3 poemas de Murilo Mendes

Grande representante da poesia moderna brasileira, o mineiro Murilo Mendes (1901-1979) é menos famoso do que outros de sua geração, como Carlos Drummond de Andrade e Vinicius de Moraes, mas ainda assim se consagrou como um dos maiores poetas do século XX. A Companhia das Letras acaba de lançar uma compilação da obra do autor.

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Nascido em Juiz de Fora (MG), Mendes é lembrado por estar sempre em diálogo com o seu tempo por meio de sua obra. “Ele é muitos poetas em um. Era mítico, católico, espiritual e de vanguarda ao mesmo tempo. Não à toa, Manuel Bandeira o chamou de ‘conciliador de contrários’”, diz Alice Sant’Anna, poeta e editora da Companhia das Letras.

O lançamento de quase mil páginas reúne “Poemas” (1930), seu livro de estreia, “Conversa Portátil” (1975), e inclui ainda dois volumes escritos em língua estrangeira, até então nunca lançados em português: “Hipóteses” (1968), traduzido do italiano por Maurício Santana Dias, e “Papéis” (1931-74), traduzido do francês por Júlio Castañon. Há ainda ensaios assinados pelo crítico Davi Arrigucci Jr. e pelos poetas Murilo Marcondes de Moura e Júlio Castañon Guimarães.

“Era um poeta que tinha como norte a experimentação. Seus poemas muitas vezes flertam com o insólito, o onírico, com imagens inesperadas, surpreendentes, deslocadas da realidade”, diz Sant’Anna. Mendes trazia em sua poesia tanto belas imagens – “Aves contemporâneas/Largam do meu peito” – quanto um ritmo muito particular – ”Eu sou triste como um prático de farmácia”. Ambos trechos de poemas que Sant’Anna, editora do livro, destaca e comenta a seguir, especialmente para a Gama.

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  “Modinha do empregado de banco integra ‘Poemas’ (1930), primeiro livro de Murilo Mendes, publicado no mesmo ano de ‘Alguma poesia’, de Carlos Drummond de Andrade. São duas grandes estreias que têm muito em comum e que marcaram de forma definitiva a literatura brasileira do século XX. Adoro o humor deste poema, que termina com uma risada melancólica e remete ao ‘A idade do Serrote’, livro de memórias vibrante e muito engraçado publicado por Murilo Mendes décadas mais tarde, em 1968.”

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  “Este poema foi publicado em ‘As Metamorfoses’ (1944), um dos livros mais importantes de Murilo Mendes, dedicado ao ‘meu amigo’ Mozart, uma de suas paixões. O terreno e o sublime, o mundano e o espiritual, a argila e as estrelas são aparentes contradições que aparecem em Novíssimo Orfeu e em toda a obra do poeta.”

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  “‘Acho que o poeta é um ser obscuro e dilacerado’, disse Murilo Mendes em uma conferência em Montreal, em 1967. ‘Primeiro, ele não se conhece bem, torna-se um enigma para ele mesmo, e mais que os outros tem consciência do grande enigma do mundo, inicial e final.’ Gosto deste poema do livro ‘Os Quatro Elementos’ (1935) porque ele traz a noção de mistério e de movimento incessante. Os últimos versos falam de um olhar fresco e curioso – desacostumado, desautomatizado – para o mundo, e conclui que nascer é um processo contínuo, permanente, sempre em aberto.”

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• Poesia Completa
• Murilo Mendes
• Companhia das Letras
• 904 páginas, 2025

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