Renata Gaspar mergulha no drama — Gama Revista
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Renata Gaspar mergulha no drama

Atriz se prepara para papel em novela das nove e estreia direção de montagem audiovisual de ‘In On It’, considerada clássico contemporâneo

13 de Agosto de 2021

“Algumas coisas acontecem porque foram cuidadosamente planejadas (…). E existem as coisas que existem a despeito do nosso controle. Coisas arbitrárias que podem mudar nossa vida e que parecem não fazer o menor sentido.” Assim começa “In on It”, novo projeto da atriz Renata Gaspar e que marca sua estreia na direção de teatro. Mais conhecida por seus trabalhos de humor na televisão — na Globo fez os humorísticos “Tá no Ar: a TV na TV” (2014-18) e “Fora do Ar” (2020) e a sitcom “Pais de Primeira” (2018) –, Renata agora mergulha em um texto que pode ser considerado um clássico contemporâneo em sua estreia como diretora e, como atriz, se prepara para viver um papel de carga dramática na TV: na próxima novela das nove, “Um Lugar ao Sol”, prevista para novembro, será uma manicure que sofre violência doméstica.

Escrita pelo dramaturgo canadense Daniel MacIvor, “In On IT” já foi montada no Brasil por Enrique Diaz, com sucesso de público e crítica e várias temporadas em cartaz entre 2010 e 2016. Agora, ganha versão audiovisual no Zoom entre 15 de agosto e 6 de setembro, aos domingos e segundas (ingressos vendidos aqui) . “Desde o começo a gente queria uma coisa diferente, já que a peça já tinha sido feita aqui, e de forma impecável. Então aproveitamos esse período para realizar uma experimentação no virtual”, conta. O convite para dirigir veio dos atores paulistas Luís Galves e Lucas Teixeira, com quem ela ensaiou por videochamada por meses até finalmente ocupar o cenário, um apartamento antigo na Avenida Paulista.

Divulgação / In on It

A trama de “In on It”, que aborda no primeiro momento um homem que escreve uma peça sobre um acidente de carro, acontece em diferentes tempos, planos e personagens. Para transmitir a mudança de “camadas”, Gaspar usou diferentes linguagens audiovisuais, inclusive com inserção de imagens entre as cenas. A interação entre os atores, porém, é toda em tempo real: “É praticamente um balé. Gravamos quase tudo em plano sequência, uma hora sem parar”, diz.

Em um momento em que algumas casas de espetáculo já reabriram mas ainda há receio quanto à segurança, a iniciativa corrobora com a opinião de quem acredita que a pandemia ofereceu ao teatro a (feliz) possibilidade de experimentar novos formatos e até atingir novos públicos, apesar do atual cansaço de telas.

O teatro já passou por muitos momentos difíceis ao longo da história, mas ainda está de pé. O teatro é uma ferramenta de cura.

  • G |No que vocês se inspiraram para criar essa versão de “In on it”?

    Renata Gaspar |

    O que eu mais vi nesse período foram peças que já existiam sendo transformadas para funcionarem no online. A nossa já nasceu como algo para o audiovisual. Eu me inspirei muito em planos-sequência que vi por aí, e também naquela linguagem de [séries como] “Fleabag”, em que o ator interage com o espectador olhando para a câmera. A gente fez toda uma pesquisa pra ver o que seria cada camada da peça, cada uma tem uma linguagem do audiovisual bem diferente uma da outra.

  • G |Na montagem original, o cenário era composto só por duas cadeiras e mudanças de luz. Como isso ficou nessa versão?

    RG |

    A gente trouxe uma linguagem mais cinematográfica, ocupando os espaços do apartamento. Eu falo que é quase como brincar de casinha: a gente começa na sala, depois vai para a cozinha – que vira um consultório médico –, e aí para a lavanderia – que vira um restaurante. E a gente não tem a pretensão de fazer as pessoas acreditarem que a lavanderia é um restaurante – aí tem bastante do teatro, que é esse faz de conta. Então por isso não é um filme, mas uma peça audiovisual. A riqueza do texto é a relação entre os dois personagens, que é muito dinâmica. E a gente mantém esse ritmo, mas, ao invés da mudança de luz que tinha no teatro, a gente muda a linguagem da câmera, e aí você entende que camada da peça mudou.

  • G |Qual o desafio de fazer teatro nesse novo formato?

    RG |

    O que talvez seja mais difícil é segurar o espectador no online, já que é um mundo muito novo ainda. É uma postura diferente de sentar no sofá e ver uma série. Mas a gente vendo o resultado final viu que segura, prende. Eu ainda tive a sensação de estar vendo uma peça, pensei “olha, é um espetáculo”.

  • G |Você acredita que esse hibridismo no teatro persiste depois da pandemia?

    RG |

    Tem gente que é contra, mas eu acho que se abriu sim uma nova linguagem, uma porta pra gente ser mais experimental, mais livre. Se vai durar ou se transformar mais eu não sei. Mas acho que é mais uma possibilidade para se expressar. E também tem a coisa de alcançar qualquer pessoa; minha amiga de Nova York pode ver essa peça sem ter que vir até aqui. Então isso pode até ser uma ferramenta para trazer mais gente para o teatro.

  • G |Como você vê essa volta do teatro, que já está rolando aos poucos?

    RG |

    É difícil ter uma visão do futuro nesse momento. Por um lado eu acho que uma hora vai voltar com força total, ainda mais porque vão vir muitos projetos que ficaram parados, que não puderam estar em cartaz. Em janeiro do ano que vem, por exemplo, queremos voltar com a  trilogia Placas Tectônicas, do Vinícius Calderoni. O teatro já passou por muitos momentos difíceis ao longo da história, mas ele ainda está lá, né. Eu acho que, quando algo preciso existir, só existe, não importa o que aconteça. O teatro é uma ferramenta de cura.

“In on It” está disponível entre 15 de agosto e 6 de setembro em sessões aos domingos e segundas, às 20h30. Ingressos por R$ 20.

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