consumidores e investidores, empresas ao redor do mundo veem no ESG uma solução para um futuro mais sustentável

Daniel Vila Nova 01 de Abril de 2022

Na ficção, a imagem do mundo corporativo está intrinsecamente ligada à ideia de lucro a todo custo. Seja em filmes ou em séries, grandes empresas e empresários costumam ocupar o cargo de vilões quando o assunto é sustentabilidade. A noção de que eles são inimigos do meio ambiente, no entanto, é cada vez mais refutada pelo setor privado na vida real. Tanto que uma nova sigla se tornou símbolo de tudo o que grandes companhias almejam para o seu futuro.

MAIS SOBRE O ASSUNTO
Das vitrines do centro de São Paulo, agora se vê arte
Até sua balada pode ser mais sustentável
Alê Youssef: ‘Studio SP reabre como local de resistência cultural contra a especulação imobiliária’

Se você faz parte ou se interessa pelo noticiário de negócios, essas três letras não saem da sua cabeça – ESG. A sigla, que significa Environmental, Social e Governance em inglês (Ambiental, Social e Governança em português), se tornou um norte para empresas nos últimos anos e vem ganhando cada vez mais importância. Cunhada em 2004 em uma publicação do Pacto Global da ONU em conjunto com o Banco Mundial, a sigla estabelece novos parâmetros a serem considerados na hora de realizar investimentos, além de servir como base para avaliação das práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa.

Boas práticas ambientais, sociais e de governança se tornaram atrativas no mercado

O leque do ESG é extenso e abarca inúmeras questões que estão sendo discutidas pela sociedade nos últimos anos. Enquanto o termo “Environmental” engloba a responsabilidade ambiental que as empresas possuem – da emissão de gases poluentes ao desmatamento –, a palavra “Social” fala sobre o impacto social que as companhias têm sobre o mundo – de leis trabalhistas à diversidade na composição da empresa. Por fim, “Governance” retrata as políticas e os processos administrativos de empresas – de mecanismos anticorrupção à transparência de dados. A governança tem papel especial dentro da lógica do ESG, visto que é ela a responsável por organizar e fiscalizar as atividades do restante da sigla.

A mudança, no entanto, não acontece somente pelo bem do planeta. Em um relatório levantado pela consultoria BCG, é possível entender que boas práticas ambientais, sociais e de governança se tornaram atrativas no mercado, possibilitando maior lucratividade e valorização da empresa.

Seja por amor ou por necessidade, uma nova lógica empresarial está surgindo e tomando o mercado. Entre mudanças radicais e uma nova perspectiva de funcionamento, Gama conversou com especialistas para entender como e por quê o mundo empresarial está se tornando cada vez mais verde.

Uma questão de sobrevivência

Apesar da sigla ESG ter sido criada em 2004, a comunidade corporativa só passou a adotar o termo de fato há cerca de cinco anos. Para Sonia Consiglio Favaretto, SDG Pioneer pelo Pacto Global da ONU e especialista em sustentabilidade, os elementos destacados pela sigla sempre foram importantes, mas não costumavam ser considerados em análises financeiras tradicionais. “Nos últimos 20 anos, os riscos ambientais, sociais e de governança foram alarmados por inúmeras pessoas. O que mudou é que eles passaram a se materializar como nunca antes nos últimos anos.”

De desastres ambientais à crises sociais, a urgência da agenda ESG nunca foi tão clara. “O empresariado percebeu que não é mais possível dividir o mundo em caixinhas, está tudo interligado. O que impacta o meio ambiente e o social impacta o econômico”, afirma Favaretto. Nesse contexto, o ESG se apresenta como um novo modelo de mundo. “É uma nova lógica de operar, de consumir e de fazer negócios que leva em conta questões sociais, econômicas e de governança.”

Em meio a essa nova percepção por parte dos empresários, um acontecimento global acabou acelerando todo esse processo e sedimentando de vez o ESG como o futuro do mundo empresarial. “A pandemia foi um grande divisor de águas para essa agenda. O mundo inteiro parou e, com a quarentena, as lideranças foram obrigadas a encarar essas questões.” A pandemia expôs inúmeras contradições no modelo vigente de sociedade e acendeu o alerta para o futuro não só da economia, mas da sociedade humana como um todo. Afinal, não há como ter lucro se o planeta deixar de existir.

Pelo bem doresultado econômico, as empresas têm de começar a levantar questões sociais e ambientais. É uma questão de sobrevivência

“A empresa foi feita para dar lucro, isso não muda”, diz Favaretto. O que muda, para ela, é o resultado que esse lucro pode produzir. “Pelo bem do próprio resultado econômico, as empresas têm de começar a levantar questões sociais e ambientais. Hoje, isso se tornou uma questão de sobrevivência.” Ela entende que a mudança ocorrerá por três vias: amor, dor ou inteligência. “O amor é a paixão pela causa, a mudança pela crença genuína de um futuro melhor. A dor é pela perda, a mudança pelo dano financeiro ou de reputação. E a inteligência é pela compreensão do contexto, por entender que essa mudança é o futuro.” De acordo com a especialista, aqueles que não migrarem para o novo modelo terão enorme dificuldade de operar no curto prazo e provavelmente deixarão de existir no futuro. “O mundo todo está indo nessa direção, quem chegar lá primeiro terá vantagem.”

