Histórias profissionais inspiradoras que Gama contou em 2023 — Gama Revista
Curriculum Vitae

Histórias profissionais inspiradoras que Gama contou em 2023

Uma ativista, um ator, um arquiteto, uma jornalista, uma sommelière e uma técnica de enfermagem: profissionais de diferentes áreas compartilham aprendizados, além de relembrarem êxitos e frustrações do ofício

Ana Elisa Faria 04 de Janeiro de 2024

Dicas e lições profissionais de quem está na labuta há tempos são sempre bem-vindas. Não importa a área de atuação — seja a política, a arquitetura, o jornalismo ou a enfermagem —, os ensinamentos, as experiências e as reflexões de outros especialistas nos ajudam, por exemplo, a antecipar possíveis problemas e a repensar caminhos.

Durante o ano de 2023, na seção Curriculum Vitae, Gama conversou com pessoas que trabalham no setor público, no privado, em negócios independentes; gente que faz arte, ativismo, que atua na saúde, que encabeça projetos pela democratização da habitação; mulheres que, diariamente, lutam contra o machismo do meio em que atuam; brasileiras premiadas no exterior; profissionais bem-sucedidas mas que, exaustas, decidem trabalhar com outra coisa.

Independentemente do contexto, entre perguntas sobre os desafios da carreira, a sensação de realizar grandes feitos e os aprendizados mais valiosos, selecionamos seis conselhos imperdíveis que os nossos entrevistados dos últimos 12 meses compartilharam. Quem sabe algum deles — ou alguns — não traz insights e inspirações para a sua trajetória profissional?

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    Denise dos Santos

    “Depois de seis anos na política institucional, fui me transformando muito”

    Áurea Carolina, ex-deputada federal e diretora-executiva da ONG Nossas

    “Foi uma experiência [a de entrar para a política] de muita paixão. Uma loucura, um encantamento, uma vontade de fazer e acreditar. Tinha uma coisa pessoal, uma identificação muito grande. Ainda guardo isso, mas a experiência vai calejando. Depois de seis anos na política institucional, fui me transformando muito. A maternidade, a própria dinâmica de poder, a violência política, não ter tempo para nada… Eu não tinha dia livre nem descanso, não conseguia conciliar tanta coisa. Então botei na balança e senti que não valia mais a pena. Sabe aquele brilho que eu tinha? De repente, comecei a me perguntar: o que estou fazendo aqui?”

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    Mariana Ricci

    “Numa sala de 20 alunos na USP, eu era o único negro. Quantos como eu teriam essa chance? Precisava transformar isso em teatro”

    Clayton Nascimento, ator, dramaturgo e professor, ganhador dos prêmios Shell e APCA pela peça “Macacos”, sobre racismo estrutural no Brasil

    “Levei sete anos para compor [a peça “Macacos”]. Ela começou como uma cena de 15 minutos sobre divas pretas. Fui olhar para mulheres como a diva do jazz Bessie Smith e Elza Soares. Elza foi muito aclamada, mas passou por dificuldades financeiras e foi vista como uma ameaça à família tradicional. Notei um padrão de tratamento aos artistas negros. Quando fazem sua arte, são reverenciados, mas depois voltam a ser refutados pela própria sociedade. Decidi escrever sobre esse padrão. Aí chego em casa, ligo a TV e vejo o goleiro Aranha sendo xingado de macaco pela torcida do Grêmio. Então comecei uma saga de sete anos de estudos na USP para descobrir as origens desse xingamento. Foi uma navegação longa e profunda em que, quanto mais eu estudava, mais percebia que tinha que estudar. O xingamento vem desde quando os franceses tentaram colonizar o Brasil. Com a Corte portuguesa, começou um show de horrores, uma caça aos quilombos. Levaram crianças negras e indígenas aprisionadas à Europa, e o xingamento se repetia lá. Estudei saneamento básico, educação e segurança pública no Brasil. Até que me vi numa sala de 20 alunos na USP, e eu era o único negro. Quantos como eu teriam essa chance? Precisava transformar isso em teatro.”

