Dez livros de escritoras negras latino-americanas e caribenhas

Gama seleciona obras de autoras da região que você precisa conhecer neste Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

Leonardo Neiva 25 de Julho de 2025

Criado para homenagear, gerar visibilidade e promover políticas públicas contra o racismo e o machismo, celebramos nesta sexta-feira (25) o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Além de destacar o impacto feminino negro numa região que ainda hoje lida com as heranças do colonialismo e as feridas profundas deixadas pela escravidão, trata-se de uma ótima oportunidade para relembrar a contribuição central dessas mulheres para as diversas áreas do conhecimento humano.

Pouco após a escritora brasileira Ana Maria Gonçalves, autora de “Um Defeito de Cor” (Record, 2006), se tornar a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL), nada mais adequado do que relembrar e celebrar a escrita de autoras latino-americanas e caribenhas que hoje conseguem resistir ao silenciamento. Nomes que já conhecemos muito bem, como as brasileiras Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus (1914-1977) e Sueli Carneiro, mas também outros, a exemplo da guadalupense Maryse Condé e da peruana Gabriela Wiener, entre tantos.

Então, como forma de comemorar a data, Gama sugere a seguir obras recentes de escritoras negras da região que, apesar do apagamento histórico, resistem e são cada vez mais lidas:

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    “Um Rio Sem Fim”, de Verenilde Pereira (Alfaguara, 2025)

    Brasil

    Uma das escritoras pioneiras da literatura afro-indígena no Brasil, a amazonense Verenilde Pereira ainda é um nome bem pouco conhecido entre os leitores. Um dos motivos é o fato de “Um Rio Sem Fim”, seu primeiro romance publicado originalmente em 1998, ter ficado praticamente esquecido e só ter sido redescoberto pela crítica literária recentemente. Agora, ele ganha uma nova edição pela Alfaguara. A obra conta a história de Maria Assunção e Rosa Maria, meninas indígenas educadas numa missão religiosa, que são levadas por missionárias para trabalhar na casa de famílias ricas de Manaus. O livro também traça uma crônica da problemática chegada da Igreja Católica às comunidades indígenas da Amazônia. Para coroar o relançamento, a autora é uma das presenças confirmadas na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) em 2025.

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    “Exploração”, de Gabriela Wiener (Todavia, 2023)

    Peru

    Escritora, poeta, jornalista e ensaísta, a peruana Gabriela Wiener vive na Espanha desde 2003. Considerada um dos grandes nomes da atual literatura latino-americana, ela une história, jornalismo e ensaio pessoal para evocar a obscura biografia de um tataravô austríaco. Da existência desse antepassado, um arqueólogo de pouco sucesso, aos afetos de hoje, ela faz em “Exploração” um acerto de contas com o passado familiar e colonial, abordando questões como o poliamor, o desejo e o racismo na América Latina. Traduzido por Sérgio Molina.

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    “O Fabuloso e Triste Destino de Ivan e Ivana”, de Maryse Condé (Rosa dos Tempos, 2024)

    Guadalupe

    Nascida em Guadalupe, ilha de território francês no Caribe, Maryse Condé (1934-2024) foi uma conhecida escritora, feminista e ativista, autora de mais de 20 livros, entre romances, contos, ensaios e poemas. “Eu, Tituba” (Rosa dos Tempos, 2019), um dos mais celebrados, relata de forma ficcional o julgamento das bruxas de Salém, colocando no centro a figura real da mulher negra escravizada e acusada de bruxaria. Já no mais recente “O Fabuloso e Triste Destino de Ivan e Ivana”, com prefácio de Djamila Ribeiro, ela narra a trajetória de irmãos gêmeos unidos por uma força inexplicável. Nascidos na ilha natal da autora, eles personificam o maravilhoso e o trágico em jornadas ao mesmo tempo distintas e inseparáveis, que falam sobre pobreza, racismo e colonialismo. Traduzido por Natália Borges Polesso.

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    “Sobre a Loucura de uma Mulher”, de Astrid Roemer (Companhia das Letras, 2025)

    Suriname

    Se você conhece muito pouco ou nada da literatura do Suriname, a obra de Astrid Roemer, a mais celebrada autora do país no século 20, é um excelente ponto de partida. Também confirmada na Flip 2025, onde fará um debate ao lado da escritora Verenilde Pereira, a poeta e romancista vive na Holanda desde os 19 anos e trata em sua obra de temas como raça, família, gênero e identidade. “Sobre a Loucura de uma Mulher”, selecionado para o International Booker Prize e seu primeiro livro publicado no Brasil, conta a história de libertação de uma mulher que foge dos abusos do marido e acaba vivendo uma série de envolvimentos amorosos na capital do Suriname pós-colonial. Traduzido por Mariângela Guimarães.

