Conheça empreendedores que começaram na pandemia — Gama Revista
Dá pra arriscar?
Icone para abrir
Arquivos Pessoais

3

Uma turma

Empreendedores da pandemia

Por necessidade ou ousadia, esses profissionais começaram ou investiram em suas pequenas empresas e startups do ano passado pra cá

Betina Neves e Manuela Stelzer 16 de Maio de 2021
Arquivos Pessoais

Empreendedores da pandemia

Por necessidade ou ousadia, esses profissionais começaram ou investiram em suas pequenas empresas e startups do ano passado pra cá

Betina Neves e Manuela Stelzer 16 de Maio de 2021

Em 2020, o Brasil bateu um recorde no empreendedorismo: foram mais de 3,3 milhões de empresas abertas. A maior parte delas (2,6 milhões) do tipo microempreendimentos individuais (MEIs), segundo dados do Portal do Empreendedor, do governo federal – o número de MEIs cresceu 8,4% em relação a 2019. Em meio ao cenário pandêmico de crise e incerteza e com o desemprego na casa dos 14%, porém, esse crescimento pode estar mais relacionado à necessidade: empreender também virou estratégia de sobrevivência.

Gama conversou com cinco profissionais que, por motivos diversos, começaram a empreender nesse período. Para os que já estavam com as ideias estruturadas quando a pandemia estourou, os efeitos variaram de acordo com a natureza do negócio: alguns tiveram que reestruturar o plano todo para se adaptar ao contexto; outros precisaram lidar com os desafios impostos pela impossibilidade de vender presencialmente. Mas houve também quem se beneficiou com as novas dinâmicas impostas pela covid-19. Abaixo, conheça a história deles.

  • Imagem
    Arquivo Pessoal

    Thais Alves, da Qumbe Doces Africanos

    O negócio de confeitaria traz receitas diferentes países africanos

    Para a paulistana Thais Alves, 45, o ato de empreender veio junto com seu processo de autodescoberta e busca pela ancestralidade. Depois de sair da multinacional de telefonia onde trabalhou por 11 anos, ela tirou um tempo para cuidar da filha recém-nascida e estudar confeitaria. Thais já fazia bolos e biscoitos para vender quando, em 2019, foi participar do programa de capacitação da empresa Afrolab. “Ali me reconheci uma mulher negra e mudei minha ideia de negócio”, conta.

    Para isso, ela pesquisou receitas de países como Congo, África do Sul, Gana, Guiné e Benim. O “qumbe”, que dá nome à marca, é um docinho de caramelo, amêndoa e leite de coco. Ela também prepara a “torta do general,” de damasco e merengue de coco, e a “trufa de quitaba”, de amendoim, pimenta malagueta e chocolate. Em dezembro do mesmo ano, apresentou a Qumbe Doces Africanos na Feira Preta, evento em São Paulo (SP) que reúne afroempreendedores.

    Quando a pandemia começou, Thais viu os planos de participação em feiras gastronômicas (e até uma presença já confirmada na Festa Literária Internacional de Paraty) serem inviabilizados. “Meu desafio na pandemia é fazer as pessoas conhecerem meus doces, porque os nomes causam estranhamento. Nas feiras eu podia oferecer degustações”, diz ela. Por enquanto, Thais vende os doces por encomenda e delivery e por meio de canais online como o Afropolitan e o Mercado Black Money. A divulgação também tem vindo por outros meios, como a participação no reality “Que Seja Doce”, da GNT, no começo deste ano.

  • Imagem
    Arquivo Pessoal

    Khalil Yassine, da Dolado

    Uma plataforma de e-commerce para pequenos comerciantes

    Engenheiro apaixonado por tecnologia, o paulistano Khalil Yassine, 26, é filho de um pequeno comerciante. Em 2019, começou a se inteirar dos problemas que o pai tinha com o negócio, como a carência de tecnologia personalizada e a complexidade de compra de mercadoria. Se uniu então a dois amigos empreendedores experientes para criar uma startup que resolvesse digitalmente as questões de logística e abastecimento desse público, cuja gestão ainda é majoritariamente analógica.

    Com a Dolado pronta para ser lançada, a pandemia bateu na porta. “O momento criou desafios ainda maiores para o pequeno comerciante. Tivemos que ‘jogar fora’ tudo que tínhamos e nos adaptar”, diz Khalil. Daí, mudaram o foco e passaram a oferecer uma plataforma em que o comerciante pode criar um catálogo online para compartilhar os produtos com os clientes e manter as vendas mesmo com as portas fechadas.

    Hoje, mais de 6 mil pessoas já aderiram à solução da startup em São Paulo, na capital e no interior. A equipe da empresa se divide entre as regiões atendidas e ensina presencialmente os comerciantes a usarem o sistema e montarem sua loja online. “Nossa ideia é ajudá-los a manter o negócio na pandemia e ir pensando em mais produtos que possam resolver outras dores do dia a dia quando isso passar”, diz ele.

