Os vencedores do Emmy que você precisa assistir
Conheça os favoritos da redação da Gama entre os vencedores da mais prestigiosa premiação da televisão americana
Realizado na noite de domingo (20) de maneira remota, o Emmy 2020 não foi exatamente cheio de surpresas — a não ser pela vitória avassaladora da comédia “Schitt’s Creek”, com sete prêmios. Ainda assim, a cerimônia, que foi marcada por certa frieza na apresentação virtual, ainda aponta para o que pode ser um excelente cardápio para escolher sua próxima série.
Se você ainda não assistiu a todos os vencedores, use esse pequeno guia do que vale a pena conhecer para colocar no topo da lista. Entre as histórias, uma família de bilionários pérfidos, as desventuras de uma dependente química e a jornada de transformação de identidade de uma mulher exemplificam a diversidade de temas no menu.
Abaixo, a seleção dos favoritos da redação da Gama.
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‘Succession’ (HBO)
Ricos, sujos e malvados
Uma família bilionária que representa o pior da humanidade. Eles são egoístas, gananciosos, cruéis e chiques demais. Em tons de preto, cinza e bege e em ambientes que vão de um castelo na Escócia a um iate, passando pelas instalações espelhadas de um conglomerado de mídia em Nova York, “Succession” (HBO, 2018-) nos mostra as movimentações da família Roy em um momento em que o patriarca Logan está próximo da aposentadoria e de olho em um eventual sucessor.
O filho mais velho, Kendall (Jeremy Strong), é preparado, mas emocionalmente instável, um ex-junkie constantemente humilhado que tenta provar seu valor, enquanto os outros três irmãos — a pérfida e calculista Shiv (Sarah Snook), o malvadinho boca-suja Roman (Kieran Culkin) e o delirante meio-irmão Connor (Alan Ruck, o Cameron de “Curtindo a Vida Adoidado”) — se digladiam pela preferência do pai.
A interpretação de Strong, premiado na noite de domingo com o Emmy de melhor ator de drama, está principalmente nos olhos e nos ombros do ator, ora oprimido, ora no ataque. Brian Cox, o rei Lear dessa história, é responsável por um dos momentos mais impressionantes da história recente da televisão — atenção ao último capítulo da segunda temporada. Além do prêmio de melhor ator de drama, levou os prêmios de melhor série dramática, direção e roteiro. (Isabelle Moreira Lima, editora executiva)
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‘Euphoria’ (HBO)
O magnetismo de uma jovem estrela
Ao ver a lista de filmes e séries em que Zendaya atuou desde a estreia no Disney Channel em 2010, nota-se que “Euphoria”, a série da HBO sobre uma adolescente com dependência química, é um salto muito alto. E que ela realiza com perfeição. Vencedora da categoria de melhor atriz de drama do Emmy, Zendaya é magnética, capaz de convencer sobre a realidade dos seus movimentos, ações e olhares, no primeiro segundo.
Em “Euphoria”, ela é Rue, que sai de um rehab no primeiro capítulo para a casa com a mãe e a irmã mais nova e sua vida escolar. Alheia a tudo e todos, encontra na amiga Jules (Hunter Schafer), uma menina trans, um conforto que jamais havia experimentado antes. As duas vivem uma amizade que é meio amor e que é muito confusa, como tudo na adolescência, e com complicadores no meio do caminho — traficantes e pedófilos, por exemplo. Nada poderia ser mais distante da Disney.
Vale também uma menção especial para os momentos em que Rue está sob o efeito das diferentes substâncias que experimenta nesta primeira temporada. (IML)
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‘Watchmen’, (HBO)
Vigilantes, justiça e racismo
“Quem vigia os vigilantes?” perguntava Alan Moore em 1987, quando o quadrinho “Watchmen” (1987) era lançado nos EUA. Tinta anos depois, Damon Lindelof — responsável por “Lost” (2004) e “The Leftovers” (2014) — retoma a pergunta de Moore e Dave Gibbons e a atualiza, abordando temas como racismo, supremacia branca e violência policial no caminho.
Na América alternativa de “Watchmen” (2019), disponível na HBO Brasil, onde a guerra do Vietnã foi vencida pelos Yankees e super-heróis andam pela terra, a tensão entre supremacistas brancos (inspirados em um vigilante do quadrinho original) e a polícia (que usa máscaras para esconder a identidade) cresce cada vez mais. Se a reimaginação da obra de Moore é digna de prêmios, com os Emmys de melhor minissérie e o de melhor roteiro, o destaque vai para Regina King (melhor atriz em minissérie) e para Yahya Abdul-Mateen II (melhor ator coadjuvante em minissérie). King, que já tem três Emmys e um Oscar, rouba a cena como Angela Abar, uma policial e vigilante que investiga a supremacia branca dentro e fora da polícia.
