Como o BBB voltou a dominar a TV brasileira— Gama Revista

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Como o BBB voltou a dominar a TV brasileira?

Thiago Quadros / Reprodução / TV Globo

Com a impossibilidade de gravar novidades, TV brasileira aposta nos realities de confinamento como carro chefe da programação de 2021

Daniel Vila Nova 27 de Janeiro de 2021

2020 não foi um ano fácil para nenhum brasileiro. As inúmeras crises políticas aliadas à pandemia do coronavírus transformaram o ano em uma experiência negativa e duradoura. Mas se o começo da quarentena já parece um passado distante, uma das poucas memórias positivas de 2020 ainda ressoa nas casas de todo o país: o Big Brother Brasil.

Com direito a participação de Luke Skywalker, recordes de audiência e muitas discussões sociais, a vigésima edição da casa demarcou a força de uma dos formatos mais tradicionais da TV brasileira — o reality show de confinamento.

Com poucas opções de entretenimento inédito por conta da quarentena, os realities se tornaram uma grande alternativa na TV em 2020. Seguindo o sucesso do BBB 20, a Fazenda 12 também teve boa audiência e bateu 1 bilhão de votos em sua final.

Com poucas opções de entretenimento inédito por conta da quarentena, os realities se tornaram uma grande alternativa na TV em 2020

Apesar da vacina, a pandemia ainda continuará ao longo de 2021, o que configura um problema para as emissoras de TV do Brasil. A Globo já planeja retomar a exibição de novelas inéditas no ano que se inicia, mas as questões logísticas se apresentam como um desafio a ser superado.

Mesmo com a volta de exibições inéditas, as reprises tendem a continuar e há uma aposta grande em realities shows para o ano de 2021 — os especificamente de confinamento serão exibidos na TV brasileira ao longo do ano e não há um mês em que o gênero não esteja presente na telinha.

O BBB 21, A Fazenda 13, Power Couple Brasil, A Ilha, De Férias Com O Ex, Largados e Pelados e Soltos em Floripa prometem movimentar a TV e as redes sociais brasileiras. Mas o que torna esses realities tão atrativos para o público que o consome e para as emissoras que os produzem?

Gama conversou com Mauricio Stycer, jornalista especializado na cobertura de TV e autor de “Adeus, Controle Remoto” (Arquipélago Editorial, 2016), para entender o fenômeno por trás das câmeras.

Confinados

Uma das cenas mais emblemáticas da vigésima edição do BBB, e talvez da história do programa, foi quando o apresentador Tiago Leifert contou para os participantes sobre a pandemia do coronavírus.

Em meio a preocupação dos integrantes do reality, os memes na internet seguiam uma direção: o Brasil inteiro se sentia como os participantes do programa, confinados e incapazes de saírem de casa.

O Brasil inteiro se sentiu como os participantes do programa, confinados e incapazes de saírem de casa

A verdade é que a vigésima edição já fazia sucesso antes da adoção do isolamento social, mas a quarentena elevou o status do BBB na grade da TV brasileira. Com a pausa na gravação de novelas, seriados e outros programas, a maior emissora do país só veiculava dois formatos inéditos — o jornalismo e o BBB.

Para Mauricio Stycer, o período inicial da quarentena foi um momento recorde de consumo de internet e televisão, e o BBB ganhou um enorme embalo nesse contexto. O jornalista, entretanto, acredita que o sucesso do reality se deva também a outros fatores.

“A inclusão de dez integrantes convidados pela produção foi um fator muito importante para o sucesso do reality, foi uma quebra de paradigma gigantesca dentro do programa.” A vigésima edição inovou ao dividir a casa em dois grupos, Pipoca e Camarote. No Camarote, foram convidadas dez personalidades que já tinham algum grau de celebridade. Os YouTubers Boca Rosa e Pyong Lee, a influencer Rafa Kalimann, as cantoras Manu Gavassi e Gabi Martins e o ator Babu Santana foram alguns dos famosos que entraram no jogo.

A fama prévia dos participantes conseguiu chamar a atenção do público, mas foram as discussões e os temas sociais tratados no programa que cativaram a audiência e tornaram o BBB 20 um sucesso de audiência.

Cancelados

“O BBB teve discussões que, por mais que abordassem temáticas pesadas, tiveram um encaminhamento e uma solução positiva”, afirma Stycer. O jornalista cita os casos de assédio sexual dentro da casa, onde os participantes foram advertidos publicamente pela Globo, assim como a eliminação sistemática de participantes com perfil machista como exemplos das narrativas sociais que moldaram o programa.

“O Babu, um dos personagens que mais falou sobre racismo no programa, era um querido do público. O programa todo foi pautado por discussões sobre racismo e machismo e, no final, a vencedora foi Thelma, uma mulher negra.”

Foram as discussões e os temas sociais tratados no programa que cativaram a audiência e tornaram o BBB 20 um sucesso de audiência

As temáticas sociais movimentaram não só a casa, mas também as redes sociais e o engajamento virtual do programa foi gigantesco, culminando em um paredão com 1,5 bilhão de votos. O paredão, que colocou a cantora Manu Gavassi contra o arquiteto Felipe Prior, ganhou uma enorme dimensão nas redes e foi definido pela própria Manu Gavassi como uma questão de “sororidade”.

Na Fazenda, os debates identitários também movimentaram a casa. A vencedora Jojo Toddynho, por exemplo, recebeu um texto da escritora Conceição Evaristo torcendo por sua vitória no reality.

Renovados

A popularidade das temáticas sociais parece ter agradado a produção do reality, que finalmente apostou na diversidade racial na hora de formar o elenco da nova edição. Ao todo, serão nove participantes negros — o maior número de pessoas negras em uma única edição. Nos Estados Unidos, um comportamento similar aconteceu. A CBS, emissora responsável pela versão americana, determinou que ao menos 50% dos participantes devem ser de pessoas racializadas.

O sucesso da fórmula promete ser repetido pela Globo, que planeja o BBB 21 aos moldes do 20. “Me chamou a atenção que, desde o início da divulgação da nova temporada, existe essa promessa de fazer uma edição igual a anterior. É uma mudança no perfil do BBB, o programa geralmente sempre inova, tenta surpreender”, diz Stycer.

Uma novela envolve centenas, talvez milhares, de pessoas. Controlar isso é muito mais complexo do que controlar um programa como o BBB, praticamente um microcosmo

A estratégia parece ter dado certo. O reality sequer estreou e já foi o assunto mais comentado no Twitter brasileiro ao revelar os participantes da vigésima primeira edição do programa. Com os problemas logísticos enfrentados na gravação de uma novela durante a pandemia, não é surpresa que o carro chefe do entretenimento da Globo no primeiro semestre seja o BBB.

“Uma novela envolve centenas, talvez milhares, de pessoas. São vários estúdios e muita interação entre pessoas, controlar isso é muito mais complexo do que controlar um programa como o BBB, praticamente um microcosmo”, afirma Stycer.

Para o jornalista, o formato simples e as regras básicas do programa o tornam muito atrativo para o público. “Não é comum um programa permanecer tanto tempo na grade de uma emissora, o BBB é um fenômeno muito forte.”, finaliza Stycer.

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