Será que o sucesso dos apps de namoro nos desacostumou a outros tipos de contato? Gama traz dicas para flertar de forma presencial
Não é de hoje que alguns dos aplicativos de namoro mais populares vêm enfrentando uma crise brava. Nomes como Tinder e Bumble, que ajudaram a revolucionar o setor alguns anos atrás, têm visto o engajamento e número de usuários ativos minguar e até despencado a olhos vistos na bolsa e nos índices de confiança do mercado.
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Mas o que explica essa mudança no comportamento do consumidor interessado em dates? As explicações são muitas e complexas. Especialistas consultados por Gama apontam desde uma fadiga dos namoros em ambiente online pós-pandemia até uma verdadeira crise nos relacionamentos tradicionais. Além disso, o número de opções de nicho onde você pode conhecer pessoas com os mesmos interesses que os seus também vem aumentando. Tem desde app de relacionamentos baseado em astrologia até quem prefere ir à igreja para encontrar o par perfeito.
Mas como fazer para flertar fora de ambientes como o Tinder? Será que o sucesso dos apps de namoro nos desacostumaram a outros tipos de contato? A seguir, especialistas dão dicas para buscar um relacionamento fora deles, muito além daquele dilema de deslizar o dedo para a esquerda ou direita para saber se vocês dão match.
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Se abra para o mundo –
A gente pode até já ter saído da pandemia, mas talvez a pandemia ainda não tenha saído da gente. De acordo com uma pesquisa da revista estadunidense Newsweek, 42% dos norte-americanos se sentiam menos sociáveis em 2023 do que em 2019, num mundo pré-pandêmico. Para trazer o tema mais perto de casa, outro estudo de 2023, dessa vez do PoderData, mostra que os jovens entre 16 e 24 anos estão na faixa etária que menos sai de casa para encontrar amigos. E é claro que, sem sair para o mundo, as oportunidades de encontrar pessoas e flertar sem recorrer a um Tinder ou Bumble da vida ficam consideravelmente reduzidas. “Veja o mundo. Ele é mais fantástico do que qualquer sonho”, escreveu Ray Bradbury no clássico “Fahrenheit 451”. Por mais que o autor tenha exagerado no potencial do mundo lá fora, não deixa de trazer à tona um ponto importante, com o qual concorda a doutora em psicologia clínica Lígia Baruch. “O date tem que estar na vida, no mundo”, reforça a psicóloga e coautora de “Tinderellas: o amor na era digital” (e-galáxia, 2019). O psicólogo e sexólogo clínico Giovane Oliveira lembra de um paciente que, em meio a uma crise com os relacionamentos amorosos, decidiu desinstalar todos os apps de namoro do celular. “Na semana seguinte, ele conheceu uma menina [que não estava no Tinder] na escadaria da estação Pinheiros [zona oeste de São Paulo]”, conta. Afinal, vale lembrar que apps de namoro praticamente não existiam dez anos atrás. Por incrível que pareça, as pessoas simplesmente se conheciam. “Não é todo mundo que vai flertar com alguém às 18h da tarde numa estação de metrô, mas precisa existir essa possibilidade”, afirma. O que não significa que todos devam sair desembestados por aí em busca de novas experiências. Um pouco de cautela nunca fez mal a ninguém. “Tem que avisar as amigas para onde você vai e com quem. Marcar o primeiro encontro em locais seguros, cafés e shoppings”, aponta Baruch. -
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Reduza consideravelmente suas opções –
É natural pensar que, quanto maior o leque de alternativas disponíveis, mais chances temos de tomar uma decisão adequada. Mas não é isso que defende o psicólogo norte-americano Barry Schwartz, uma das maiores autoridades no tema, no célebre livro “O Paradoxo da Escolha” (A Girafa, 2004). Ao contrário do que indica o senso comum, uma grande quantidade de caminhos a seguir intensifica a ideia impossível de que existe uma escolha perfeita — o que aumenta as chances de indecisão e insatisfação quando somos apresentados a uma lista praticamente infinita de possibilidades. E é mais ou menos isso o que vêm fazendo aplicativos de namoro megapopulares como o Tinder ou o Bumble, na visão da empresária Mayumi Sato. “Hoje o Tinder me parece um shopping, com todo mundo, de todas as idades e interesses, andando por ali e se cruzando ao mesmo tempo”, considera a sócia-diretora da Sexlog, rede social brasileira voltada ao sexo e ao swing. Certa ocasião, um paciente de Oliveira chegou a revelar que tinha aberto 67 chats no Tinder em apenas uma semana. Mas conseguia conversar de fato com tantas pessoas? O próprio confessou que não. “Tem uma espécie de automatização acontecendo nessas relações, o que gera uma certa ansiedade”, aponta o psicólogo, para quem existe “um excesso de ois dados”, mas poucas conversas acontecendo de fato. Portanto, se estiver numa posição de poder escolher, vale a pena reduzir suas opções de date e flerte às que de fato interessam, de acordo com suas visões de mundo e regras de atração, sem se deixar influenciar pura e simplesmente por números. -
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Não desista totalmente dos apps; mantenha-os como ferramentas de autoconhecimento –
