COP27 precisa ir além de ambientalismo branco e ter implementação como norte — Gama Revista
Reuters /Mohamed Abd El Ghany/ Mohammed Salem/ Bruno Kelly

COP27 precisa ir além de ambientalismo branco e ter implementação como norte

Gama inicia cobertura especial da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas do Egito em parceria com Instituto de Referência Negra Peregum e apoio do Instituto Clima e Sociedade

Isabelle Moreira Lima 10 de Novembro de 2022

Inundações com milhões de vítimas no Paquistão, ilhas que podem desaparecer, calor extremo na Europa, chuvas devastadoras no Brasil. Os desafios ambientais que o mundo enfrenta no século 21 são imensos e agora é hora de agir com eficácia e globalmente. É com essa tônica que está sendo realizada, até o dia 18 de novembro, a COP27, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas do Egito, no balneário de Sharm el-Sheikh, na costa do Mar Vermelho.

Com a maior floresta do mundo, o Brasil tornou-se um país-chave para o debate ambiental global: a situação da floresta amazônica, que registrou números recorde de devastação e desmatamento nos últimos anos, e a chegada de um novo governo que olhe mais para sua preservação e recuperação estão entre os focos desta edição.

Sempre com o olhar voltado para as possibilidades e os dilemas do mundo de hoje, a Gama inicia uma cobertura especial sobre a COP27, que pretende estimular uma reflexão coletiva sobre o clima. Com uma série de conteúdos diversos que inclui entrevista, reportagem e artigo de opinião, a iniciativa é realizada em parceria com o Instituto de Referência Negra Peregum e com apoio do Instituto Clima e Sociedade (ICS).

Negros, indígenas e o futuro climático

Uma das tônicas da edição egípcia da conferência é que os países desenvolvidos atuem em cooperação com os emergentes. Da mesma forma, a situação das populações periféricas é essencial para o debate.

“Nossa expectativa é que o movimento negro brasileiro seja, junto com os povos indígenas, consultado e parte de todas as negociações sobre o futuro climático do nosso país. A gente só avança se o debate climático for também sobre justiça racial”, afirma Mariana Belmont, jornalista e diretora de Clima e Cidade no Instituto de Referência Negra Peregum.

Os territórios negros são os mais afetados pela crise climática, mas as discussões ainda são das pessoas brancas

Belmont ressalta que o racismo, um grave problema mundial, atravessa a vida das pessoas na cidade, no campo e nas florestas e critica uma visão extremamente branca do ambientalismo. “Os territórios negros são os mais afetados pela crise climática. As discussões ainda são feitas e influenciadas por pessoas brancas de governos e sociedade civil. A maior parte dos participantes fazem parte de um ambientalismo branco global, em especial no norte global, e isso precisa ser fator de mudança com urgência. As equipes de governo também”, afirma a Gama de Sharm el-Sheikh.

“O Instituto de Referência Negra Peregum está aqui para acompanhar as negociações e construir pontes com organizações negras do Brasil em conexão com a diáspora, para serem a linha de frente das decisões sobre a natureza e a vida das pessoas”, finaliza Belmont.

Implementação

Para Américo Sampaio, coordenador de Comunicação e Engajamento do ICS, a expectativa da COP27 gira em torno da implementação. “Essa é a palavra chave desta edição. As últimas COPs falaram sobre compromissos ambiciosos, mas agora, com os últimos relatórios do IPCC, os números, as catástrofes socioambientais que vêm acontecendo no Brasil e no mundo, não dá tempo de ter esses compromissos. Os países precisam implementar as políticas climáticas de maneira urgente”, afirma.

Os países precisam implementar políticas climáticas e de maneira acelerada reduzir emissões

Sampaio enfatiza a importância de um fundo global de “alguns trilhões por ano” que sirva de auxílio para países em desenvolvimento, mas lembra que as declarações dadas no início da conferência ainda são vagas. Ele destaca também a expectativa sobre a participação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. “Bolsonaro virou pária climático. Os números de queimada, desmatamento e o desmonte das políticas ambientais deixou o mundo inteiro perplexo. Isso gera expectativa alta com mudança de governo”, afirma.

“Também é importante falar do papel da Amazônia, com o pavilhão dos governadores da região. O mundo inteiro olhou muito para a floresta por causa dos números recordes de devastação”, diz Sampaio. Ele insiste na urgência de ações: “Não dá pra debater compromissos nem tergiversar com questões secundárias. Os países precisam implementar políticas climáticas e de maneira acelerada reduzir seus patamares de emissão. Cabe à sociedade civil global monitorar essas ações”.

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Este conteúdo é parte da cobertura especial sobre a COP27, que pretende estimular uma reflexão coletiva sobre o clima, realizada em parceria com o Instituto de Referência Negra Peregum e com apoio do Instituto Clima e Sociedade.

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