Passo a passo para mudar de carreira — Gama Revista
Isabela Durão

Passo a passo para mudar de carreira

Investigar o desejo da mudança, não romantizar a nova carreira e caprichar no networking são alguns dos conselhos dos especialistas ouvidos pela Gama, que montou uma seleção com dez dicas

Betina Neves 21 de Setembro de 2021

Transformações na tecnologia, na economia, na cultura das empresas e no comportamento das novas gerações vêm nos mostrando que a ideia (e até a possibilidade) de se ter um único emprego a vida toda não é exatamente viável. Depois da pandemia, então, a ideia terminou de cair por terra.

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Uma pesquisa feita pela Microsoft mostrou que 40% dos entrevistados de 31 países – amostragem que inclui o Brasil – estão pensando em sair do emprego atual. A tendência de se ter diversas profissões ao longo da vida é ainda mais forte entre a geração Z.

Para quem já está minimamente consolidado em uma área, porém, dar início a uma nova empreitada pode ser desafiador, ainda mais se não há clareza sobre qual caminho seguir. Gama consultou três especialistas e formulou dez dicas para entender como se lançar em uma mudança de carreira, por vontade ou necessidade, de forma inteligente e coerente com o seu contexto e perfil.

1. Investigue a origem da insatisfação

Antes de pedir demissão ou abrir mão do trabalho atual por impulso, é importante refletir sobre os diferentes aspectos que envolvem a atividade. Os problemas podem estar relacionados às relações pessoais, ao projeto em que você está envolvido, a quem são os chefes ou à remuneração e não à profissão em si. “Muitas vezes descobrimos que mudar ligeiramente de posição dentro da nossa área – ou até dentro da mesma empresa – ou ir para outra empresa que tenha valores e objetivos mais próximos aos nossos muda completamente a situação”, diz Monica Barroso, coach e facilitadora PhD pela London School of Economics and Political Science que já ministrou cursos sobre o tema na The School of Life Brasil. É bom lembrar que há muitos campos de atuação dentro de uma mesma profissão.

2. Invista em autoconhecimento

Junto com a etapa anterior, deve vir necessariamente um processo de análise interna para ganhar mais clareza sobre os objetivos pessoais e o contexto coletivo que levam a repensar a profissão. Para isso, pode-se contar com a ajuda de profissionais como psicólogos e coaches e até leituras e palestras. “É importante entender quais são as suas habilidades e competências, o que te motiva, como você gostaria que a sua rotina fosse, em que ambiente e até com que roupa você gostaria de trabalhar”, diz Tais Targa, psicóloga especialista em recolocação e autora do livro “Você de Emprego Novo” (Évora, 2019).

Para quem tem certeza de que quer mudar, mas está perdido em relação ao caminho, ela recomenda se fazer perguntar como: o que eu faria até de graça? Sobre o que eu estou sempre falando com os amigos? Geralmente, as pessoas me pedem ajuda para quê? No meu histórico do navegador, sobre o que eu mais pesquiso? E assim começar a coletar pistas. Para quem tiver a possibilidade, pode ser interessante se afastar da rotina de alguma forma ou até embarcar em um período sabático.

3. Tenha cuidado com romantizar a mudança

“Esse processo de autoinvestigação tem que ser bem-feito, porque às vezes a gente vai para uma nova área com as mesmas referências de antes e acaba encontrando problemas parecidos”, diz a coach Monica Barroso. É preciso analisar como você encara a profissão no seu momento atual de vida, lembrando que não há trabalho que traga satisfação 100% do tempo, e refletir sobre seus propósitos – para isso, ela recomenda o livro “Como Encontrar o Trabalho da sua Vida” (Objetiva, 2012), do filósofo australiano Roman Krznaric.

Criou-se o mito de laptop na praia, como se fosse uma vida perfeita. Mas abrir mão da CLT não é para todo mundo

Para o designer Tiago Henriques, criador do projeto Tira do Papel, existe também uma idealização comum da vida autônoma e empreendedora. “Criou-se esse mito de alguém trabalhando de laptop na praia, como se fosse uma vida perfeita. Mas abrir mão da CLT não é para todo mundo”, diz ele, que saiu da empresa em que trabalhava em julho do ano passado para se dedicar em tempo integral ao perfil, canal, podcast e plataforma de cursos online nos quais ensina sobre produtividade, criatividade e marketing de conteúdo.

4. Tenha alguma reserva financeira

Mudar de carreira requer investimento de recursos e, muitas vezes, períodos com renda reduzida. O quanto cada um deve guardar varia com o contexto de vida, o perfil e as responsabilidades financeiras. “Tem gente que precisa de um roteiro muito bem definitivo, enquanto outras pessoas só conseguem mudar se se jogarem. Tem gente que precisa de uma reserva maior, já outras pessoas são movidas pela pressão da falta de grana. De qualquer jeito, esse movimento precisa de planejamento”, diz a psicóloga Tais Targa. Para ela, simplificar o padrão de vida ajuda a ter mais liberdade e menos preocupação nesse processo.

