Cartas à mãe

Recados de amor, lembranças de tempos difíceis, recordações da criação, memórias da infância, um poema, pedidos de desculpa, textos de saudades e mensagens que demonstram enfim a compreensão do que é a maternidade, com toda a sua complexidade, dores e delícias.

Em homenagem ao Dia das Mães, Gama recorreu a alguns filhos de diversas áreas, como literatura, jornalismo, gastronomia, atuação, psicologia e maquiagem, para enviarem cartas às suas mães. Leia a seleção abaixo.

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  “Sua doação e entrega são o maior exemplo de humanidade possível”

  Aline Midlej, jornalista e apresentadora da Globonews e colunista do G1 e da Vogue, sobre a mãe Maria Aparecida, dona de casa

  “Dizem que quando nos tornamos mães, passamos a entender melhor as atitudes das nossas. Mas, hoje, gerando minha primeira filha, essa compreensão vai muito além. Não é que esse clichê do tal ‘amor incondicional’ existe mesmo? Sua doação e entrega são o maior exemplo de humanidade possível. Amor em estado bruto. Espontâneo. Sem elaboração. Sem expectativa. Presença pura. Hoje eu realmente entendo que a prática do amor incondicional eu tive e vivi pela sua maternidade. Graças a isso, existo como sou, na sensação de potência máxima, e me vejo com grandes chances de ser uma mãe para Celeste também existir como a mulher que quiser ser. O amor maternal constrói alicerces únicos e que nos sustentam pra vida. Muito obrigada, Cidinha. Você é a melhor!”

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  “Me desculpo por não ter reconhecido todo o esforço da maternidade”

  Vanessa Rozan, maquiadora, fundadora do Liceu de Maquiagem, apresentadora de TV e colunista da Gama, para a mãe Vania, professora de cosmetologia

  “Quero me desculpar com a minha mãe por todos os momentos em que não consegui reconhecer todo o esforço, o amor, o tempo que ela colocou para maternar a mim e ao meu irmão. Só pude entender e reconhecer essa dimensão depois que eu me tornei mãe. Eu preciso agradecê-la. Fui míope por normalizar essa relação. Agora entendo o quanto a maternidade é um ato de coragem, esforço, bravura e amorosidade de dimensões oceânicas. Agradeço por minha mãe ter me ensinado — mais pelas ações do que pelas palavras — tanta coisa.

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  “Minha madeleine é a camisa branca da minha mãe depois do trabalho”

  Fabrício Corsaletti, poeta, em trecho do poema “Minha mãe é minha dentista”, do recém-lançado “La Ley del Deseo y Otras Películas” (Ed. Corsário Satã, 2023) e escrito para a mãe Sônia Corsaletti, dentista

  “minha mãe é minha dentista
  meus dentes são lindos saudáveis
  não lembro de outra coisa na minha vida
  que seja linda saudável
  *
  minha madeleine é a camisa branca
  da minha mãe depois do trabalho
  seu cheiro de dentista

  uma vez fiquei atrás de uma dentista na fila do cinema
  reconheci o cheiro da minha mãe na hora
  tremi de alegria”

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  “Ao menos consegui falar que te amava mais que tudo nessa vida”

  Viviane Wakuda, confeiteira, sobre a mãe Fumie, que morreu em 2016

  “Já se passaram seis anos e ainda sinto tanta, tanta saudade. Ao menos consegui falar que te amava mais que tudo nessa vida. Tantas coisas aconteceram depois que você partiu… Eu finalmente abri uma loja, aquela que você sempre incentivou — e como você amava Choux Cream, comia uns três sozinha e eu ficava impressionada. Recentemente você se tornou batchan pela segunda vez. Giulia Hikari nasceu cinco dias antes do seu aniversário e tem o nome que significa luz ou raio de luz em japonês. Nunca imaginei que amaria alguém tanto quanto te amava. Ela tem poucos meses, mas é cheia de personalidade: agora começou a dar risada e a querer conversar, toda bochechuda. Você iria adorá-la e eu só tenho a agradecer a você. Enquanto enxugo as minhas lágrimas, percebo o quanto ainda sinto a sua falta. Prometo que farei de tudo para ser uma boa mãe, assim como você foi comigo. Obrigada por tudo, dona Fumie.

