As melhores séries de 2023 pela redação da Gama
O final dramático dos irmãos Roy, a rivalidade entre duas pessoas quebradas, um experimento social com a pessoa mais gentil do mundo, a jornada de vida de um grupo de amigos e um terapeuta que decide falar a verdade para os seus pacientes
O final dramático e shakesperiano dos irmãos Roy. Uma rivalidade engraçada e deprimente entre duas pessoas quebradas. Um experimento social surreal com a pessoa mais gentil do mundo. A jornada de vida — e de morte — de um grupo de amigos. Um terapeuta que decide falar toda a verdade para os seus pacientes. Esses foram as séries do ano para a redação da Gama em 2023.
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“Succession”, HBO
de Jesse Armstrong
Vamos ser sinceros, tinha como ser outra? O ano de 2023 foi dos Roys, nossos nepobabies favoritos. Se “Succession” começou sua jornada no pior horário da grade da HBO em 2018, o drama familiar e corporativo dos irmãos mais disfuncionais da TV americana terminou suas temporadas com o status que poucas séries atingem — era impossível sentar em uma roda de amigos ou ficar no Twitter sem que fosse O tema da conversa. A comoção não foi à toa. Guiado por performances poderosas, — destaco Kieran Culkin como o desprezível, mas igualmente adorável, Roman Roy e Sarah Snook, com as mil e uma faces da girlboss mais falha do mundo, Shiv Roy — a quarta temporada de Succession alçou a série ao panteão das melhores produções da HBO. Digno de uma tragédia de Shakespeare, não há momento de respiro ao longo dos dez episódios. O terceiro e o quarto episódio, então? A melhor televisão que já vi. E se, às vezes, ainda me pego pensando se Kendall Roy está bem após os acontecimentos do final, fico feliz em saber que a série soube quando parar. No auge. (Daniel Vila Nova, analista de redes sociais)
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“Beef”, Netflix
de Lee Sung Jin
Quando a A24, produtora norte-americana queridinha dos cinéfilos e cults, anunciou sua nova série, confesso que me empolguei. E não foi em vão. Uma mistura caoticamente precisa de comédia e drama, “Beef” é a própria definição de como elevar uma briga cotidiana à enésima potência. O elenco encabeçado por Ali Wong e Steven Yeun, ambos em estado de graça, despeja carisma nessa história inicialmente engraçada — e, mais tarde, um tanto deprimente — sobre duas pessoas emocionalmente quebradas que usam a rivalidade como escape para as frustrações de suas vidas. A narrativa sempre interessante, repleta de reviravoltas que brincam com nossas antipatias e preconceitos, é o que nos mantém presos a esses personagens, cuja existência é uma eterna busca por uma felicidade e um sucesso que nem eles mesmos sabem definir. (Leonardo Neiva, redator)
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“Jury Duty”, Amazon Prime Video
de Lee Eisenberg e Gene Stupnitsky
Se eu ainda fosse colocar uma criança no mundo nesta vida, eu o batizaria de Ronald. Este é o nome do protagonista da falsa série documental que acompanha o júri popular de um caso de negligência profissional. O julgamento é encenado, todos são atores, menos uma pessoa, o jurado Ronald Gladden, talvez a pessoa mais gente boa que a TV já viu. Ele passa semanas confinado em um hotel com atores vivendo as situações mais absurdas e não desconfia de nada. O que torna a série maravilhosa é justamente o desempenho deste ser humano doce e empático nas situações mais surreais. Entre os pontos altos, uma animação mostrada pelo advogado de defesa, que quase me tirou a vida: uma crise de riso tão forte virou crise de asma. Outro destaque é a atuação de James Marsden, que interpreta uma versão totalmente autocentrada e sem noção dele mesmo; além da cena de sexo implícito mais bizarra que a TV já foi capaz de produzir. (Isabelle Moreira Lima, editora executiva)
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“Fim”, Globoplay
de Fernanda Torres
“Fim” foi, para mim, uma série matadora. Não apenas porque os personagens centrais vão morrendo ao longo da trama (isso não é um spoiler!), mas por ter causado um impacto que me arrebatou. O último capítulo, sobretudo, ao colocar um ponto final na história daquelas existências de um jeito bonito e delicado, porém, muito triste, como costuma mesmo ser o fim. É também melancólico e engraçado — chorei e ri na mesma medida. Em dez episódios, a minissérie tragicômica do Globoplay fala sobre vida e morte, juventude, meia-idade e velhice e, principalmente, amizade. Num vaivém temporal, o programa, adaptação do livro homônimo de Fernanda Torres publicado em 2013, narra as experiências que marcaram a trajetória de um grupo de grandes amigos cariocas a partir da morte de Ciro (Fábio Assunção). Tem de tudo: frustrações, conquistas, companheirismo, amores, ciúmes, traições, segredos, festas, orgias, drogas e ressacas. (Ana Elisa Faria, redatora)
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“Falando a Real”, Apple TV +
Brett Goldstein, Bill Lawrence e Jason Segel
Imagine Harrison Ford chapado de maconha em uma festa de noivado gay. Se isso não basta para te convencer a assistir a “Falando a Real”, aqui vão mais dois motivos: a série é dos mesmos criadores da premiadíssima “Ted Lasso” e conta com ótima performance do protagonista Jason Segel, queridinho por seu papel na sitcom “How I Met Your Mother”. Na trama, Segel vive um terapeuta que, lidando com o luto de sua mulher, decide ignorar toda a ética e dizer a seus clientes exatamente o que pensa e como eles devem agir. Embora nos faça rir em muitas situações, a série aborda de maneira sensível o luto e as difíceis relações que o permeiam. Mas o que a torna realmente especial é o carisma dos personagens, com seus relacionamentos complexos e diálogos extremamente sinceros. A série é, inclusive, repleta de ótimas performances, mas é impossível não destacar a oportunidade de ver o brilhante Harrison Ford fazendo comédia, em um papel ácido de mentor ranzinza do protagonista que lhe cai surpreendentemente bem. (Isabela Durão, editora de arte)