5 dicas para ser um bom turista — Gama Revista
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Isabela Durão

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5 dicas

5 dicas para ser um bom turista

A experiência deve ser positiva não só para o viajante, mas também para o meio ambiente e os moradores do destino. Saiba como praticar um turismo responsável

Flávia Mantovani 30 de Junho de 2024

5 dicas para ser um bom turista

Flávia Mantovani 30 de Junho de 2024
Isabela Durão

A experiência deve ser positiva não só para o viajante, mas também para o meio ambiente e os moradores do destino. Saiba como praticar um turismo responsável

“Turistas, vão para casa”, “Pessoas moram aqui”, “Isto não é turismo, é invasão”. Com cartazes como estes, moradores de Barcelona, Ibiza, Amsterdã e outras cidades europeias vêm protestando contra o excesso de visitantes, incomodados com o barulho, a poluição, o lixo nas ruas e o aumento do custo de vida, que consideram culpa do turismo descontrolado.

Esses movimentos, conhecidos como anti-turismo ou “turismofobia”, são uma manifestação extrema de um fenômeno que contraria a ideia do senso comum de que a chegada de turistas é sempre benéfica para um lugar.

Em alguns destinos populares, o poder público tenta resolver a questão com campanhas educativas, incentivos para atrair viajantes na baixa temporada e até taxas e restrições ao número de visitantes.

Enquanto isso, aumentou a oferta de pousadas, agências de passeios e outros empreendimentos turísticos que se preocupam com o bem-estar da população local e se propõem a minimizar o impacto ambiental de seus serviços.

Eles entram no guarda-chuva do turismo responsável — também chamado de consciente ou sustentável —, uma forma de viajar que “torna os destinos melhores para se viver e se visitar”, nas palavras de Marianne Costa, CEO do Grupo Vivejar e cofundadora do Coletivo Muda (Coletivo Brasileiro pelo Turismo Responsável). “Antes de ser bom para o turismo, aquele lugar precisa ser bom para quem mora lá”, afirma.

Segundo a jornalista Ana Duék, mestre em gestão de turismo e criadora do site Viajar Verde, viagens responsáveis não são só para quem ama a natureza, não representam menos conforto nem necessariamente custam mais caro.

“Dá para ser mais consciente em todos os nichos de viagem: sol e praia, urbano, gastronômico. E existem opções para todos os bolsos: de hotéis de luxo a albergues e pousadas menores”, afirma.

Em sua opinião, incluir esses critérios ao planejar uma viagem não dá mais trabalho. “Não precisa radicalizar 100%, não é para atrapalhar suas férias nem interferir no seu bem-estar. Vai fazendo aos poucos, começa pelo que for mais fácil para você e aquilo passa a ser natural”, sugere.

A mudança de chave, afirma, é positiva não só para o planeta e para os moradores do local, mas para o viajante. “O que mais permanece nas nossas memórias de viagem são as conexões humanas, e o turismo sustentável é sobre conexões humanas. É sobre ter uma relação positiva com quem nos recebe”, diz.

  • 1

    Pense na sustentabilidade ao escolher destinos, hotéis e passeios –
    A jornada de um viajante consciente começa bem antes do embarque. Na escolha do destino, vale evitar aqueles que estejam muito pressionados pelo turismo ou optar por períodos de baixa temporada.

    Outra dica básica é reservar hospedagens, agências e empresas de passeios que adotem práticas sustentáveis. Um bom começo é pesquisar informações no site e nas redes sociais do empreendimento, mas mantendo o senso crítico se encontrar declarações superficiais e linguagem muito vaga. Não basta um empreendimento se dizer “sustentável”, “ecológico” ou “amigo do meio ambiente” se ele não traz nenhuma evidência ou exemplo de como faz isso na prática. Na dúvida, pergunte.

    Se a empresa tiver certificações, premiações e selos pode ser um bom indício, mas é preciso ter senso crítico, pois nem todos são sérios.

    Marianne Costa recomenda verificar se a empresa faz parte de associações e movimentos. “No turismo, é muito importante a tomada de responsabilidade coletiva. Muitas vezes o impacto de uma empresa sozinha é pequeno, mas isso se amplifica quando ela se junta a outras”, afirma.

    Um exemplo é o Coletivo Muda (Coletivo Brasileiro pelo Turismo Responsável), do qual ela faz parte, que reúne institutos, hotéis, agências e experiências de turismo responsável no Brasil. Outras fontes de busca são o Mapa Brasileiro de Turismo Responsável, do Ministério do Turismo, e o WTM Latin America Responsible Tourism Award.

  • 2

    Evite o avião ou neutralize sua viagem aérea –
    “Avoid the plane and take the train” (evite o avião e pegue o trem). A recomendação vem se popularizando entre turistas conscientes, especialmente na Europa, devido à alta emissão de gases que pioram as mudanças climáticas pela queima de combustível durante viagens aéreas.
    De fato, aviões emitem cerca de 100 vezes mais CO2 por hora do que ônibus ou trens. Em um estudo de 2022, pesquisadores calcularam que a aviação contribui com cerca de 4% do aquecimento global induzido pelo homem, mais do que a maioria dos países.
    Faz todo o sentido, então, optar por outros meios de transporte quando for possível. Mas essa não é a realidade em muitos países, inclusive no Brasil, com sua dimensão continental, estradas precárias e pouquíssimos trens de passageiros.
    Escolher voos diretos ou com menor número de escalas é uma forma de minimizar os danos. Mas a dica principal é compensar as emissões de CO2 de cada voo.
    As próprias companhias aéreas permitem pagar um extra pela neutralização ao comprar as passagens, mas há também calculadoras e plataformas independentes que fazem essa intermediação.
    O valor, em geral, é acessível. Compensar uma viagem aérea de São Paulo para Brasília, por exemplo, sai por R$ 8 no site Turismo CO2 Legal. Já uma viagem do Rio de Janeiro para Nova York pode ser neutralizada por R$ 40. É possível direcionar a doação não só para plantar árvores, mas também para remunerar comunidades tradicionais para cuidarem do ambiente onde vivem.