  • Imagem
    Arquivo Pessoal

    Rachel Leão, da Miscelânia

    Consultoria, curadoria e delivery de plantas

    “Planta virou um must have”, diz a produtora carioca Rachel Leão, 39, se referindo ao aumento da procura por plantas para cultivar dentro de casa durante o isolamento. Na área de marketing e eventos desde 2008, Leão se viu sem emprego da noite para o dia e, quando percebeu que o vírus ia durar (e o dinheiro, acabar), precisou se mexer. O gosto pelas plantas vem de antes, da infância próxima da natureza. Durante a quarentena, acompanhada dos 25 vasos que tinha no pequeno apartamento em São Paulo, viu no verde uma oportunidade.

    Assim, tirou um sonho do papel: a Miscelânia, com a qual ela oferece delivery e consultoria de plantas. No meio da pandemia, saiu de São Paulo para voltar a Florianópolis, cidade onde morou por um tempo e onde vivem os pais — e a empresa foi junto. Hoje, por videochamadas ou de forma presencial, Rachel faz um estudo sobre a iluminação na casa e a rotina do cliente e propõe as melhores espécies para o perfil dele, além de dar dicas sobre cuidado e cultivo. Também funciona como “shopper”, fazendo a compra e entrega das plantas.

    O desafio de empreender totalmente sozinha permanece, já que, além do projeto, trabalha em home office como assistente de recursos humanos numa empresa. Mas Rachel pretende continuar e ir mais longe: “Quero que a Miscelânia se torne uma loja de plantas com um bistrô de comida orgânica”.

  • Imagem
    João Pina

    Alex Rocco, da Copão

    Pães artesanais feitos no Edifício Copan, em São Paulo (SP)

    Durante anos, o andreense Alex Rocco, 43, atuou na área de produção editorial, bem longe do fermento e da farinha. Com a morte da mãe, enfrentou o luto cara a cara e ressignificou tudo à sua volta — incluindo o trabalho –, e resolveu tentar um curso de fermentação natural. “Quando mudei para o Copan, senti falta de boas opções de lugares para comprar pão por perto”, diz. Um pouco antes do início do curso, foi demitido do antigo emprego e se jogou de cabeça na nova atividade.

    O cheiro que inundou o apartamento nas primeiras fornadas trouxe memórias afetivas da infância, quando a mãe assava pães nos fins de semana. “Era como se ela estivesse ali comigo.” No começo, ele fazia só para ele e o marido; depois, passou a vender para amigos próximos. O boca a boca cumpriu sua função para expandir a clientela e, em 2020, em plena pandemia, a padaria Copão virou um negócio de delivery de pão que ele divulga por meio do perfil no Instagram.

    O pequeno forno do apartamento passou a não dar conta da demanda e Alex precisou investir em novos equipamentos. Com fornadas às quartas e sábados, ele vende cerca de 150 pães e 40 bolos por semana, além de cinnamon rolls e folhados. “Já estou olhando pontos físicos. Meu sonho é que seja aqui no Copan ou nos arredores”.

  • Imagem
    Arquivo Pessoal

    Eduardo Cordova, da Market4u

    Uma startup que instala mercadinhos dentro de condomínios

    O início da curitibana Market4u, que dispõe minimercados autônomos dentro de condomínios comerciais e residenciais, em fevereiro de 2020, teve um quê de visionário. A proposta da startup caiu como uma luva ao ambiente pandêmico, no qual as pessoas passaram a buscar soluções para fazer compras sem sair de casa. “A gente cumpriu nosso plano de expansão para cinco anos em 2020”, conta Eduardo Cordova, 32, fundador da empresa. “Ao mesmo tempo, a pandemia trouxe uma quantidade enorme de concorrentes.” Hoje, a startup tem 300 pontos de operação própria em Curitiba e São Paulo e quase mil unidades franqueadas por cidades como Rio, Recife e Maceió.

    Eduardo, formado em contabilidade, já tocava a empresa Byke Station, uma rede de franquias de máquinas de venda com produtos para ciclismo. Dali, identificou a demanda por comidas e bebidas e tirou a ideia de abrir as lojas de conveniência em condomínios. Entre geladeiras, adegas e gôndolas, produtos alimentícios diversos, bebidas alcoólicas e não alcoólicas e artigos de higiene são vendidos por meio de um aplicativo — não há atendente — e o mercado fica aberto 24 horas. A oferta de produtos varia, podendo incluir produtos de restaurantes e padarias locais e até comidas feitas por moradores. “Nossa ideia é cada vez mais customizar os mercados e também fomentar o comércio da região onde eles estão.”