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DepoimentoDia dos Pais: amor em diferentes formatos
Leia relatos de histórias emocionantes que envolvem figuras paternas tradicionais, alternativas, biológicas ou adotivas
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Dia dos Pais: amor em diferentes formatos
Leia relatos de histórias emocionantes que envolvem figuras paternas tradicionais, alternativas, biológicas ou adotivas
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Arquivo pessoal “Meu padrinho foi o meu farol, meu norte, minha figura paterna”
Mariana Belmont é colunista no portal Gênero e Número e faz parte do Conselho Diretor da Nuestra America Verde, sobre o padrinho, Francisco
“Eu não conheci meu pai, ele faleceu em um acidente de carro enquanto minha mãe ainda estava grávida de poucos meses. Ela trabalhava em uma loja no Brás, saía muito cedo e voltava muito tarde, então fui criada pelos meu padrinhos, no bairro da Colônia em Parelheiros, no extremo sul da cidade de São Paulo.
O seu Francisco, meu padrinho, fez esse papel de ser meu guia durante toda a minha formação, até eu ir morar fora. Eu o chamava de ‘pai’ e a minha madrinha de ‘mãe’, talvez por influência dos filhos deles que eram mais velhos do que eu. Ele nunca foi o aquele pai que negava ou brigava. Foi o pai que me incentivou a fazer a faculdade. Não tínhamos a grana para pagar, então eu trabalhei para isso. Ele me apoiava com a passagem de ônibus, passando no mesmo bilhete. Ele também me buscava no ponto de ônibus tarde da noite para cuidar de mim, principalmente quando acabava a luz, mesmo o ponto sendo perto de casa. Ele foi o meu farol, meu norte, minha figura paterna, minha inspiração, minha figura de ética e de força até o fim de sua vida no ano passado… Foi ele quem me fez encarar meus medos, correr pelo certo e pelo justo. Agora, ele é a pessoa para quem eu oro quando tenho uma decisão difícil.” (Luara Calvi Anic) -
“Pacientemente esse meu mentor tirou minhas dúvidas e, com impaciência proporcional, puxou a minha orelha”
Isabelle Moreira Lima, jornalista especialista em vinho e editora executiva da Gama, sobre o também jornalista Guilherme Velloso, com quem segue aprendendo
“Tive a sorte de ter, ao longo desses 44 anos, um pai presente, que torce, que incentiva, que ajuda. Mas aos 35, mesmo sem precisar, senti que ganhei um novo pai. Começava um trabalho em uma nova área, muito nova para mim e absurdamente específica: eu seria repórter de vinhos do jornal O Estado de S. Paulo, um cargo anteriormente ocupado por nomes históricos como o de Saul Galvão. Eu estava animada e perdida na mesma medida. Por sorte, no começo, acompanhei dois especialistas da casa, um da mesma geração que a minha, outro mais próximo da dos meus pais. Foi com ele a minha conexão maior — me indicou leituras, me incentivou a fazer cursos, pacientemente tirou minhas dúvidas e, com impaciência proporcional, puxou a minha orelha quando dei minhas (muitas inicialmente) bolas fora. Mas a cada gol tímido também me procurava com mais incentivo e discreto orgulho paterno. Nossa amizade floresceu —e que privilégio o meu! —, passamos a manter uma rotina de encontros e, como não sou lá muito discreta, acho que ele rapidamente entendeu que passou a ocupar um lugar de ‘pai do vinho’. Hoje, portanto, ergo um brinde a ele também e já já te escrevo, Guilherme, para marcar nosso próximo almoço.” (Isabelle Moreira Lima)
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Arquivo pessoal “Tive que escrever o livro eu mesma, não aquele, é claro, outro, o livro da falta”
Natalia Timerman, psiquiatra e escritora, autora do livro “As Pequenas Chances” (Todavia, 2023), sobre o pai, o médico Artur Timerman
