O que está acontecendo nos EUA?

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Bloco de notas

Livros para decifrar os EUA de hoje

Em um cenário de guerra cultural, poder das redes e recessão democrática, leituras para entender o que o trumpismo pode fazer ao país — e ao mundo

Livros para decifrar os EUA de hoje

05 de Outubro de 2025

Em um cenário de guerra cultural, poder das redes e recessão democrática, leituras para entender o que o trumpismo pode fazer ao país — e ao mundo

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    É inesperado que uma pessoa em um cargo de alto escalão se deixe guiar pela emoção, mas Donald Trump tende a agir pelo instinto, como revela o livro de Bob Woodward, “Raiva” (Todavia, 2020). O jornalista duas vezes ganhador do Pulitzer acompanhou o presidente americano por sete meses e, depois de 17 entrevistas e uma ampla investigação em documentos sigilosos, criou um detalhado retrato da mente do chefe de Estado. A obra mostra que Trump sabia da letalidade do coronavírus e passou semanas enganando a população a respeito disso. “Sempre quis minimizar a importância. Ainda gosto de minimizar a importância, porque não quero criar pânico”, disse a Woodward em 19 de março de 2020.

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    “A ignorância está na moda”, segundo Michiko Kakutani, crítica literária do New York Times por quase quatro décadas e vencedora do Prêmio Pulitzer. Em “A Morte da Verdade: Notas sobre a mentira na era Trump” (Intrínseca, 2018), ela vai a fundo para explicar a atual recessão democrática da sociedade ocidental, sustentada pela proliferação de ideologias e teorias da conspiração já refutadas. Para a autora, o relativismo que ganhou força na esquerda durante as guerras culturais dos anos 1960 — afirmando que não havia verdades universais, apenas interpretações pessoais — acabou servindo de base para discursos da direita populista, de criacionistas e de negacionistas do aquecimento global. Também recorre ao conceito de “década do eu”, criado por Tom Wolfe para falar da literatura dos anos 1970, e defende que o culto às opiniões e emoções, em detrimento de fatos e conhecimento, abriu espaço para a ascensão de Trump.

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    O jornalista Michael Wolff teve um extraordinário acesso à Casa Branca no início do primeiro mandato de Donald Trump, em 2017, que resultou no best-seller “Fogo e Fúria” (Objetiva, 2018). Depois de receber os depoimentos de mais de 200 pessoas vinculadas ao governo norte-americano de então, o autor constrói um retrato de despreparo, desorganização e guerra contra a mídia, contra o Partido Democrata e até contra o conservador Partido Republicano. Wolff revela que ninguém, nem mesmo Trump, esperava a vitória sobre Hillary Clinton. Não havia um programa de governo ou pessoas para colocá-lo em prática, levando a nomeações feitas às pressas provocando o caos na política norte-americana.

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    O livro “O Povo Contra a Democracia: Por que nossa liberdade corre perigo e como salvá-la” (Companhia das Letras, 2019), do professor de Harvard Yascha Mounk, explora o processo de “desconsolidação” da democracia liberal. Mounk analisa desde o papel do neoliberalismo financeiro a partir de 1980 até a ascensão do populismo conservador e o esgotamento da confiança nas instituições democráticas. Além disso, propõe um apelo ao republicanismo cívico, enfatizando a necessidade de virtude cívica e o compromisso público para restaurar a democracia.

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    Para entender como chegamos aqui, em um momento em que o autoritarismo assombra a democracia, Timothy Snyder investiga acontecimentos da história russa, ucraniana, europeia e norte-americana. Cada capítulo de “Na Contramão da Liberdade” (Companhia das Letras, 2019) foca em um ano e em um acontecimento específico: a retomada do pensamento totalitário (2011); o colapso da política democrática na Rússia (2012); o ataque russo à União Europeia (2013); a revolução na Ucrânia seguida da invasão russa (2014); a propagação da ficção política na Rússia, na Europa e nos Estados Unidos (2015); e a primeira eleição de Donald Trump à presidência dos EUA (2016).