5. Filtre os mitos ou opiniões desencorajadoras

Um anúncio de mudança de carreira muitas vezes é seguido por uma profusão de críticas e comentários de colegas, amigos e, principalmente, parentes. “Existem rotas que já foram exploradas, principalmente por outras gerações. Agora, com a evolução da tecnologia, surgiram novas possibilidades, e isso pode causar medo e desconfiança nos outros”, diz Tiago Henriques, do Tira do Papel. “Meus pais mesmo não entendem o que eu faço.”

Você vai agregar sua experiência e conhecimento já adquiridos de um jeito ou de outro em uma nova profissão. Nunca é tarde para mudar

Além disso, um mito repetido com frequência é o do desperdício do investimento já feito, como se tudo o que você já tivesse vivenciado profissionalmente estivesse sendo jogado fora. “Não é como se você tivesse 19 anos de novo, começando do zero. Você vai agregar sua experiência e conhecimento já adquiridos de um jeito ou de outro em uma nova profissão. E nunca é tarde para mudar”, diz a psicóloga Taís Targa.

6. Capriche no networking

Conectar-se com profissionais de áreas em que você tem interesse pode trazer informações preciosas para vislumbrar caminhos, além de receber aconselhamento qualificado e até futuras oportunidades de trabalho. “Hoje é muito fácil fazer isso, pela internet você acessa praticamente quem você quiser. E as pessoas estão mais abertas do que se pensa”, diz a coach Monica Barroso. Além de redes como o LinkedIn, há ferramentas como o Meethub, pela qual é possível marcar videochamadas com especialistas de diversas áreas, de CEOs de multinacionais a acadêmicos, empreendedores sociais e advogados.

7. Crie protótipos das possibilidades de carreiras

Antes de engendrar uma mudança radical, pode ser interessante fazer pequenos experimentos nas áreas de interesse para sentir como seria atuar ali. “Eu posso ser um engenheiro que adora fotografia e acho que seria um excelente fotógrafo, mas, quando começo a exercitar no dia a dia, percebo que não gosto de fazer isso como um trabalho ou que esse mercado tem desafios que eu desconhecia”, diz Tiago Henriques.

Entender o que não funciona também é muito valioso

Essas “prévias” pode ser feitas como trabalhos voluntários, projetos autônomos e freelancers, cursos de curta duração ou contato próximo com o dia a dia de profissionais da área que você possa tocar em paralelo com seu trabalho atual, principalmente se não puder abrir mão da renda. Henriques lembra que, nesse processo, não existe tempo perdido. “Essas tentativas, mesmo que não sejam ‘bem-sucedidas’, trazem novas informações e aprendizados para a sua transição. Entender o que não funciona também é muito valioso.”

8. Procure cursos e formações na nova área

Para a psicóloga Tais Targa, vem diminuindo cada vez mais a necessidade de cursar uma graduação para mudar de área. “Hoje existem inúmeras formações mais curtas muito boas, entre pós-graduação e cursos livres”, diz. Ela lembra que, com a pandemia, a oferta de cursos online aumentou enormemente, eliminando os limites geográficos para estudar. Só tome cuidado antes de fechar o primeiro curso que vir por aí: dê preferência a instituições reconhecidas ou a profissionais que tenham alguma referência no meio.

9. Trabalhe a inteligência emocional

Uma transição de carreira é invariavelmente desafiadora e trabalhosa, ainda mais se você precisa manter o trabalho com o qual está insatisfeito como fonte de renda enquanto caminha para novas possibilidades. É um período que exige paciência, persistência e muita organização, já que muitas vezes pede jornada dupla.

Precisa encarar o trabalho atual como algo temporário que ajuda a bancar a próxima etapa, que pode demorar até ser estabelecida

“É um exercício entender que tem um ciclo se fechando e outro se abrindo. Precisa encarar o trabalho atual como algo temporário que está ajudando a bancar a próxima etapa e ter o caminho sempre em vista. Pode demorar anos para se estabelecer em uma nova área, inclusive”, diz Monica. Até por isso, ela lembra que uma mudança de profissão não pode ser motivada só pela busca por mais remuneração, porque sem nenhuma paixão é difícil se manter motivado durante o processo.

10. Aproveite o que as redes sociais têm de melhor

Se usadas com sabedoria, as redes podem ser amplificadoras de relações e possibilidades para embarcar em uma nova atividade. “Se no passado você teria que começar a vender um serviço ou produto no boca a boca, por exemplo, hoje temos nessas ferramentas digitais um instrumento que ajuda muito na escala de distribuição das coisas e, consequentemente, a começar um projeto. A geração de 20 anos atrás não podia fazer isso”, comenta Tiago Henriques. As redes podem ser um canal para contatar profissionais atuantes no mercado, contar ao mundo suas novas competências e vontades e alcançar clientes potenciais para as primeiras experimentações, se for o caso.

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