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Veja sete curiosidades sobre o livro “Um Defeito de Cor”

Obra da escritora Ana Maria Gonçalves, primeira mulher negra da Academia Brasileira de Letras, romance é um dos mais influentes do século no Brasil

Leonardo Neiva 14 de Julho de 2025

A escritora, roteirista e dramaturga mineira Ana Maria Gonçalves fez história ao ser eleita a primeira mulher negra a integrar a Academia Brasileira de Letras na última quinta-feira (10). Além de romper um criticado tabu dentro de uma das principais instituições literárias do país, a escolha também coroou uma trajetória de valorização e reconhecimento de “Um Defeito de Cor” (Record, 2006), obra-prima da autora e apenas o segundo romance que publicou.

O livro conta a história de Kehinde, uma mulher africana escravizada no Brasil no século 19, que acaba comprando a própria liberdade. Dos sofrimentos, amores e desilusões à busca por um de seus filhos e por sua religiosidade, o romance acompanha sua trajetória até o retorno à África e sua ascensão profissional. O impacto e influência da obra na literatura brasileira vêm ganhando cada vez mais destaque nos últimos anos, solidificando o livro como um dos mais influentes deste século.

A seguir, Gama aponta algumas curiosidades sobre a obra:

  • 1


    Um dos romances mais longos da literatura nacional, com 951 páginas, “Um Defeito de Cor” levou cinco anos para ser escrito. Os dois primeiros Gonçalves passou praticamente só em pesquisas. A obra em si ela desenvolveu ao longo do ano seguinte e reescreveu em outros dois. O livro foi lançado originalmente em 2006. Desde então, a autora tem se dedicado principalmente à escrita de peças de teatro, contos e roteiros de cinema.

  • 2


    Embora não tenha sido um fenômeno comercial em seu lançamento, o romance tem vendido bem ao longo das últimas décadas. Ganhou ainda mais fôlego nos anos recentes, com a valorização de sua importância para a literatura nacional. Apenas um dia após a escolha de Ana Maria Gonçalves para a ABL, por exemplo foram mais de 2 mil cópias vendidas. No total, já são mais de 180 mil volumes comercializados desde a publicação original.

  • 3


    O reconhecimento da obra também passa por um boom considerável em sua presença na arte e cultura brasileiras contemporâneas. Em 2024, o livro virou enredo de Carnaval da Portela, o que o colocou no topo das obras mais vendidas da Amazon à época. Além disso, “Um Defeito de Cor” foi tema central de uma exposição que passou por lugares como o MUNCAB-BA (Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira), o MAR-RJ (Museu de Arte do Rio) e o SESC-Pinheiros (SP). Recentemente, a obra, que já tinha sido escolhida pela Folha de S.Paulo uma das mais importantes para entender o Brasil, foi eleita por críticos no jornal o melhor livro brasileiro de ficção do século 21.

  • 4


    O romance tem tantos personagens que nem mesmo a autora foi capaz de contá-los todos — ela parou em 450 ainda no oitavo capítulo, segundo entrevista para a revista piauí. Aliás, apesar de seu tamanho considerável, a obra é dividida em apenas dez capítulos, marcados por reviravoltas, trechos emocionantes e uma narrativa envolvente, que causa indignação ao evocar a realidade de uma mulher negra em meio a uma sociedade escravocrata.

  • 5


    A obra está entre as preferidas de personalidades como Lázaro Ramos — que já declarou se tratar de “seu livro definitivo”, aquele que mais indica e dá de presente — e também o presidente Lula, que o leu durante o período que passou na prisão. “Uma obra que li na prisão e recomendo sobre a questão do racismo é Um defeito de cor. Tem quase mil páginas, mas vale muito a pena”, publicou no Twitter ainda em 2020.

  • 6


    A protagonista Kehinde, africana escravizada que compra sua liberdade, já foi comparada por um crítico a Riobaldo e Diadorim, personagens de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa. A principal inspiração da autora, no entanto, foi uma mulher real: Luísa Mahin, que teria sido mãe do poeta e abolicionista Luís Gama. Mahin participou da célebre Revolta dos Malês, movimento liderado por escravizados muçulmanos a favor da abolição. Hoje, ela é um dos maiores símbolos da resistência das mulheres negras no Brasil. Além dela, o livro também se baseia em outras figuras da diáspora africana para criar uma ficção com fortes traços de realidade.

  • 7


    Ponto de virada na literatura negra do Brasil, ele é apenas o segundo romance da autora, publicado após “Ao Lado e à Margem do que Sentes por Mim”. Foi justamente “Um Defeito de Cor” que deu a Gonçalves, até então uma escritora pouco conhecida, o reconhecimento no meio literário.  Depois disso, assumidamente travada pelo sucesso de sua obra-prima, ela não chegou a concluir nenhum dos outros 30 romances que rascunhou. Mas hoje se diz livre desse peso e já se colocou até na missão de “guardiã do romance” em entrevista à piauí: “Entendi que preciso tomar conta dele com o máximo de dedicação e alegria. Divulgá-lo sempre e me orgulhar dos voos incríveis que alçou.”

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