José Falero responde – Questionário Proust — Gama Revista
Questionário Proust

José Falero

Escritor

Leonardo Neiva 05 de Março de 2022

De ajudante de obra a cozinheiro, o escritor gaúcho José Falero já fez de tudo um pouco. Em 2019, publicou “Vila Sapo”, seu primeiro livro de contos, seguido do romance “Os Supridores” (2020) e do volume de crônicas “Mas em que Mundo Tu Vive?” (2021), onde retrata o cotidiano na periferia

  • 1

    Qual é sua ideia de felicidade perfeita?

    Acredito que a felicidade perfeita seja ser tratado como gente. Não sofrer desumanizações.

  • 2

    Qual é o seu maior medo?

    O meu maior medo é morrer. Atualmente o que mais me desperta esse medo é andar de avião.

  • 3

    Que característica mais detesta em você?

    Ser fumante e não conseguir parar de fumar.

  • 4

    Que característica mais detesta nos outros?

    A incapacidade de se espantar com as coisas, como se as compreendessem plenamente.

  • 5

    Que pessoa viva você mais admira?

    Minha namorada Dalva Maria Soares.

  • 6

    Qual é a sua maior extravagância?

    Uso a camisa do Internacional mesmo sendo gremista.

  • 7

    Qual é o seu estado mental atual?

    Atormentado.

  • 8

    Que virtude considera superestimada?

    Todas as virtudes públicas são superestimadas. Uma virtude, para não ser superestimada, precisa permanecer desconhecida.

  • 9

    Em que ocasião você mente?

    Quando a verdade me parece mais inconveniente do que a mentira.

  • 10

    O que menos gosta sobre sua aparência?

    Meus dentes.

  • 11

    Que pessoa viva você mais despreza?

    Bolsonaro.

  • 12

    Que qualidade mais admira em um homem?

    A capacidade de se espantar com as coisas.

  • 13

    Que qualidade mais admira em uma mulher?

    A capacidade de se espantar com as coisas.

  • 14

    De que palavras ou frases você abusa?

    "Tá ligado?", "Te foder!", "Olha esse cara!". Esta última até virou meme entre meus colegas de trabalho na construção civil.

  • 15

    O que ou quem é o maior amor da sua vida?

    Minha namorada Dalva Maria Soares.

  • 16

    Quando e onde você foi mais feliz na vida?

    Quando morávamos juntos eu, minha mãe, minha irmã e meu pai, na nossa primeira casa, na Lomba do Pinheiro.

  • 17

    Que talento você mais gostaria de ter?

    Não creio que exista talento.

  • 18

    Se você pudesse mudar uma coisa sobre você, o que seria?

    Eu pararia de fumar.

  • 19

    O que considera sua maior conquista?

    A autoestima. Nunca teria conquistado isso sozinho: Dalva foi fundamental para que eu aprendesse a gostar de mim. Mas também tive que fazer bastante esforço por mim mesmo, e me orgulho muito disso.

  • 20

    Se você morresse e voltasse como uma coisa ou uma pessoa, o que você gostaria de ser?

    Eu não gostaria de voltar. Se fosse obrigado a voltar, então escolheria ser qualquer coisa inanimada e inútil, como um pedaço de gelo de amônia numa nuvem de Júpiter. Se fosse obrigado a voltar como algo vivo, então escolheria uma forma de vida simples e fugaz, como uma bactéria.

  • 21

    Onde você mais gostaria de morar?

    Na Lomba do Pinheiro.

  • 22

    Qual é o seu pertence mais estimado?

    Minha camisa da Ponte Preta. É linda e tem o meu nome e o meu número da sorte atrás, o 22, que, coincidência ou não, é o mesmo número desta pergunta.

  • 23

    O que você considera o nível mais baixo da desgraça?

    Ver as pessoas que tu ama passando todo tipo de necessidades e não poder fazer nada.

  • 24

    Qual sua ocupação favorita?

    Pensar.

  • 25

    Qual sua característica mais marcante?

    Eu não gosto de quase nada de comer. Dá pra contar nos dedos as coisas que eu gosto de comer.

  • 26

    O que você mais valoriza em seus amigos?

    A capacidade de se espantar com as coisas. E como isso foi repetido várias vezes, vou explicar melhor aqui: se espantar com as coisas no sentido de estranhá-las, de achar que elas merecem ser objeto de reflexão, de efetivamente refletir a respeito delas, de não achar que as coisas são meros fatos consumados sobre os quais não precisamos sequer pensar. A capacidade de tomar um susto ao perceber que não entende muito bem as coisas, mesmo as mais cotidianas, e a partir daí promover um exercício intelectual honesto na tentativa de entendê-las um pouco melhor. Mas se um amigo meu eventualmente não tiver essa capacidade, que inclusive é bem rara, valorizo com a mesma grandeza a capacidade de dizer besteiras engenhosas. E não estou brincando. Penso que as pessoas espirituosas, dessas que são capazes de salvar o nosso dia por pior que tenha sido a nossa desgraça, atingiram um tipo de inteligência que para mim é misterioso, mas que valorizo muito.

  • 27

    Quais os seus escritores favoritos?

    Mano Brown, Machado de Assis e Eiji Yoshikawa.

  • 28

    Quem é seu herói na ficção?

    Miyamoto Musashi. Bom, ele foi uma figura histórica, existiu realmente, mas boa parte da sua construção no romance sobre a sua vida é sabidamente ficcional.

  • 29

    Com qual figura histórica você mais se identifica?

    Não sei. Acredito que as figuras históricas com quem eu mais me identificaria ou foram totalmente apagadas da história ou foram apagadas o suficiente para que eu não saiba nada sobre elas ou saiba muito pouco sobre elas.

  • 30

    Quem são seus heróis na vida real?

    Minha mãe Rita Helena Falero, meu pai José Carlos da Silva, minha irmã Caroline Falero e minha namorada Dalva Maria Soares.

  • 31

    Quais são seus nomes favoritos?

    Não sei. Nenhum em particular. É claro que gosto mais de alguns do que de outros, mas os que entram nesse grupo dos que gosto são muito numerosos e gosto deles de maneira mais ou menos equivalente. Gosto de Jéferson, de Caroline, de Renato, de Jenifer, de Rodrigo, de Fernanda... Sei lá. É provável que eu goste igualmente de metade dos nomes que existem.

  • 32

    O que você mais detesta?

    Injustiça.

  • 33

    Qual seu grande arrependimento?

    Não ter aproveitado a vida como deveria. Não ter feito coisas que estavam ao meu alcance. Ter me deixado dominar por medos que hoje me parecem bobos.

  • 34

    Como gostaria de morrer?

    Dormindo, sem me dar conta.

  • 35

    Qual é o seu lema?

    Não deixe para fazer amanhã o que tu pode fazer depois de amanhã.

Diego Apoli/Divulgação