“Meu pai tinha um tom muito específico ao falar e escrever. Mesmo nas mensagens cotidianas, era conciso e espirituoso, claro e sensível, e as letras pareciam ter o som doce da sua voz. Também nos seus textos mais longos, nada sobrava, e ele costumava ter muita coisa a dizer, mostrava sempre sob um ângulo novo um assunto velho. Prova disso é seu ‘Histórias da AIDS’, livro sobre sua experiência como infectologista que me enche de orgulho. Até hoje lamento não ter podido ir ao lançamento porque estava fora do país. Depois, foi a vez de ele ser paciente. No quarto do hospital, nos dias difíceis do transplante de medula, quando fazíamos planos tentando driblar o medo e as estatísticas, sugeri que ele escrevesse um livro sobre aquilo. Que escrevesse sobre como era receber um transplante de si mesmo, ficar quase sem células sanguíneas, morrer vivo e depois nascer. Ele gostou da ideia, mas não deu. Não deu tempo, o transplante não deu certo, ou melhor, deu, mas depois o tumor voltou, e ele morreu após quatro meses. Tive que escrever o livro eu mesma, não aquele, é lógico, outro, o livro da falta, a ausência do livro do meu pai, a ausência do meu pai, as pequenas chances.” (Ana Elisa Faria)
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“Só não sei dizer se meu sogro foi o pai que eu não tive porque nunca soube o que é ter pai”
Luís Filipe Barracas, ex-publicitário, sobre o sogro, o mecânico Antônio Togni
“Quando eu tinha dois anos, meu pai morreu num acidente de carro. E meu avô, que morava em Portugal, acabou morrendo antes que eu pudesse conhecê-lo. Então não tive referência de paternidade em casa. Sempre convivi bem com isso, minha mãe supriu de forma muito legal essa ausência e também tenho um tio que era grande amigo do meu pai e abraçou a família. Mas, com 25 anos, comecei a namorar minha atual esposa. Na casa dela, conheci uma das pessoas mais maravilhosas da minha vida. Tenho duas referências como ser humano: minha mãe e meu sogro. Ele me abraçou como se abraça um filho. Trago uma carapaça que dificilmente me permite chorar ou ficar com a voz embargada. Mas faz dois anos da morte do meu sogro e, até uns meses atrás, eu ainda estava de luto. Imagine conviver 30 anos com uma pessoa sem nunca ter discutido com ela. Meu sogro nunca falou um não para mim. Ele gostava de contar histórias sobre suas viagens, a empresa em que trabalhou… Quando tinha mais de 80 anos, começou a se repetir, mas eu parava para ouvir mesmo sabendo cada história de cor, porque gostava de vê-lo feliz. E acompanhei todo o sofrimento da morte dele. Somente agora consigo falar sobre o assunto sem chorar. Só não sei dizer se ele foi o pai que eu não tive porque nunca soube o que é ter pai.” (Leonardo Neiva)
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“Eu cheguei adoecida e encontrei afeto, cura, e essa figura masculina que se importava comigo mesmo sem me conhecer”
Rani Teles, mestranda em Ciências Sociais (UFPE), Ekedi do Ilê Axé Alaketu Odé Aganan, 29 anos
“Eu sou filha de mãe solo, criada pelas mulheres da minha família, tias, avó, mãe e as cunhadas da minha mãe (esposas dos seus irmãos). Meu pai sempre foi essa pessoa ausente, da minha primeira infância eu tenho algumas memórias dele, em algumas festas, e aniversários, mas à medida em que eu fui crescendo, ele foi se afastando. Hoje eu entendo que era o tempo do fim do relacionamento com a minha mãe, quando essa relação de fato acabou, ele se afastou. O meu avô também foi uma pessoa importante no cuidado e no prover, mas quando eu tinha 8 anos de idade, ele faleceu, era figura masculina de referência que eu tinha. Com o passar do tempo, sempre pensei sobre essa ausência, ainda que as mulheres provessem tudo para mim, desde o afeto até questões materiais.
Em 2017, quando estava passando por um momento difícil e estava deprimida, cheguei ao Terreiro Ilê Axé Alaketu Odé Aganan, e passei a frequentar a casa como um lugar de cuidado e cura. O terreiro tem uma estrutura muito familiar, e nesse momento eu comecei a me relacionar com essa comunidade formada por mãe, pai e filhos, que me chamou atenção. Em 2019 resolvi me iniciar, sou filha de Yemanjá. Esse é um momento de renascimento, de entregar sua vida nas mãos de outra pessoa, por isso requer muita confiança. Eu só pude fazer isso porque durante os dois anos em que eu vivi como Abiã (entre 2017 e 2019), essa relação foi construída muito fortemente. Eu entendi que a Yá e o Babá eram pessoas que fariam tudo o que pudessem por mim, para cuidar de mim. Eu cheguei adoecida e encontrei afeto, cura, e essa figura masculina que se importava comigo mesmo sem me conhecer, sem ter me visto nascer, biologicamente falando, ele estava ali para fazer o melhor por mim. Então eu decidi me reencontrar com a minha ancestralidade, com aquela família.
