Qual o barato de viajar? — Gama Revista
Que tipo de turista é você?
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Depoimento

Qual o barato de viajar?

Conhecer o mundo, descobrir diferentes maneiras de viver, ter contato com outras realidades ou apenas sair da rotina. Confira depoimentos que inspiram a fazer as malas e respirar novos ares

30 de Junho de 2024

Qual o barato de viajar?

30 de Junho de 2024

Conhecer o mundo, descobrir diferentes maneiras de viver, ter contato com outras realidades ou apenas sair da rotina. Confira depoimentos que inspiram a fazer as malas e respirar novos ares

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    Arquivo pessoal

    “O barato de viajar é a incerteza daquilo que irá se descobrir do outro lado da colina”

    Yohan Nicholas, cabeleireiro e representante da beleza no Queer Eye Brasil

    “O barato de viajar é a sensação de descoberta, a incerteza daquilo que irá encontrar do outro lado da colina, depois da próxima curva, na próxima cidade…. E descobrir uma nova cultura, novos hábitos, nova culinária. A primeira lembrança de viagem que me vem à cabeça foi dar a volta inteira da Síria de carro antes da guerra. A segunda foi cruzar uma parte dos Andes bolivianos de moto, dormindo em barracas a 5 mil metros de altitude” (Depoimento a Luara Calvi Anic)

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    “Pude proporcionar a duas crianças negras a possibilidade de enxergar a viagem como uma ferramenta de educação, convivência, crescimento e aprendizado”

    Renata Felinto, artista e pesquisadora

    “O barato de viajar, para mim, está na possibilidade de ter contato com diferentes culturas e como essas culturas entendem investimento, alimentação, diversão, arte e relações com outras pessoas, sejam do mesmo grupo, sejam de grupos étnicos e raciais diferentes. É a oportunidade de ter outros parâmetros para compreender o lugar que ocupo no mundo, seja no meu território, seja me deslocando por outros territórios. Viajar é sempre um exercício de aprendizado, convivência e enriquecimento espiritual e humano.

    São muitas as viagens nacionais e internacionais que me marcaram, porém, a que me vem à memória é uma das mais recentes: a viagem que fiz em 2023 com minha filha e meu filho. Durante três meses, nos deslocamos e permanecemos em lugares na Pensilvânia, Nova York e Nova Jersey. Fui para realizar parte da minha pesquisa de pós-doutorado pelo Centro de Estudos Africanos da University of Pennsylvania. Foi uma pesquisa que se modificou durante seu curso porque tive que me dedicar às atribuições da minha maternidade e aos cuidados com Francisco, que na ocasião tinha nove anos, e com Benedita, que fez oito anos durante a viagem.

    Embora eu ainda não tenha concluído o pós-doutorado, que está em vias de finalização, pude proporcionar a duas crianças negras a possibilidade de enxergar a viagem como uma ferramenta de educação, convivência, crescimento e aprendizado. Mostrei a elas que temos o direito de ir para outros territórios e como seriam tratadas em um país muito conhecido pelos conflitos étnico-raciais. Para nossa surpresa, durante esses três meses, fomos muito bem tratados, tanto na Pensilvânia, onde ficamos a maior parte do tempo, quanto em Nova York e Nova Jersey. As crianças, mesmo pequenas, notaram que a formalidade e a gentileza com que fomos tratados não eram recorrentes em muitos lugares do nosso país. Existe, sim, uma tensão racial lá, mas também existe outro tipo de respeito por pessoas na nossa condição de existência. Eu, sendo uma mãe solo com duas crianças, e elas, tendo a total percepção dessa mudança de relação no espaço social e público.

    Só para complementar, não é à toa que essa questão do direito à liberdade e do direito a ter respeitada a sua especificidade se materializa nos Estados Unidos, com instituições voltadas aos grupos chamados minoritários politicamente, de maneira muito mais difundida do que no Brasil. Isso esteve presente na nossa passagem por esse país. Evidentemente, existem problemas também, mas esse aspecto nos surpreendeu bastante.” (Depoimento a Luara Calvi Anic)

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    “Viajando, conseguimos entender ainda mais as razões pelas quais aquele vinho é daquele jeito”

    Léo Reis, sommelier da Enoteca Saint Vinsaint e organizador da Feira Naturebas

    “O barato de viajar é conseguir se conectar com outras culturas. Trabalhando com vinho, quando estamos viajando, conseguimos entender ainda mais as razões pelas quais aquele vinho é daquele jeito, por que o produtor faz aquele vinho, quais foram as escolhas e as renúncias. Então, conseguimos nos conectar muito mais com as pessoas sobre as quais passamos o ano inteiro falando.

