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PessoasEles ganham dinheiro com lixo
Conheça histórias de empresas que lucram com o que a gente joga fora e colaboram para amenizar o problema dos resíduos
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Conheça histórias de empresas que lucram com o que a gente joga fora e colaboram para amenizar o problema dos resíduos
No vocabulário dos empreendedores que conversaram com Gama para esta matéria, não existe a palavra “lixo”. Eles atuam no mercado de “resíduos”: educando e conscientizando pessoas e empresas, otimizando a logística de transporte, combatendo a informalidade na mão de obra, incentivando a reciclagem e dando um destino ambientalmente correto ao que poderia acabar em aterros e lixões.
A Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) estima que, além de contribuir para desacelerar o esgotamento dos recursos naturais e reduzir a poluição, o reaproveitamento de materiais que vão para o lixo tem potencial de injetar R$ 14 bilhões por ano na economia. Ou seja, ainda há muito espaço para investir. De fato, com as discussões sobre sustentabilidade mais latentes, têm surgido cada vez mais iniciativas.
“A pandemia evidenciou as questões ambientais e nos deixou muito perto do nosso lixo. No último ano, esse mercado deu um shift que a gente nunca tinha visto”, conta o ecologista Renato Paquet, um dos donos de empresa que viu no lixo uma oportunidade de negócio. Veja mais projetos a seguir.
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Divulgação Mayura Okura, da B2Blue
A empresária criou um marketplace de compra e venda de resíduos
Imagine uma página similar às do “Mercado Livre” com anúncios como “vendo retalhos de malha” e “compro garrafas pet verdes”. É isso que a startup B2Blue faz: conecta empresas que geram tipos determinados de resíduos com outras que consigam usá-los como matéria-prima. A plataforma está no ar desde 2012 e hoje congrega mais de 1 bilhão de toneladas de resíduos anunciados e 25 mil empresas cadastradas.
“O início foi muito desafiador, porque esse meio ainda era pouco digitalizado”, conta a fundadora Mayura Okura, de 34 anos, formada em gestão ambiental pela Universidade de São Paulo (USP). A B2Blue funciona assim: a empresa interessada se cadastra no site gratuitamente, registra quais resíduos quer vender (ou comprar) e a plataforma automaticamente encontra possíveis interessados no material. Aí, é preciso pagar uma taxa para ter acesso às informações e poder negociar livremente. A B2blue também é contratada por grandes empresas para ajudá-las a garantir a melhor monetização possível dos resíduos e fazer a ponte com compradores. O plástico predomina como material mais anunciado, seguido por metais, papelão, vidro e eletroeletrônicos.
“Fazemos essa conexão entre grandes empresas e pequenos recicladores pelo Brasil inteiro, ajudando-os a gerar renda e movimentando as economias locais”, diz Mayura.
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Divulgação Rodrigo Oliveira, da Green Mining
A startup contrata ex-catadores e transporta o lixo direto para as usinas de reciclagem
Logística reversa é um processo definido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, em que fabricantes, comerciantes e distribuidores devem se responsabilizar pela coleta e destino ambientalmente adequado dos resíduos que geram. A Green Mining atua na logística, levando o lixo de restaurantes, bares e condomínios direto para as usinas de reciclagem, sendo bancada por grandes indústrias como Natura, Braskem e Ambev. Quem coleta o material são 24 funcionários contratados com carteira assinada – em sua maioria, ex-catadores –, que circulam por São Paulo, Rio e Brasília com triciclos. Quem entrega os resíduos não tem custo, mas precisa separá-los por tipo de material.
“Muitas indústrias não se relacionam com catadores e cooperativas por não haverem contratos trabalhistas estabelecidos. E a gente acha inaceitável as pessoas dessa cadeia não terem condições dignas de trabalho”, conta o paulistano Rodrigo Oliveira, 39, um dos fundadores da empresa.
A ideia da Green Mining é oferecer a eficiência que a indústria precisa para cumprir a política de logística reversa, formalizar a mão de obra e entregar os resíduos direto onde eles serão reciclados, pulando os intermediários – ela usa tecnologia blockchain para rastrear o serviço em todas as fases. Desde 2018, já foram coletados mais de 1,7 mil toneladas de resíduos, evitando a emissão de cerca de 285 mil quilos de CO2.
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©Murillo Medina Flávia Cunha, da Casa Causa
Uma consultoria de soluções de resíduos para empresas
A psicóloga paulistana Flávia Cunha, 55, não lida diretamente com o lixo, mas ataca o problema na raiz. Em 2017, ela começou a Casa Causa, consultoria voltada para atender empresas que buscam repensar a geração e gestão de resíduos e se aproximar dos conceitos do “lixo zero” e do “upcycling”, que propõe a reutilização de resíduos e a diminuição da exploração de matéria-prima.