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    “Como as Democracias Morrem” (Zahar, 2018) traz uma análise crua dos sistemas democráticos pelo mundo. Os cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, da Universidade de Harvard, partem da ascensão de Trump à presidência dos EUA em 2016, para revisitar momentos de rompimento da ordem democrática — do fascismo dos anos 1930 à onda populista de extrema direita que elegeu líderes como Jair Bolsonaro e Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria. Eles explicam que hoje a democracia não costuma acabar com revoluções ou golpes militares. O autoritarismo cresce de forma lenta, enfraquecendo instituições como a Justiça e a imprensa e desgastando regras políticas que existiam há muito tempo.

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    Em “A Esquerda Não é Woke” (Âyiné, 2023), a filósofa norte-americana Susan Neiman desmonta a associação entre ser de esquerda e ser woke. Para ela, o último compartilha emoções progressistas, como a empatia pelos oprimidos, mas rompe com pilares centrais da tradição iluminista da esquerda — o universalismo, a distinção entre justiça e poder e a crença no progresso moral. O resultado é um paradoxo: ao adotar premissas reacionárias, o wokeismo acaba por enfraquecer a própria luta contra o autoritarismo representado hoje pelo trumpismo. A obra ajuda a compreender uma das disputas teóricas mais decisivas no interior da ampla coalizão pró-democracia nos EUA, iluminando tensões que definem o futuro político do país.

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    As redes sociais de hoje são movidas a algoritmos e controladas por bilionários ultracapitalistas próximos da elite conservadora internacional. Nesse cenário, a extrema direita encontra um terreno fértil e a esquerda, um atoleiro, como explica Paolo Demuru em “Políticas do Encanto” (Editora Elefante, 2024). Doutor em Semiótica, o professor detalha estratégias de convencimento usadas por forças conservadoras, como discursos de ódio, desinformações e teorias da conspiração. A obra propõe um uso mais sagaz das plataformas digitais, ressaltando que o reencantamento com ideais políticos emancipatórios precisa também acontecer offline, longe das telas. A Gama, o autor falou sobre por que imigrantes são alvos da extrema direita.

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    O que Steve Bannon, Olavo de Carvalho e Aleksandr Dugin têm em comum? Os três carregam uma raiz doutrinária espiritual que os conecta ao tradicionalismo, corrente filosófica que critica radicalmente a modernidade. As similaridades entre as figuras que influenciam os governos dos Estados Unidos, da Rússia e do Brasil de Bolsonaro são o tema do livro baseado em entrevistas “Guerra pela Eternidade: O retorno do tradicionalismo e a ascensão da direita populista” (Editora da Unicamp, 2020). O etnógrafo e comentarista político americano Benjamin R. Teitelbaum analisa os preceitos do pensamento reacionário, mostrando como essas figuras utilizam a metapolítica para influenciar a cultura e a política, criando um sentimento antissistema que se mistura com nacionalismo e antiglobalismo. Essa atuação inclui deslegitimar os sistemas modernos de conhecimento e valorizar a espiritualidade como força social fundamental, promovendo uma espécie de “mobilidade espiritual” que atrai as maiorias populares.

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    Best-seller do New York Times, “O Projeto: Como a extrema direita está transformando os Estados Unidos” (Zahar, 2025), do jornalista David A. Graham, examina em detalhes o plano que sustenta a ofensiva autoritária do trumpismo. A partir do chamado Projeto 2025 – documento de quase mil páginas que propõe o enfraquecimento das instituições e a criação de uma presidência imperial –, Graham mostra como setores radicais da direita norte-americana se organizaram para dominar o governo e moldar a política do país pelos próximos anos. Com posfácio inédito escrito especialmente para a edição brasileira, o livro é um alerta não apenas para os EUA, mas para todas as democracias. Nesta edição da Gama, você confere uma entrevista com o autor.

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