Não conte, mostre

Além da urgência das pautas, outro fator que influencia bastante na equação a favor do ESG é a percepção pública. Cada vez mais, os consumidores estão escolhendo marcas com base nos valores propostos pela empresa. Nesse cenário, não é o suficiente fazer a diferença, é preciso também comunicá-la. “A sociedade, de um modo geral, tem rechaçado as empresas que não cumprem a cartilha do ESG.” Quem afirma isso é Hamilton dos Santos, diretor geral da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação Empresarial).

Para ele, organizações que queiram ter boa reputação no mercado têm de levar em consideração as melhores práticas e indicadores de ESG. “O retorno de uma empresa, até recentemente, era descolado da questão social, ambiental e de governança. Não é mais. Essa é a grande mudança”, afirma Santos. Hoje, investidores e consumidores olham para uma grande companhia e questionam se o impacto dessa empresa é positivo ou negativo para o meio ambiente e para a sociedade. “Quanto mais negativo, menos atraente se torna a empresa.”

“Não é de hoje que a responsabilidade das empresas vai muito além de apenas vender produtos ou serviços”, afirma Gabriel D’Angelo Braz, diretor de marketing da Heineken no Brasil. “Quanto mais elas se mostram cientes disso, por meio de ações concretas e alinhadas à essência da marca e às necessidades daqueles que se conectam com o negócio, maiores são as chances de sucesso”, relata o porta-voz da cerveja. Segundo ele, a Heineken busca agir de acordo com os valores e compromissos estabelecidos pela própria marca, criando assim uma conexão com o povo brasileiro. “Nós estamos constantemente avaliando o que é realmente importante para os nossos públicos, para as comunidades nas quais estamos inseridos e para o meio ambiente, pois temos o respeito como um de nossos principais guias.”

A pauta ESG se tornou uma questão vital para a comunicação empresarial

Na Aberj, um dos cursos mais procurados é o programa que estuda casos de ESG e suas aplicações no mundo real. “Essa pauta é cada vez mais relevante na hora das empresas definirem suas estratégias e campanhas de divulgação. Se tornou uma questão vital para a comunicação empresarial“, diz Hamilton dos Santos. O diretor da Aberje entende que, além de adotar as práticas ESG, as companhias têm a responsabilidade de disseminar a preocupação com fatores ambientais e sociais e demonstrar que o engajamento empresarial não faz parte de um suposto modismo. “Esses problemas existem e práticas não sustentáveis vão trazer prejuízos enormes para toda a sociedade. O papel dessas empresas é estimular essas boas práticas, divulgá-las e dar espaço para que a sociedade cobre esse engajamento.”

Braz concorda com a afirmação de Santos. “Mudanças efetivas e duradouras só são possíveis com esforço coletivo. Sendo assim, a Heineken vem fazendo a sua parte, colaborando para termos um futuro mais verde para as próximas gerações”, relata o porta-voz.

Um mundo mais verde

Em 2021, a Heineken lançou um projeto chamado “Heineken Energia Verde”. O programa visava facilitar o acesso à energia renovável em todo o território brasileiro e, em seu primeiro ano de existência, focou a iniciativa em bares e restaurantes. Com a chegada de 2022, os objetivos da marca de cerveja se tornaram ainda mais ambiciosos. O público da Heineken agora pode participar do projeto, de forma gratuita, e garantir o acesso à energia 100% verde dentro de suas próprias casas. “Neste ano, o movimento estende sua cobertura à casa dos brasileiros. Agora, as pessoas poderão solicitar para suas residências este serviço, contribuindo deste modo para o meio ambiente”, afirma Braz.

O projeto estabeleceu uma parceria com geradores regionais de energia renovável no país e, por meio desses geradores, oferece essa eletricidade para o cliente via usinas sustentáveis. Após esse processo, a energia é entregue à distribuidora local, que é informada que tal eletricidade deve ser creditada na conta do cliente. “O projeto de geração distribuída está diretamente conectado ao propósito da marca de contribuir ativamente para um futuro cada vez mais verde”, relata o porta-voz da marca.

Acreditamos na sustentabilidade como uma construção conjunta da indústria e da sociedade

Se a geração distribuída já é uma realidade na Europa e nos Estados Unidos, a Heineken busca consolidar o formato no Brasil. “Acreditamos na sustentabilidade como uma construção conjunta da indústria e da sociedade. Poder, de alguma forma, facilitar esse processo com uma ação concreta que entrega benefícios ao meio ambiente e às pessoas é uma grande conquista.”

Além da contribuição ambiental, a adoção do programa por parte do usuário também pode ajudar na redução de gastos com energia elétrica. De acordo com a marca, o benefício inclui descontos que podem chegar a 20%, dependendo do Estado. O serviço está disponível para moradores dos estados de Minas Gerais, Goiás, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e São Paulo. No restante do país, a previsão é de que o programa esteja disponível entre o segundo semestre de 2022 e o primeiro semestre de 2023. O cadastro pode ser feito no site do projeto e é possível fazer um levantamento de quanto será economizado na conta de luz mediante seu consumo mensal de energia.

Com o programa, o objetivo da Heineken é olhar não só para o processo interno, mas também expandir a mensagem sustentável para toda a cadeia, incluindo seus consumidores. “Acreditamos na efetividade de ações coletivas. O Programa Energia Verde pode estimular atitudes individuais que colaborem para a transformação das cidades em regiões mais sustentáveis, fomentando a apresentação de soluções, novas possibilidades e novas perspectivas”, finaliza Braz.

Quer mais dicas como essas no seu email?

Inscreva-se nas nossas newsletters

  • Todas as newsletters
  • Semana
  • A mais lida
  • Nossas escolhas
  • Achamos que vale
  • Life hacks
  • Obrigada pelo interesse!

    Encaminhamos um e-mail de confirmação