  • 3

    Compre localmente e remunere bem os moradores –
    Turismo responsável não deve ser bom só para o meio ambiente, mas também para a população local. Uma forma de incentivar isso é gastar o dinheiro com hospedagens, refeições e produtos oferecidos pelos moradores — e não apenas com grandes redes de hotéis ou de lojas, por exemplo.

    “Ao comprar localmente, você ajuda a impulsionar a economia, beneficia as comunidades e ajuda a reduzir a pegada de carbono do destino proveniente do transporte de mercadorias”, explica um informativo da ONU sobre o tema.

    Em algumas situações, isso pode significar escolher um produto um pouco mais caro, mas também mais autêntico e que gera renda para aquela população. Aquele souvenir que é vendido em massa e por um preço baratinho pode nem ter sido produzido naquele país — muitos deles são “made in China”, por exemplo.

    Marianne Costa chama a atenção para outra forma de valorização muitas vezes esquecida: a de remunerar as pessoas não só pela venda de um produto, mas também pelos serviços prestados em demonstrações e apresentações de uma tradição.

    “Se você vai a uma casa de farinha, por exemplo, você pode comprar a tapioca no final. Mas e aquela família que te recebeu, que fez a demonstração, que tirou suas dúvidas? Isso é tempo. O tempo que ela dedicou para fazer a farinha já foi gasto. Esse outro tempo também precisa ser remunerado”, afirma.

  • 4

    Evite interações com os animais silvestres. O lugar deles é na natureza –
    Assistir a shows de golfinhos, nadar com botos, subir em um elefante, tirar foto segurando um jacaré ou abraçando um coala… Por mais que esses passeios pareçam tentadores, é preciso ter cuidado. O entretenimento oferecido aos visitantes pode submeter os bichos a maus tratos, deixá-los estressados ou incentivar mudanças de hábitos.

    “Animais selvagens têm direito a uma vida selvagem”, defende a ONG Proteção Animal Mundial. De acordo com a organização, centenas de milhares de animais silvestres são explorados em todo o mundo para entretenimento e passam por um sofrimento “muitas vezes invisível aos viajantes” e “habilmente escondido pelos empreendimentos”. O site da entidade traz também exemplos positivos de passeios que protegem o bem-estar animal.

    “O lugar dos animais silvestres é na natureza. Eles não estão aqui para nos servir, nos entreter”, concorda Ana Duek. “A observação deve ser a distância — e é lindo vê-los em seu ambiente, com seu comportamento próprio, usando binóculos ou uma câmera. Não precisa trazer bicho para tirar foto”, acrescenta.

    A recomendação vale mesmo no caso de animais que não ficam em cativeiro. Para atrair botos ou golfinhos, por exemplo, guias ou os próprios turistas costumam oferecer comida. “Eles ficam sendo servidos constantemente de uma alimentação que não é própria deles, podem perder o instinto natural de buscar comida”, afirma a jornalista.

    E quando os bichos foram resgatados de situações de cativeiro e não podem ser devolvidos ao seu habitat natural? Ainda assim, a interação constante com diferentes pessoas pode ser estressante para o animal. “Quem deve interagir com eles são os tratadores, as pessoas que cuidam deles e às quais eles estão acostumados”, diz Marianne Costa.

    Para ela, não é por ser permitido pela legislação daquele destino que a atividade é eticamente válida. “Sabemos que muitas vezes a fiscalização é falha. Não há como garantir que aquele lugar cuida bem dos animais e oferece uma interação bacana. O turista responsável também é aquele que diz não”, afirma.

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    Não caia no estereótipo do ‘branco salvador’ –
    O turismo de base comunitária e o turismo voluntário oferecem a possibilidade de se aproximar dos moradores do destino de uma forma mais autêntica e aprofundada. Mas é preciso tomar cuidado com algumas situações que surgem desse contato.

    A exposição desrespeitosa dessas pessoas em vídeos e fotos de autopromoção nas redes sociais tornou-se tão frequente que passou a ser conhecida pela expressão “complexo de branco salvador”.

    Para não cair nessa, o primeiro passo é seguir regras básicas, como não tirar fotos sem permissão e não publicar nas redes sociais imagens de crianças sem a autorização dos pais.

    “Temos que ter cuidado para não espetacularizar a pobreza, para honrar suas histórias e não só chegar tirando um monte de fotos, tipo aquelas bem clássicas, do turista carregando uma criança negra ou indígena. São pessoas, não devem ser tratadas como atrações turísticas só porque você está pagando”, afirma Marianne, do Vivejar.

    Uma forma de melhorar a experiência para os dois lados é separar um tempo de qualidade para conhecer uma comunidade, e não só fazer uma visita de meia hora, comprar artesanato, tirar uma foto e ir embora.

    “É se permitir uma imersão, ouvir o que essas pessoas contam, participar de uma roda de conversa, uma oficina de artesanato ou de gastronomia. É se permitir ser transformado a partir dessa relação com a comunidade”, completa.