    Escolher uma única viagem, um único lugar, não é uma tarefa muito fácil. A França é um país que me cativa muito. Sou apaixonado pela cultura, pela gastronomia, pelos vinhos e pela música. A primeira vez que fui para lá foi algo impressionante. Eu me emocionei muito, em especial com uma região que se chama Jura. Foi uma viagem incrível, em que eu e minha esposa visitamos um produtor que amo e respeito demais. É um produtor muito famoso e muito conhecido no mundo do vinho natural, Pierre Overnoy, e é uma pessoa que vive de uma maneira muito simples, mesmo sabendo da fama e da potência que ele é.

    É claro que houve várias outras viagens incríveis — Geórgia, Itália, Espanha, Portugal —, foram mais de 20 países e mais de 500 produtores de vinhos naturais visitados. Mas, sem dúvida, se eu tiver que escolher uma única viagem e um lugar, é a França. Não é à toa que estou indo para lá pela nona vez e, para essa região que amo demais, estou indo pela quinta vez.” (Depoimento a Isabelle Moreira Lima)

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    “O barato da viagem acontece no offline”

    Titi Müller, apresentadora e atriz, foi VJ na MTV Brasil e apresentou o programa “Anota Aí”, no Multishow; hoje está à frente do Acessíveis Cast e Chilique Cast

    “Poucas experiências na vida têm o potencial de nos transformar tanto quanto uma viagem bem feita. Digo bem feita no sentido da imersão mesmo, porque me entristece um pouco ver pessoas de todos os lugares pegando um avião para tirar selfies. O barato da viagem acontece no offline. O mote da última temporada do meu programa de viagens foi “10 formas de sair do Brasil sem sair do Brasil”. E foi uma das temporadas mais legais de gravar. Eu me surpreendi muito mesmo, conheci vários lugares. Visitei um quilombo em Cachoeira, na Bahia, uma das melhores pautas entre quase mil que fiz ao longo de dez anos. Uma comunidade quilombola autossuficiente com um sistema matriarcal incrível. O Brasil é um país continental que abarca muitas culturas, realmente não precisa sair da fronteira para explorar o mundo.” (Depoimento a Leonardo Neiva)

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    “É ampliar o olhar sobre o mundo e jeitos de viver”

    Aline Midlej, jornalista

    “O barato de viajar é poder se ofertar uma nova rotina de sentir. Ainda que momentaneamente. Lidar de forma diferente com os horários, com as pessoas e cotidianos a sua volta. É ampliar o olhar sobre o mundo e jeitos de viver. E voltar com a mente transformada de uma forma que sejamos levados pra frente, de um jeito diferente do que estávamos antes. O barato é perceber que aquela viagem não só nos fez bem, mas nos fez melhores.” (Depoimento a Flávia Mantovani)

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    “É fascinante observar a comunicação, o estilo de vida, saber que somos tão diversos”

    Drik Barbosa, rapper e cantora

    “Sempre que viajo me dá uma satisfação imensa. Experiencio novos lugares, comidas e culturas, além de me conectar com as pessoas (a parte que eu mais amo!). É fascinante observar a comunicação, o estilo de vida, saber que somos tão diversos e que mesmo cada um tendo sua visão de mundo particular, estamos todos juntos nesta jornada, neste mesmo espaço. Meu trabalho com a música me proporciona viagens tão lindas, que fica até difícil escolher. A primeira vez que sai do Brasil e fui para Barcelona e Portugal pra cantar foi muito especial, porque viajar pela primeira vez por tantas horas me fez cair na real que o mundo é grande mesmo. Me senti uma gotinha no oceano e isso me inspirou a viver mais intensamente. Também me trouxe mais leveza pra viver sem tanta pressão. Existem muitos de nós e muitas possibilidades, foi bom me dar ainda mais conta disso.” (Depoimento a Emilly Gondim)

