Muitos têm sido os sentimentos que nos unem, enquanto povo, raça, chame como quiser, ao longo deste 2020. Frustração. Inquietação. Raiva. Saudade. E para muitos, luto. Neste longo, belo, e tortuoso (com gatilhos, muitos deles) relato para a New Yorker, a escritora Nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie reflete sobre a perda de seu pai, James Nwoye Adichie, falecido neste 2020 — não por Covid-19, mas por uma falência renal. Mãe e irmãos, primos, memórias íntimas, a carreira ilustre do Professor de Estatística, toda a jornada de uma vida é revivida e rememorada. A cronologia é fragmentada; memórias se sobrepõem a lições sobre a cultura nigeriana e do povo Igbo, e a banalidades burocráticas. Ler as palavras de Chimamanda traz um estranho conforto, um apaziguamento. Expor-se tanto é um ato de vulnerabilidade, mas que gera, sobretudo, empatia. É como se, ao abrir seu luto e a história dos seus familiares, ela estivesse nos ajudando a encontrar os denominadores comuns que nos tornam mais próximos uns dos outros. Menos diferentes, mais humanos, unidos em nossos sentimentos.
A pandemia do novo coronavírus está se tornando cada vez mais crítica no Brasil, com um número de mortes que cresce diariamente. Buscando celebrar a vida das vítimas do COVID-19, o artista Edson Pavoni criou “Inumeráveis”, um memorial às vítimas da pandemia. A coletânea de obituários é feita de maneira colaborativa por escritores e jornalistas integrantes do projeto. As informações e depoimentos sobre as vítimas podem ser mandadas no próprio site, que busca humanizar os números da pandemia. “Estatísticas são necessárias. Mas palavras também”, afirma Pavoni na descrição do projeto.