Flávia passou 20 anos trabalhando com RH em grandes corporações. Foi durante uma viagem a San Francisco, nos EUA, que voltou a atenção para a questão do lixo e conheceu a Zero Waste Alliance (hoje a Casa Causa é membra do Instituto Lixo Zero, que representa a aliança no Brasil). “Cheguei lá bem no meio de uma greve do serviço de coleta e vi montanhas de lixo. Fiquei impressionada com a sociedade civil se mexendo para resolver o problema”, conta ela.
A Casa Causa opera em várias frentes: organizando palestras e campanhas, montando eventos “lixo zero” e atuando na área de sustentabilidade de empresas propondo soluções para o lixo. Ela ajudou corporações do varejo alimentício a diminuir o desperdício, realizou projetos de sensibilização com funcionários da Alelo e trabalhou junto a um bloco de Carnaval em São Paulo para fazer coleta seletiva durante o evento. Em 2020, organizou o Encontro Lixo Zero, que costumava ser presencial, em versão online, e reuniu agentes públicos, ativistas e empreendedores sociais. “A pandemia é um momento muito oportuno para falar sobre isso. O lixo é um problema de todo mundo”.
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Divulgação Marcos Rangel, da Vide Verde
Compostagem em grande escala como destino para resíduos orgânicos
Trabalhar com lixo já estava na família de Marcos Rangel: a mãe do carioca toca a empresa Venativ, que oferece gestão de resíduos para a iniciativa privada desde 1994. E foi dela a ideia de implantar a compostagem em escala industrial inspirada no que viu durante uma viagem ao Japão. Nesse sistema, é usada uma colônia de bactérias para acelerar o processo de decomposição, transformando qualquer resíduo orgânico em adubo em cerca de 60 dias. É bom lembrar que, quando não é compostado, o lixo orgânico vai para aterros e passa pelo processo de putrefação, através do qual libera o nocivo gás metano.
“Começamos em 2007 em uma área pequena, com pouca gente, fazendo tudo na enxada”, conta Marcos. Hoje, a Vide Verde conta com uma unidade de 70 mil metros quadrados no município de Cachoeiras de Macacu (RJ), a 90 km do Rio, que recebe 70 toneladas de resíduos por dia – o processo de carga e descarga ainda é manual, mas todo resto é mecanizado. O “lixo” orgânico vem de 110 pontos de coleta pelo estado do Rio, entre redes de shoppings, hospitais, indústrias, restaurantes e o Aeroporto Internacional Tom Jobim, o Galeão. O serviço é normalmente cobrado por peso.
“Pelo menos uma vez por ano temos que sentar com esses clientes e fortalecer a conscientização de quão importante é dar o destino correto para os resíduos, já que é mais barato mandá-los para os aterros”, conta Marcos. O adubo gerado pela compostagem é vendido para consumidores finais e usado em uma produção orgânica própria com mais de 20 culturas.
“O que mais me motiva nessa área é a capacidade de transformar o que era lixo em fonte de vida. Na compostagem, reciclamos nutrientes: o potássio da casca de banana enriquece a adubação e depois vira alimento de novo”.
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Divulgação Renato Paquet, da Polen
Ele criou um mercado de crédito para ajudar na logística reversa
O carioca Renato Paquet tenta cercar o problema do lixo de vários lados. Formado em ecologia, ele teve vislumbres de como a indústria estava inserida nesse contexto durante uma passagem pela Federação da Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). “Ali percebi que muitas empresas não fazem a destinação correta de resíduos porque isso pode ser caro e ter uma logística muito complexa”, conta ele.
A Polen nasceu em 2017 focada inicialmente em oferecer uma plataforma de compra e venda de resíduos, hoje com 2 mil empresas cadastradas. Depois de participar do programa de aceleração de startups da Founder Institute, começou seu braço mais forte: um mercado de crédito para logística reversa, que permite que indústrias cuidem do impacto das embalagens que colocam no mercado. A Polen faz o cálculo de compensação e usa tecnologia blockchain para rastrear o material que é levado para cooperativas e recicladores.
Entre os 4 mil clientes, estão empresas como Unilever, TetraPak e Ambev. “Se a indústria não conseguiu recuperar as embalagens no percentual indicado pela lei, ela pode adquirir créditos de alguma outra que os tenha de sobra ou de cooperativas”, conta ele. Em 2020, a empresa movimentou, entre neutralização de embalagens e comercialização de resíduos como matéria-prima, cerca de 48 mil toneladas.
A Polen também realiza projetos customizados. Um exemplo é o que fez com a Do bem, que procurou a empresa para fazer a compensação de 100% das embalagens de sucos. Com a reciclagem das caixinhas, foram produzidas chapas e telhas de polialumínio que foram doadas para a ONG Teto para a construção de 120 moradias emergenciais em comunidades. Por último, a Polen também toca o projeto ReciclaOrla, que dispõe 24 pontos de coleta de lixo reciclável pela orla da Zona Sul do Rio.
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