Como ajudar os filhos com a lição de casa
Sem perder a cabeça e sem fazer a tarefa por eles. As dicas a seguir ajudam pais e cuidadores a ser um apoio saudável e incentivador
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A tarefa tem hora e tem lugar –
Quando a criança ainda é pequena, ao receber instruções para as primeiras atividades em casa, é provável que precise de ajuda para se organizar. “Crie uma rotina para a lição e estabeleça um ambiente ou um cantinho tranquilo para que ela possa se concentrar”, indica a psicóloga e psicoterapeuta Luciana Jamas. “Pelo menos no início, é interessante que pais ou cuidadores relembrem o pequeno de fazer o dever de casa e o ajudem a se organizar.” Segundo Jamas, se desde as primeiras atividades cria-se um ambiente aversivo e pouco adequado para sua conclusão, é muito difícil que a criança, mais velha, se relacione de maneira saudável com a lição de casa e o estudo independente. Com o passar do tempo, a ideia é que o pequeno desenvolva o hábito de forma autônoma, e assim entenda a hora e o lugar de fazer a lição sozinho, sem precisar de ajuda de um adulto. -
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Seja um apoio, mas não faça a lição pela criança –
Há uma diferença entre auxiliar a criança e fazer por ela – uma distinção que nem sempre é tão óbvia. “O que precisa ficar claro é que a tarefa é uma responsabilidade dela. Se a criança não quer fazê-la porque achou chata ou não viu sentido naquilo, é ela quem deve falar com o professor e explicar seus motivos”, esclarece a orientadora educacional, pedagoga e mestre em filosofia da educação pela USP Ligia Pacheco. “Pode ser complexo quando a criança está cercada de cuidadores que arrumam sua cama, guardam seus brinquedos, tiram seu prato da mesa.” Pacheco explica que quando os pequenos entendem quais são suas responsabilidades desde cedo, a lição de casa fica como apenas mais uma na lista. “O auxílio deve ocorrer no sentido de ajudar a entender qual é a tarefa, quais são as instruções. Os cuidadores orientam, mas deixam a criança fazer”, complementa Jamas. -
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Acredite: nem todos os erros devem ser corrigidos –
Um acento na sílaba errada, uma soma com o resultado incorreto, uma pequena confusão entre capitais de estados brasileiros – se o pequeno cometeu algum desses deslizes, não necessariamente os pais ou os cuidadores devem corrigí-lo no mesmo instante. “O erro é essencial. A criança deve fazer do jeito que ela sabe primeiro, assim o professor que receber aquela tarefa para avaliar vai conseguir perceber uma dificuldade, caso ela exista”, aponta Luciana Jamas. Sem os erros e com muita correção dos pais, a percepção do professor sobre o desenvolvimento daquele aluno pode ficar comprometida. -
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Cuidado para não demonizar a lição de casa –
“Nossa fala carrega recados. Às vezes dizemos: ‘termina essa lição logo para fazermos tal programa’, ou ‘se você não se comportar direito, vou dobrar a tarefa de casa’, etc.” A pedagoga Ligia Pacheco explica que a atividade escolar não pode ser colocada como punição ou algo ruim. “Devemos tentar transformar o estudo em uma fonte de prazer. A criança precisa entender que é um momento para ela se avaliar, ver onde está indo bem, onde precisa de ajuda”, afirma. “Quando os pais ou cuidadores tiram essa pressão, o aprender, a escola – tudo fica mais leve.” O jornal americano The New York Times também entende que o caminho é criar um ambiente divertido e sem pressão para as tarefas escolares, buscar se aproximar da criança daquela atividade por meio da curiosidade. Comparações com irmãos ou colegas, que podem parecer comentários inofensivos, têm um peso grande e devem ser evitados. “Cada criança aprende no seu ritmo e devemos respeitá-la.” -
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Leve o aprendizado para o cotidiano –
Eis a dica mais transformadora e agradável desta seleção: “Ajude a criança a perceber o conteúdo que ela está aprendendo no seu entorno”, diz Ligia Pacheco. “Só faz sentido o que estou aprendendo na escola e nas lições de casa se consigo identificar o conhecimento no cotidiano e usá-lo de alguma forma.” A pizza do delivery vira um complemento da tarefa sobre fração e os azulejos do banheiro ou as janelas de prédios, uma maneira de praticar a tabuada. Até viagens podem ser feitas com o intuito de aproximar o pequeno do conhecimento. “Isso depende da disponibilidade dos pais, claro, mas quando minhas filhas estavam aprendendo sobre o mangue, por exemplo, as levei para experimentar todos os sentidos naquele ecossistema: o cheiro, a textura, ver um caranguejo ou o berçário de cavalos marinhos na beirada.” Segundo a especialista, quanto mais sentidos colocamos na aprendizagem, mais o cérebro aprende, e a experiência vai enriquecer todo o processo.