Se, por um lado, a recomendação é reduzir as possibilidades de dates, por outro, continua valendo a pena diversificar as formas e espaços onde você os busca. Significa também não botar todas as fichas num só lugar. Então, se você tem flertado bastante ao ar livre, não precisa por isso abandonar a possibilidade de trocar mensagens numa rede social, se integrar a grupos e atividades diferentes com frequência e manter em vista os próprios apps como uma possibilidade de conhecer gente nova, inclusive você mesmo. É o que afirma Baruch, que costuma indicar às suas pacientes fazer “um pouco de tudo”. Quer dizer “sair, mas também usar o app como local de autoconhecimento sobre o próprio desejo, aquilo que está buscando”, afirma a psicóloga. Segundo ela, a ação é importante porque muitos não sabem muito bem aquilo que querem na hora de buscar um relacionamento. Mesmo acreditando desejar uma coisa, acabam entrando em outras completamente diferentes. Portanto, apps como Tinder, Happn, Bumble ou Grindr podem servir como uma espécie de ambiente de teste sobre aquilo que desperta seu interesse, como as outras pessoas reagem a você e como você reage a elas. “Quem está no app também está fora dele. É só mais uma balada, mais um lugar de encontro”, diz Baruch. Mas reforça: “Só não pode ser o único.” -
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Busque afinidades, comunidades e assuntos que te interessam –
Está entre as regras de ouro para iniciar novas relações: procure pessoas com interesses semelhantes aos seus. E as formas de fazer isso são tantas hoje em dia que pode até se tornar tarefa complexa escolher uma só. Desde adentrar uma comunidade online até começar um curso ou frequentar constantemente um determinado ambiente, tudo vale para fazer amigos com quem você pode passar horas batendo papo ou fazendo algo mais. “Só precisa ter cuidado para não virar uma busca ativa, e você começar a procurar perfis de pessoas em comunidades só para puxar papo”, alerta Oliveira. Dentro dessa tendência, hoje apps de nicho atraem cada vez mais atenção, reunindo desde usuários que buscam sexo casual até vegetarianos, aficionados por astrologia, ratos de academia ou, no caso de sites de relacionamento como o Amor em Cristo, buscar aquele date evangélico dos seus sonhos. Outro fator de identificação bastante forte nos últimos anos — e também de exclusão — são as visões políticas e sociais, segundo Baruch. Caso considere esse um fator essencial para ter um primeiro encontro menos turbulento, busque essa informação o quanto antes. “Nunca nesses 30 anos de consultório percebi a política partidária, mais à direita ou à esquerda, como um fator tão importante na hora da escolha amorosa”, declara a doutora em psicologia. A linha de atividade de correr atrás de interesses em comum, é claro, inclui deixar a zona de conforto, interagir com desconhecidos e desbravar espaços até então inóspitos. “O que não dá é para nunca sair de casa ou sair com dois ou três amigos para fazer sempre a mesma coisa. Sua vida social fica mais limitada se você está menos aberto a conhecer pessoas fora dali”, reforça Sato. -
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Se apegue menos a idealizações e mais a quem está à sua frente –
Conhece a história de Narciso? Aquele mito grego sobre o jovem tão impressionado com a própria beleza que ele acabou definhando enquanto admirava seu reflexo num lago. Com as devidas adaptações, a história também pode se encaixar na experiência de muita gente, tão apegada à imagem que cria para si de um date perfeito que é a vida amorosa quem pode acabar definhando. Para Oliveira, muitos consideram certos dates ruins porque a outra pessoa não correspondeu aos seus ideais. “Não presto atenção em quem é aquela pessoa, o que ela faz, como se expressa. Estou mais preocupado em entender se ela corresponde ou não às expectativas”, exemplifica. Claro que é importante identificar aquilo que te atrai, os próprios interesses e limites, mas não a ponto de deixar noções pré-concebidas na frente de conhecer pessoas potencialmente interessantes. Outra tendência é a busca mais por um status de relacionamento do que necessariamente por estar com alguém que você gosta, como aponta Mayumi Sato. “Isso se sobrepõe a uma série de coisas e você só ouve o que quer ouvir, deixa de se comunicar plenamente”, afirma. O comportamento dificulta enxergar não só muitas bandeiras vermelhas importantes, mas também impede que a pessoa reconheça de fato a outra. “O conselho que posso dar é estar presente no flerte do início ao fim. Seja online ou ali com a pessoa, que você esteja realmente ouvindo”, diz Sato. Até alguns possíveis sinais de alerta podem acabar se mostrando mais preferências pessoais do que propriamente comportamentos problemáticos, reforça Oliveira. “Um paciente disse que foi tão difícil escolher a pizza com um menino no primeiro date que já previu que, dali a três meses, eles iriam brigar por causa do iFood. Como do primeiro encontro a gente chegou tão longe?”, questiona. Por fim, Sato lembra uma das formas cruciais de conhecer pessoas desde os primórdios da humanidade, mas que acaba sendo mais rara em apps de namoro. Como diria Zeca Pagodinho, deixando a vida te levar — ou seja, sem trazer um interesse amoroso desde o início. “Às vezes não flertar é um bom jeito de se tornar uma pessoa interessante e deixar as conexões acontecerem naturalmente.”
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