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  “Éramos praticamente apenas nós contra o mundo”

  José Falero, escritor, em mensagem-depoimento para a mãe Rita Helena

  “Mãe, nossa relação foi construída em meio a muitos problemas. Precariedades mil, falta de grana. Às vezes nenhum de nós estava trabalhando e passávamos fome ou comíamos com a ajuda dos parentes. Foi um inferno que durou muitos anos. Praticamente a minha vida inteira. Éramos duas criaturas muito tristes e revoltadas. Éramos praticamente apenas nós contra o mundo. Os dois deprimidos, os dois sem amigos ou lugares aonde ir. Mas sempre podíamos, e ainda podemos, contar um com o outro. Os meus arrependimentos em relação a senhora são de gênero. Hoje, olhando para trás, percebo algo que não consegui perceber durante a maior parte da minha vida: o quanto fui opressor com a senhora. Foram anos e anos sem que eu lavasse um prato, sem que eu lavasse uma cueca, sem que eu passasse uma vassoura no chão. Hoje posso não ser ainda um filho perfeito, mas me esforço diariamente para não te sobrecarregar, para que você tenha mais tempo para você. Mamãe querida, meu coração por ti bate como caroço de abacate”

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  “Todo o amor e a força que você me deu são meu chão emocional”

  Bárbara Colen, atriz, sobre a mãe, Loya, aposentada

  “Mãe, o que eu sou vem de você. Todo o amor e a força que você me deu e continua dando a cada dia são meu verdadeiro chão emocional. E foi sobre esse chão que pude construir minha autoestima e a minha coragem. Sei que você abriu mão de muitas coisas na sua vida por nós. Sei que talvez essa mulher que você é tenha se perdido e esquecido de si diversas vezes nesse caminho. Mas ela segue aí! Linda, potente, corajosa e cada dia mais conectada com seu próprio desejo. E te admiro profundamente por isso.”

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  “Eu sou porque você é”

  Aline Guedes, cozinheira e pesquisadora, para a mãe Ditinha, cozinheira aposentada

  “Quero te lembrar da mulher que mais me inspirou e segue me inspirando nessa vida. Foi você quem me fez enxergar no alimento uma forma de transmitir amor e por meio dele me aproximar de quem eu amo, além de ter me ensinado a ser forte quando eu tinha apenas vontade de chorar. A mãe incrível que você é me tornou a mãe que eu sou: eu sou porque você é. Você seguramente é a maior mulher de 1,47 m que eu conheço. Te amo, Dona Ditinha!”

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• “Minha mãe me ensinou a ser ético”

  Alexandre Coimbra Amaral, psicólogo, escritor e apresentador do podcast Cartas de um Terapeuta, sobre a mãe, Rosângela, também psicóloga

  “Minha mãe me ensinou a ser ético, justo e solidário. Fez, assim, a fundação do que eu vivo no cotidiano. Hoje, ela se transforma com o sabor da infância, sempre quer aprender coisas novas, questionando-se para pertencer melhor a si mesma e ao mundo. Ela se refaz como o tempo: jamais linearmente, mas soberana em sua constante caminhada. Amá-la é uma alegria. Viver cenas inesquecíveis com ela é um privilégio.”

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  “Se hoje eu pertenço a algum lugar, devo isso a ela”

  Flávia Alessandra, atriz, em depoimento para a mãe, Rachel Costa

  “Ser mãe é uma realização para mim. É um dos pilares da minha vida. É muito bom, porque sempre quis deixar uma semente minha plantada aqui, sabe? É maravilhoso porque consigo me ver em duas filhas tão diferentes, autênticas e com personalidades incríveis. Quando eu olho para elas e vejo os seres em que  estão se transformando, tenho muito orgulho em saber que tem uma semente minha em cada uma delas. A minha mãe sempre foi a minha grande apoiadora e incentivadora durante toda minha vida, em todos os passos que eu dei. Com certeza, se hoje eu pertenço a algum lugar, devo isso a ela. E é esse lugar de apoio, amor, carinho e acolhimento que quero ser sempre para as minhas filhas e, hoje, para minha mãe também.”

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