Além do sucesso na série da HBO, a atriz também é a primeira mulher negra a dirigir um filme exibido no Festival de Veneza. (Daniel Vilvanova, estagiário de texto)
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‘The Morning Show’, (Apple TV+)
Na noite escura da alma, é sempre 3:30 da manhã
O lançamento do canal de streaming da Apple era aguardado com ansiedade: grandes nomes na produção e atuação, parcerias incríveis, um cardápio que ia do drama à fantasia. E teoricamente tudo com o padrão de direção de arte, qualidade e acabamento pelo qual a gigante de tecnologia é conhecida desde sua fundação. Na prática… Aos trancos e barrancos, um dos poucos destaques da primeira leva de programação foi o drama “The Morning Show” (2020).
A série teve seu rumo alterado: a ideia inicial era mostrar os bastidores de um programa matinal de notícias de Nova York, e a corrida de popularidade dos âncoras para conquistar os corações da América. Na era do #MeToo, no entanto, a trama foi atualizada para contar uma história densa de sistemáticos abusos cometidos pelo personagem interpretado por Steve Carell (“The Office”), e a conivência da equipe e da emissora. Jennifer Aniston (“Friends”), indicada ao Emmy de melhor atriz dramática pelo papel de Alex Levy, parceira de Carell na bancada, perdeu o prêmio — mas segue sendo O principal motivo para se assistir: não há atriz melhor para interpretar uma queridinha televisiva em plena crise combustiva de meia-idade (atenção para a cena do casaco vermelho).
Fica o consolo: Billy Crudup ganhou o prêmio como ator coadjuvante, interpretando um executivo neoanarquista vale-tudo-pela-audiência, quase um Coringa quântico, causando caos e manipulando a todos da equipe com um sorriso sedutoramente assustador. (Guilherme Falcão, diretor de arte)
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‘The Last Dance’ (Netflix)
O último voo de Jordan
Poucos mortais chegaram tão perto da perfeição como Michael Jordan. Com uma habilidade divina — e um temperamento do Antigo Testamento –, o eterno camisa 23 encantou a NBA e o mundo durante a década de 1990. Entretanto, nem tudo foram flores. É o que nos mostra “Arremesso Final” (2020), disponível na Netflix, série documental que acompanha a última temporada de Jordan nos Chicago Bulls.
Em dez episódios, acompanhamos os altos e baixos carreira do astro do basquete: os acordos de patrocínios milionários, o comportamento tirânico com os companheiros de time, a obsessão pela perfeição e a estranha carreira de baseball. Tudo está lá, com direito a depoimentos exclusivos de Jordan e dos jogadores, técnicos, dirigentes e repórteres que o acompanharam durante toda a sua carreira.
A produção da ESPN e da Netflix venceu “A Máfia dos Tigres” (2020) e faturou um Emmy de melhor documentário. O sucesso foi tamanho que a Netflix e a ESPN produzirão uma série documental semelhante focada em Tom Brady, um dos maiores quarterbacks de todos os tempos. (DV)
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‘Unorthodox’ (Netflix)
O reinvenção de uma mulher
A série “Nada Ortodoxa” foi indicada a três categorias no Emmy, levou apenas uma — a de melhor direção de minissérie ou filme para a TV –, mas foi celebrada em todas. Até na surpreendente indicação da novata Shira Haas ao prêmio de melhor atriz, que com sua interpretação da protagonista Etsy desbancou outros grandes nomes na disputa.
Dividida em quatro capítulos, a obra retrata a jornada pessoal de uma jovem judia que foge de sua comunidade ultraortodoxa em Williamsburg, no Brooklyn, para reaprender a viver na Alemanha. Satmar é uma comunidade real, criada por judeus hassídicos sobreviventes Segunda Guerra. Com olhar atento para a intensidade e as especificidades culturais de um grupo conservador fundado sobre o trauma do genocídio, a série narra sob a perspectiva feminina o que é viver em um mundo impermeável à sociedade ocidental, que subalterniza mulheres, tira delas sua individualidade, e onde impera o medo constante de uma nova catástrofe.
É uma saga profundamente íntima, mas tão emocionante como um enredo investigativo. E está proibido assistir à série e não ver, em seguida,o making of, também disponível na Netflix, que mostra como foi a conversa entre ficção e realidade na produção da obra, que é baseada no livro de memórias “Unorthodox”, da escritora Deborah Feldman, nascida e criada em Satmar. (Laura Capelhuchnik, redatora)