Esse é um processo de aprendizagem pra mim, porque eu nunca fui filha de um pai, eu nunca tive essa relação de pai e filha, de contar com o cuidado dessa figura masculina, de ter uma pessoa que eu pudesse recorrer quando estivesse com problemas e que iria me ajudar. Como fui criada por mulheres, elas estavam ali, mas eu mesma tinha que fazer o meu corre, e estou aprendendo nesse tempo, que não estou sozinha, que tenho meu pai e minha mãe de santo, meus orixás e minhas entidades que estão por mim; que eu tenho pra quem recorrer, que eu tenho colo pra me acolher, que eu tenho um pai que vai cuidar de mim, que me ama incondicionalmente.
Desde quando me iniciei ele me aceitou como filha, e eu o escolhi como pai. Hoje, pra mim, ele é essa figura, é meu pai. Passei boa parte da minha adolescência e infância tentando entender essa ausência paterna, e tentando entender esse pai que sempre foi ausente, mas hoje eu tenho esse pai, mesmo que eu ainda esteja aprendendo a ser filha de um pai — quando passa uma vida toda sem essa presença a gente vai criando outras estratégias. Eu estou aprendendo a pedir ajuda, a ser cuidada, a ser orientada, a ter outra figura me ajudando nas minhas escolhas, dando opiniões sobre o meu caminho.
Eu tenho um pai hoje, em tudo o que esse termo abarca pra mim. Este mês, por exemplo, tem o Dia dos Pais, essa data sempre foi dolorosa porque eu não tinha com quem celebrar, mas, há 5 anos, isso foi ressignificado, essa data passou a ser um dia de celebração e gratidão. Todo ano, nesse dia, todos nós nos reunimos no terreiro e sempre fazemos um jantar, ou alguma outra coisa, pra agradecer por todo cuidado, zelo, e afeto do Babá, é uma data para celebrar a existência desse pai, dessa figura na minha vida.
Antes que eu escolhesse ele como meu pai, antes que ele me escolhesse como filha, Yemanjá escolheu por nós. Hoje eu entendo isso como um reencontro, era pra gente se reencontrar e viver essa experiência, eu tinha que estar nesse lugar, tinha que ser filha do Babá Ricardo Manoel Bonfim.” (Gabriela Bacelar) -
Arquivo pessoal “Sabia que ele seria um bom pai para mim”
Cátia Flávia Aparecida Della Libera, estudante, sobre o pai adotivo
“Desde o momento que eu o conheci, me senti acolhida de verdade, porque eu sabia que ele seria um bom pai para mim. Sou muito grata por ele ser meu pai, Silvio Cesar. Nessa foto da minha festa de 15 anos, tenho boas lembranças, foi um momento para marcar a memória das pessoas. Ele fez a troca do sapato para o salto, foi muito emocionante. Ele é meu herói, me acompanha em tudo, não tenho palavras para descrevê-lo. Por onde passa, abre sorrisos e recebe elogios — é uma pessoa admirável. Na hora da valsa, dançamos juntos, como está na foto: esse momento de pai e filha na transição para a vida adulta, passaram muitos sentimentos. Hoje eu tenho 19 anos e, para sempre, guardarei esse momento no meu coração. Junto do amor pelo meu pai.” (Emilly Gondim)
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CAPA Como ser um bom pai?
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1Conversas "Para o homem negro, ser pai no Brasil é um ato de resistência"
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2Repertório Dez livros sobre pais e filhos
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3Podcast da semana José Bertoluci: "A busca da história de um pai é uma busca sobre quem nós somos"
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4Depoimento Dia dos Pais: amor em diferentes formatos
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5Bloco de notas As dicas da redação sobre o tema da semana