A moda e a pandemia: cinco tendências que vieram para ficar — Gama Revista
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A moda e a pandemia: cinco tendências que vieram para ficar

Conforto, joias, monocromia, foco na parte de cima da roupa. Confira as tendências, as escolhas e estratégias das grandes marcas nestes tempos pandêmicos

Chantal Sordi 19 de Abril de 2021
Guilherme Falcão / Loewe / Renner / Miu Miu / Gucci

Após um ano de pandemia do novo coronavírus, a nossa maneira de se vestir mudou bastante. No primeiro mês de quarentena, para quem podia ficar em casa, o pijama se tornou a roupa do dia a dia. Depois começamos a dar mais atenção às partes de cima, que ficam em destaque nas reuniões virtuais. Nesse meio tempo, termos como hatewear (roupa odiosa) e sadwear (roupa triste) surgiram para definir a falta de inspiração e o desgaste emocional que vieram junto com a pandemia e afetaram diretamente o nosso guarda-roupa. “Acho que agora estamos no mix do nada a ver, fazendo as combinações mais estranhas possíveis, que traduzem bem essa angústia e confusão do momento”, reflete a stylist e consultora de moda Manu Carvalho.

Os looks exuberantes das semanas de moda são um vislumbre otimista do futuro pós-pandemia ou uma certa negação do momento atual?

Por outro lado, a temporada internacional de inverno 2021 trouxe uma profusão de looks exuberantes, muito brilho, cores, peles (a grande maioria sintética) e volumes em excesso. Seria isso um vislumbre otimista do futuro pós-pandemia, em que nos vingaremos dos dias de isolamento com roupas e produções bem absurdas, ou uma certa negação do momento atual? “Acho que a questão principal é: você estar, tentar ou ser otimista é uma virtude nesses tempos horríveis. O que não significa ser negacionista”, opina o pesquisador, consultor e criador de conteúdo Cassio Prates. “Agora quando você usa o otimismo como forma de negar a situação, ou o seu privilégio e sua vivência para burlar um contexto, acaba forçando a barra”, completa.

Nessa polarização de emoções, divididos entre o desejo de usar algo mais ousado e a realidade do conjunto de moletom, na busca por conforto e segurança por meio de cores e materiais confortáveis, sabemos que a nossa maneira de se vestir ainda mudará conforme a pandemia se desenrola no mundo, mas algumas tendências que surgiram nesse período devem permanecer por algum tempo. Aqui apontamos cinco delas, confira:

Partes de cima

Não há como negar, o home office continuará sendo a realidade de muita gente mesmo quando a pandemia estiver mais controlada, ou seja, as reuniões virtuais devem seguir a todo vapor e com isso continuaremos dando atenção a parte de cima do corpo na hora de se vestir. “Atualmente é o espelho que mais olhamos, então acho que se arrumar mais em cima para as ligações, reuniões e até lives, ainda é o foco de muita gente”, diz Manu Carvalho. “A silhueta da parte de cima ganhou esse protagonismo com os Zooms da vida, então passamos a brincar e explorar mais esse lado, pois é o que existe agora”, complementa o stylist Thiago Ferraz. Nessa onda, blusas com detalhes na gola, bordados, cores vibrantes e shapes que valorizem essa área do corpo ainda serão muito procurados.

Joias

Com o foco na parte de cima, acessórios como brincos e colares (que mais aparecem no enquadramento da chamada de vídeo) ganharam os holofotes e a busca por joias disparou neste período de pandemia, mostrando que atualmente as pessoas estão mais preocupadas com qualidade e durabilidade do que antes. Segundo o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), as vendas online de joias cresceram até 80% em 2020, com clientes investindo em peças via Instagram ou WhatsApp. O Moda Operandi registrou um aumento de 35% e a Farfetch Brasil, de 60%. Isso também impulsionou o aumento de ecommerces focados apenas em joias, como o Omnque, que tem uma seleção de itens vintage, e o Finematter, que vende designers independentes e tem foco na sustentabilidade. “A parceria comercial entre a Simone Rocha e a H&M também é uma boa prova de que as pérolas e acessórios são sim um grande negócio para todes”, diz Cássio Prates.

Conforto

“Acho que o escapismo da moda está agora no conforto, em buscar tecidos que tragam boas sensações, que remetam a saúde e ao bem-estar”, analisa Thiago Ferraz. “Moletom, tricô, camiseta e malha ficaram fortes, também pela praticidade, mas para unir conforto e elegância no vestir, sem muita amarra”, completa o stylist. A alta demanda pelas roupas de ficar em casa, também conhecidas como moda comfy ou loungewear, foi identificada por diversas marcas logo no início da pandemia, fazendo com que muitas corressem para lançar linhas de produto voltadas especialmente para isso, como a Renner, que em 2020 lançou a coleção Conforto, com peças básicas, modelagens soltas e tecidos aconchegantes. Já a C&A divulgou um aumento em torno de 1.000% na busca por esse tipo de produto no início da pandemia, em comparação ao mesmo período de 2019.

Roupas esportivas

A pandemia também abriu espaço para um salto nas vendas de roupas e acessórios esportivos. Segundo o ranking da Lyst, plataforma global de pesquisa de moda, a Nike ficou em primeiro lugar como a marca mais procurada do segundo trimestre de 2020, ultrapassando Off-White, Gucci e Balenciaga, as três grifes que costumavam ocupar o top 3 do levantamento que compila as etiquetas e os produtos mais quentes ao redor do mundo. Enquanto alguns designers investem em peças para malhar em casa, outros apostam em itens para explorar a natureza e se aventurar num isolamento outdoor, como vimos no desfile de inverno 2021 da Miu Miu, gravado nos alpes italianos, e na recente colaboração entre a Gucci e a The North Face. “Acho que as marcas entenderam que, ao menos neste momento, as pessoas deixaram ter um desejo momentâneo da última blusinha do desfile do Raf Simons, ou da nova bolsa da Chanel, para um desejo de estar vivo e presente com quem se ama”, reflete Cássio Prates.

Monocromia

Na busca por equilíbrio e praticidade para se vestir durante e após a pandemia, as combinações monocromáticas são grandes facilitadoras, pois não exigem esforço e possuem diversas possibilidades, graças à extensa cartela de cores existente. “A cromoterapia proposta por JW Anderson na Loewe é um ótimo exemplo de como as cores podem nos deixar mais felizes”, diz Cássio Prates sobre a tendência. Segundo um estudo do WGSN em parceria com a Coloro, o bem-estar está influenciando todo os aspectos do design, assim como a tecnologia e a sustentabilidade. “Com períodos prolongados de isolamento, a natureza e sua vitalidade terão um apelo claro, mas a tecnologia também será celebrada, à medida que as conexões por meio de ferramentas digitais se tornam necessárias. As principais tonalidades da nova estação refletem essa dualidade, indo dos tons orgânicos aos artificialmente aprimorados”, comentou a diretora de cores do WGSN Jenny Clark, sobre o estudo que apontou o bege manteiga, verde oliva, amarelo manga, azul atlântico e rosa orquídea como as cores-chave do verão 2022.

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