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    “Gosto de trabalhar na chave da reparação, e não da denúncia”

    Renato Cymbalista, professor de arquitetura da USP e diretor do Fundo Fica, programa de democratização da habitação no centro de São Paulo

    “Não acho que tenho uma missão, mas existem coisas que me fazem mais e menos feliz. O modo de denúncia, reivindicação e crítica ao governo não me deixa feliz. Propor uma coisa nova inclusive para o governo, uma outra forma de fazer as coisas, sim. Em vez de pedir dicas, a gente oferece uma política baseada em moradia sem fins lucrativos. Somos uma entidade transparente, com relatórios anuais publicados, auditada, com recursos e fundos. Tudo está prontinho, só precisa fazer. Isso me faz bem e me deixa muito feliz. Gosto de trabalhar na chave da reparação, e não da denúncia. Até porque, como homem branco de elite, coberto dos privilégios que tenho como professor da universidade pública, estou muito mais na missão de reparar do que no direito de denunciar. Uma consequência do trabalho com memória e direitos foi o convite para participar como um dos diretores na Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento da USP. Sou o primeiro diretor que se dedica a situações de assédio e violações de direito na universidade, a qualificar e capacitar a comunidade e fazer as necessárias ações de reparação, reconhecendo que a USP também produziu muitos silenciamentos, muitas violações.”

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    Globo/Manoella Mello

    “Hoje, nós, as mulheres da área, conversamos mais e nos ajudamos muito. E é isso que faz a gente crescer”

    Renata Mendonça, jornalista e comentarista esportiva do SporTV

    “Eu acho que hoje, nós, as mulheres da área, conversamos mais e nos ajudamos muito. E é isso que faz a gente crescer. Até outro dia, as mulheres ficavam isoladas, choravam no banheiro. Agora, podemos até chorar, mas choramos juntas. Isso pode parecer bem bobo, porém, é algo que ajuda a nos fortalecer e também a seguir na caminhada. Porque se você está chorando sozinha no banheiro, a chance de sair e procurar a porta para ir embora é maior, mas se você consegue encontrar outras mulheres ali que te apoiam, que te ajudam, que choram junto com você para que um dia ninguém mais precise chorar, vocês conseguem avançar juntas. Aprendemos esta lição: ou a gente avança juntas ou ninguém vai avançar. Essa é, para mim, a maior conquista que tivemos no esporte na última década. As mulheres finalmente se encontraram e perceberam que são mais fortes unidas. Ainda somos a minoria nesse meio, mas somos muito mais fortes porque entendemos a importância de estarmos juntas.”

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    Divulgação

    “É um título novo, sou a primeira a recebê-lo: uma estrangeira, mulher, de visão nada ortodoxa. É algo raro por várias razões”

    Gaby Benicio, eleita em 2023 a melhor sommelière da França pelo Guia Michelin

    “Achei incrível ganhar um prêmio que é tipo o Oscar na minha categoria. Fiquei bem surpresa. É um título novo e eu sou a primeira a recebê-lo: uma estrangeira e, além disso, sou mulher, então, é algo raro por várias razões. Inclusive, o trabalho que eu pratico não é nada ortodoxo, é uma sommellerie afetiva, sensorial. Eu parto sempre não de etiqueta, mas dessa noção de degustação, dessa experiência íntima da degustação. E acho muito incrível que esse trabalho, que é totalmente atípico, seja recompensado. É bem interessante.”

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    “Eu amo trabalhar no SUS, principalmente com a vacinação. Amo poder brincar com uma criança e evitar que ela sinta medo”

    Cilene Soares, técnica de enfermagem do SUS que trabalha na área de vacinação

    “Nunca passou pela minha cabeça desistir. Passei por situações que a minha família queria que eu largasse o curso e desistisse porque era muito difícil… Mas eu amo trabalhar no SUS, principalmente com a vacinação. Amo poder brincar com uma criança e evitar que ela sinta medo, gosto de falar: ‘Você não vai chorar porque é um bebê forte.’ Não tem preço poder trazer segurança às crianças, elas prestam atenção. Faço esse atendimento pelos meus trabalhadores. É o que eu gosto. Eu amo a minha profissão.”

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