Os aplicativos chineses que estão assustando os EUA — Gama Revista

Sociedade

Por que o TikTok incomoda?

© Costfoto / Barcroft Media

O possível banimento do TikTok é só a ponta do iceberg em uma Guerra Fria virtual, onde China e EUA disputam o controle da internet mundial

Daniel Vila Nova 21 de Agosto de 2020

As dancinhas do TikTok podem ser divertidas, mas Donald Trump não está rindo. Segundo aplicativo mais baixado em 2019, a plataforma de vídeos se tornou sucesso absoluto em solo americano — o que vem incomodando Trump. A preocupação com os aplicativos chineses por parte dos americanos é antiga, mas ganhou nova relevância com a chegada do TikTok em terras ianques.

O presidente americano considera o aplicativo uma ameaça à segurança nacional — além de travar uma contínua batalha política contra a China — e no começo de agosto, anunciou que proibiria o TikTok nos EUA.

A ByteDance — empresa responsável pelo TikTok — tem 45 dias para vender a operação americana do aplicativo para investidores do país (prazo que vence em 15 de setembro), o que evitaria o banimento do app. Nomes como o da Microsoft circulam entre as empresas favoritas para efetuar a compra, mas nem o próprio Bill Gates tem certeza de que essa é uma boa ideia.

Uma década atrás, as maiores plataformas da internet eram americanas. Hoje, seis das dez mais populares são chinesas

Além dos EUA, o TikTok também enfrenta problemas na França e na Índia e recentemente entrou na mira do Google por supostamente burlar as regras do Google Play e coletar dados de usuários sem permissão.

O episódio é mais um na longa saga envolvendo companhias de tecnologias chinesas e governos do mundo inteiro. Do mundo dos jogos eletrônicos a aplicativos de relacionamento, a China controla boa parte da internet mundial.

Em um discurso para a Universidade de Georgetown, Mark Zuckerberg afirmou: “Uma década atrás, as maiores plataformas da internet eram americanas. Hoje, seis das dez mais populares são chinesas”.

Gerenciados pela chinesa Tencent, gigantes do entretenimento virtual como League of Legends, Fortnite e Clash Royale são extremamente populares ao redor do mundo, especialmente nos EUA. Já o Grindr, aplicativo de relacionamento, se encontrou em situação parecida a do TikTok.

Criado na Califórnia, mas controlado pela chinesa Beijing Kunlun Tech desde 2016, o Grindr foi vendido após investigação do Comitê de Investimento Estrangeiro nos Estados Unidos.

Comprado por US$ 608 milhões pela empresa americana San Vicente Acquisition, o acesso chinês a dados de cidadãos americanos fez com que os EUA temessem uma possível chantagem a membros do governo. O Comitê de Investimento Estrangeiro dos EUA pediu para que a Beijing Kunlun Tech vendesse o app até o meio de 2020, e no começo de março, eles aceitaram o acordo.

Negócio da China

Com 1,4 bilhão de habitantes, a China representa a esperança de uma enorme fonte de renda para o mercado ocidental. Porém, empresas americanas encontram dificuldade no mercado chinês devido às medidas protecionistas do país que evita ao máximo utilizar aplicativos estrangeiros — chegando a banir alguns, como o Facebook.

O interesse de Mark Zuckerberg na China é antigo — por muito tempo, o sonho dele foi entrar no mercado chinês. Há quatro anos, Zuckerberg fez um discurso em mandarim, em Pequim, em uma tentativa de se reaproximar do país que baniu o Facebook em 2009.

Preocupado com a liberdade de expressão na internet? Ha quem enxergue as ações de Zuckerberg como uma vingança pessoal

Desde então, as críticas de Zuckerberg ao governo chinês vem aumentado e o empresário é visto como um símbolo da retórica americana anti-China. Preocupado com a liberdade de expressão na internet? Existem aqueles que enxergam as ações de Zuckerberg como uma vingança pessoal, afinal ele tentou comprar o TikTok e não conseguiu; ou até como uma tática para desviar o foco dos inúmeros erros do Facebook.

A preocupação com a segurança nacional e de dados pessoais na internet é válida, mas a própria imprensa americana aponta a hipocrisia de um possível banimento. Longe de resolver o problema de uso indevido de dados, o movimento parece mais uma ação política de Trump do que uma solução.

Com a corrida pela tecnologia 5G cada vez mais acirrada entre EUA e China, a presença chinesa nos Estados Unidos assusta os americanos. Afinal, os próximos anos provavelmente definirão quem controlará a internet e ninguém quer perder a nova Guerra Fria.

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