Somos todos narcisistas?
Icone para abrir
Ilustração de Isabela Durão

4

Conversas

Como se vender profissionalmente sem ser irritante

Consultora de comunicação e cultura organizacional Thatiana Cappellano diz que reconhecer o esforço do outro e dar crédito para quem teve a ideia são os primeiros passos

Isabelle Moreira Lima 25 de Maio de 2025

Como se vender profissionalmente sem ser irritante

Isabelle Moreira Lima 25 de Maio de 2025
Ilustração de Isabela Durão

Consultora de comunicação e cultura organizacional Thatiana Cappellano diz que reconhecer o esforço do outro e dar crédito para quem teve a ideia são os primeiros passos

Ao rolar o feed das suas redes sociais, você sente um misto de vergonha alheia e irritação ao ver sempre os mesmos colegas de trabalho postando sobre as coisas que fizeram. Mas, ao mesmo tempo, repara o efeito positivo que esse marketing pessoal constante tem na carreira deles. Será que são narcisistas? A resposta é não, mas há duas observações a serem feitas aí: (1) o mundo do trabalho se organiza, também, de forma narcísica já que captura os sujeitos que trabalham por seus ideais; e (2) é importante, sim, saber mostrar aquilo que se faz, de forma assertiva e com certa constância.

As reflexões são de Thatiana Cappellano, mestre em ciências sociais e consultora da 4CO, especializada em cultura e comunicação organizacional, a quem Gama recorreu para investigar as maneiras de ser efetivo nas redes sociais, com os contatos mais casuais e também com os profissionais para vender o peixe sem pesar demais a mão. Abaixo, você lê algumas das ideias de Cappellano.

 Divulgação

Não vale bater o bumbo, jogar luz e falar de forma ufanista sobre pequenas entregas. Vamos falar sobre as coisas que têm realmente relevância

Não queira os holofotes o tempo todo

“No senso comum, pode ser que narcisismo seja confundido com marketing pessoal, mas não são a mesma coisa. Fazemos um marketing de nós mesmos em tudo na vida, no Bumble ou no Tinder, quando recebemos um amigo em casa; no ambiente do trabalho não vai ser diferente. O que importa é ter clareza de que vender seu peixe não é garantia de reconhecimento ou de promoção, de uma escalada de sucesso. Isso depende muito mais do contexto político das organizações do que do marketing pessoal. É preciso, ainda, tomar muito cuidado para que você não queime o filme com seus coleguinhas. Ninguém gosta de quem quer ficar o tempo inteiro falando de si, brilhando os holofotes em cima de si, é cansativo. Quando trabalhamos com alguém sabemos quem é realmente um talento ou quem é só o discurso, algo que não se sustenta por muito tempo.”

Reconheça o esforço dos outros e dê crédito

“O que pode ser efetivo e não irritante é reconhecer todos ao seu redor que participaram dos esforços porque ninguém faz nada sozinho dentro de uma organização. Segundo: reconheça de quem é a ideia. Ouço muita reclamação de empregados sobre isso e causa uma quebra de confiança na relação que é muito difícil recuperar. Terceiro: você não precisa se promover o tempo inteiro. Escolha os momentos certos. Não vale bater o bumbo, jogar luz e falar de forma ufanista sobre pequenas entregas. Vamos falar sobre as coisas que têm realmente relevância.”

Ative seu networking nos encontros sociais

“Quando você fica desocupado, as pessoas precisam saber. Networking se ativa, só que não é simplesmente falar ‘se você souber de alguma coisa…’. Isso não ajuda. É preciso explicar o que você está procurando, qual é o tipo de vaga, qual é o perfil, para que o outro lado entenda e aja. Aquela história do QI, quem indica, funciona muito em organizações. Deixe esses pontos claros para os seus contatos sociais e peça que as pessoas circulem essa informação nas suas redes profissionais, algo muito tranquilo de fazer. É preciso ter um bom currículo ou página do LinkedIn para mandar junto.”

Faça-se presente e escute os contatos profissionais

“O contatos que são estritamente profissionais pedem uma outra etiqueta. Se você consegue uma oportunidade de conversar com alguém da área, muitas vezes é preciso ir num papel de escuta para que aquela pessoa que está no mercado, tem mais experiência, possa te dar dicas de como trafegar da melhor forma. É um contato mais formal, não vai ser no WhatsApp, mas um café virtual ou presencial, ou mesmo um almoço. E aí você vai ter que contar um pouco da sua história: ‘nesse momento passei por este processo de progressão, passei por esses lugares e hoje estou buscando tal coisa’. Você tem que se fazer presente para ficar na lembrança dessas pessoas, mas também para que consigam entender melhor aquilo que você busca.”

Nas redes, monte um perfil consistente

“Quem está em situação de desocupação precisa usar LinkedIn, tem que ter uma boa página estruturada. Se não sabe como fazer, há tutoriais e prompts disponíveis na internet. Só o descritivo do LinkedIn fala pouco: você tem que preencher todas as suas experiências com afinco, como se você estivesse fazendo uma prévia de uma possível entrevista de emprego, mas um conteúdo para o mundo corporativo — ou seja, ninguém espera uma reflexão crítica baseada na Escola de Frankfurt. Conecte-se com pessoas que são da sua área de interesse e poste coisas relevantes e de que você saiba falar com propriedade. Não precisa produzir uma tese de doutorado, mas textos de três, quatro linhas para se manter presente.”

Faça das postagens um hábito

“O LinkedIn pode parecer uma ‘Disneylândia corporativa’ porque muito do que vemos lá soa como uma forçação de barra. Mas é um lugar de projeção e de busca de perfil profissional por muitas empresas e por muitas soluções de tecnologia de recrutamento, como Gupy ou Jobconvo. Então, o LinkedIn é sofrido para muitas pessoas, mas é um mal necessário. Precisa estar lá falando mais do mesmo? Na minha opinião, não. É um lugar prioritariamente para assuntos profissionais, então produza um pouco de conteúdo, um post por semana, para você conseguir mostrar minimamente quem você é. Faça um conteúdo assertivo e de fácil consumo, que vai mostrando como você enxerga a sua área técnica específica e como você lida com as questões do trabalho. A depender da profissão, o Instagram também pode ser um caminho.”

Um assunto a cada sete dias