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    “Awon Baba”, de Teresa Cárdenas (Pallas, 2022)

    Cuba

    A escritora, roteirista, atriz, bailarina e ativista cubana aborda em seus romances e contos temas ligados à ancestralidade, à afrodiáspora e ao preconceito racial. Os 12 contos da coletânea “Awon Baba” misturam memória e ficção para narrar a escravidão da perspectiva de crianças, mulheres, homens e velhos escravizados. Numa linguagem em que coabitam a poesia, a musicalidade africana e arquétipos da oralidade, ela reescreve a história pelo olhar de personagens negligenciados, que resistiram com o auxílio da raiva, do amor, do humor e da esperança. No Brasil, Cárdenas também tem publicados os romances “Cachorro Velho” (Pallas, 2010) e “Cartas Para a Minha Mãe” (idem). Traduzido por Josane Silva.

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    “Por um Feminismo Afro-Latino-Americano”, de Lélia Gonzalez (Zahar, 2020)

    Brasil

    Uma das figuras centrais do movimento negro latino-americano, a filósofa, antropóloga, ativista e escritora brasileira Lélia González (1935-1994) teve atuação decisiva na luta contra o racismo estrutural e na articulação das relações entre gênero e raça na sociedade. Organizado pelas sociólogas Flavia Rios e Márcia Lima, “Por um Feminismo Afro-Latino-Americano” reúne textos da autora escritos entre 1979 e 1994. Entre ensaios, artigos, entrevistas e cartas, a obra faz um panorama consistente da obra dessa intelectual tão múltipla e engajada, cujo pensamento é essencial ao se falar da luta das mulheres negras na América Latina e Caribe. Portanto, como já evocou a filósofa norte-americana Angela Davis: “Leiam Lélia González!”

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    “Clara da Luz do Mar”, de Edwidge Danticat (Todavia, 2022)

    Haiti

    A romancista e contista nascida no Haiti e criada nos Estados Unidos tem uma produção prolífica, com mais de 20 livros publicados entre romances, coletâneas de contos, obras infantis e volumes de não-ficção. Entre os temas de que costuma tratar, constam sempre questões como as relações entre mães e filhas, a identidade nacional e políticas afrodiaspóricas. O romance “Clara da Luz do Mar” se inicia com uma história simples e pungente: no dia do aniversário de sete anos da filha, um pai decide entregá-la a uma vendedora de tecidos, na esperança de que seja capaz de dar à criança uma vida melhor. A partir daí, somos apresentados a uma gama de personagens que vivem em um mesmo vilarejo no Haiti, cujas histórias e memórias se entrelaçam feito uma colcha de retalhos. Traduzido por Ana Ban.

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    “Águas de Estuário”, de Velia Vidal (Jandaíra, 2023)

    Colômbia

    Além de escritora e ativista, a colombiana Velia Vidal atua como gestora cultural e promotora da leitura em comunidades locais, eleita pela BBC uma das mulheres mais inspiradoras e influentes do mundo em 2022. O livro “Águas de Estuário” apresenta ao leitor cartas trocadas entre a autora e um amigo, onde descreve sua cidade natal, Bahía Solano, seu retorno ao departamento colombiano de Chocó e o impacto da promoção da leitura e da cultura na comunidade local. Partindo de metáforas que evidenciam suas percepções sociais, e com um texto de apresentação de Djamila Ribeiro, ela mostra como a palavra e a literatura são capazes de gerar novas visões de mundo em meio a territórios profundamente desiguais.

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    “Apolinária”, de Bianca Santana (Fósforo, 2025)

    Brasil

    A escritora e jornalista Bianca Santana, que foi colunista da Gama e hoje apresenta o primeiro clube do livro da revista, já publicou obras de destaque dentro da literatura brasileira: “Quando me Descobri Negra” (Fósforo, 2023), “Continuo Preta: A vida de Sueli Carneiro” (Companhia das Letras, 2021) e “Arruda e Guiné: Resistência negra no Brasil contemporâneo” (Fósforo, 2022). E a autora segue firmando seu lugar como uma das principais escritoras em atividade no país com o romance “Apolinária”, em que continua seu projeto de escrita de si. Aqui, as vozes da neta Bianca e da avó Apolinária — Polu para os íntimos — vão se alternando numa trama de memórias de família e pesquisa histórica, perpassando uma linha familiar que lida ainda com o racismo cotidiano e a ascensão social por meio do trabalho.

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    “Annie John”, de Jamaica Kincaid (Alfaguara, 2023)

    Antígua e Barbuda

    Radicada nos Estados Unidos, a autora é hoje a principal voz da literatura de origem antiguana. Professora de estudos africanos e afro-americanos em Harvard, ela venceu prêmios literários importantes como o Prix Femina e o PEN Faulkner, além de já ter sido cogitada entre as apostas para o Nobel. Kincaid, que é autora também de “A Autobiografia da Minha Mãe” (Alfaguara, 2020), veio ao Brasil para participar da Feira do Livro de São Paulo em 2024, pouco após o lançamento por aqui de “Annie John”, uma de suas obras mais reconhecidas. O romance, publicado originalmente em 1985, conta uma história sobre relações familiares, autodescoberta e identidade por meio da jornada da jovem Annie — garota que passa de uma infância feliz na Antígua para uma adolescência em que questiona os papéis sociais e a autoridade de seu mundo. Um conflito com ecos feministas e anticolonialistas, escrito pouco após a independência do país. Traduzido por Carolina Cândido.

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