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    “Deslumbrar-se com a história, a topografia, a fauna e a flora de um lugar é um exercício de alteridade e respeito”

    Áurea Vieira, filósofa, assessora de projetos institucionais do Sesc SP

    “’Viagem: o único dinheiro que gastamos para ficarmos mais ricos.’ Ouvi a vida toda de minha mãe que viagens traziam uma transformação do espírito, no sentido filosófico mesmo. O ato de se deslumbrar com a história, a topografia, a fauna e a flora de um lugar é um exercício de alteridade e respeito às culturas, sua natureza e seus ancestrais. Meu marido e eu, quando escolhemos um destino de férias, vamos fundo na literatura, ouvimos as músicas e, sobretudo, pesquisamos comidas, bebidas e os hábitos mais frugais do roteiro que nos propusemos. Num desses itinerários memoráveis, fomos à África do Sul, levamos nossa filha de (então) 4 anos para fazer o famoso Safári recreativo no Parque Kruger, choramos ao visitar o Museu da Escravidão na Cidade do Cabo, vimos a cela e as condições desumanas da Ilha Robben onde Nelson Mandela ficou por 27 anos, nos surpreendemos com os vinhos autóctones e o exotismo das carnes de caça, pensamos nos portugueses e suas navegações do século 15 ao testemunhar o Cabo das Tormentas e descobrimos as nossas obras preferidas de uma arte contemporânea exuberante. Mas, inesquecível mesmo é o cor de rosa do horizonte na paisagem africana que insistiu, desde a primeira vez, em habitar minha mente para nunca mais ir embora. Cor de rosa que eu procuro ver de novo algum dia.” (Depoimento a Isabelle Moreira Lima)

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    “Viajar é o jeito mais interessante de se investigar, de saber mais sobre si”

    Lio, cantora da banda Tuyo

    “Viajar é o jeito mais interessante de se investigar, de saber mais sobre si. Ainda mais se você consegue ir sozinha. A gente sabe dos perigos do mundo mas eu me coloquei recentemente nessa situação: fui sozinha para Salvador pela primeira vez de férias. Já tinha visitado algumas vezes por conta do trabalho, mas nunca tive tempo de explorar e entender a cidade. Escolhi o período de São João para tentar experimentar Salvador sem milhões de turistas.

    Vivi dias de felicidade e de troca constante com moradores, sinto que entendi um pouco sobre ultrapassar a camada turística. Voltei para casa com lindíssimas paisagens na memória, amigas para a vida toda, uma receita incomparável de moqueca e uma percepção de Salvador muito diferente da que a gente vê na internet. Viajei para Salvador e para dentro de mim. Voltei de Salvador, ainda dentro de mim.” (Depoimento a Emilly Gondim) 

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    “Viagens sempre foram uma forma de renovar minha escuta”

    Christian Dunker, psicanalista e professor da USP

    “Viagens sempre foram uma forma de renovar minha escuta. Elas não precisam ser longas nem para lugares longínquos, mas, para mim, precisam de uma espécie de pretexto de pesquisa, algo que me tire de dentro de mim, sem me jogar na experiência difusa das trilhas turísticas e a mercê dos guias. Foi assim que busquei o vinho Comandaria, de Ricardo Coração de Leão, em Chipre, e a Igreja de Saint John’s em Malta, que me levaram a Petra. Um xamã curou minha dor crônica no pé, “xupando” a lagartixa que lá havia. O guia aborígene que me levou para seu acampamento no deserto da Namíbia, para ver aquele jogo da Copa. A casa de Ferenczi em Budapeste, a ilha onde foi encontrado o mais antigo xadrez na costa da Inglaterra, as paisagens que Matisse teria pintado no sul da França, a igreja de Saint Michaelis em Hamburgo, perto de onde ficava a casa de meus avós, durante a guerra, as folhas caindo lá fora, enquanto escreverei meu livro em Boston, ou a ilha Pinel, das Antilhas Francesas, assim como a Tortuguita e o Psicose, bares lendários nas imediações das universidades de Montevidéu e Buenos Aires. Tudo me acompanha quando viajo com meus analisantes.” (Depoimento a Flávia Mantovani)