Marcelo Knobel
Bons motivos para dizer “até logo”
Aceitar um novo cargo significa fazer uma pausa neste espaço, que tem sido uma plataforma importante para compartilhar ideias e reflexões sobre ciência e educação
Sim, este é um artigo de despedida. Pelo menos por um tempo deixarei de escrever esta coluna sobre ciência e educação, mas por uma razão especial: fui escolhido para assumir a direção executiva da Academia Mundial de Ciências para o Avanço da Ciência nos Países em Desenvolvimento (The World Academy of Sciences – TWAS), sediada em Trieste, na Itália. É um novo desafio que aceitei com grande entusiasmo e responsabilidade.
Esta nova etapa representa uma oportunidade imperdível para que eu possa atuar mais profundamente e em maior escala naquela que sempre foi a convicção que guiou minha atuação na educação superior: o desenvolvimento científico e a redução das desigualdades globais são indispensáveis para um futuro minimamente digno da humanidade. Por isso, quando soube da possibilidade de liderar uma instituição que trabalha exatamente na intersecção desses dois campos, não pensei duas vezes. A TWAS, fundada em 1983 por um grupo de cientistas liderados pelo físico Abdus Salam, tem uma história marcada por essa visão: fortalecer a ciência nos países em desenvolvimento como forma de enfrentar desafios como a fome, a pobreza e as diversas desigualdades que ainda afligem o assim chamado sul global. Trabalhar em prol dessa missão é algo que me inspira profundamente.
A TWAS nasceu como uma academia mundial de ciências, congregando cientistas destacados de países em desenvolvimento. Mas ao longo de mais 40 anos esse alcance se multiplicou. De fato, a TWAS ajudou milhares de cientistas a alcançarem seus objetivos, com programas que vão desde bolsas de doutorado e compras de equipamentos de pesquisa até treinamentos em diplomacia científica. Mais do que números impressionantes, o que mais me chama atenção é o impacto direto dessas iniciativas: pesquisadores que já estiveram ligados aos programas da TWAS hoje lideram projetos relevantes em seus países e, muitas vezes, se tornam referências para novas gerações.
O desenvolvimento científico e a redução das desigualdades globais são indispensáveis para um futuro minimamente digno da humanidade
Uma das características que considero mais importantes na TWAS é seu foco em incentivar a cooperação Sul-Sul. Cientistas experientes de países em desenvolvimento compartilham conhecimento e criam redes que fortalecem a pesquisa em suas regiões. Também vejo com entusiasmo os esforços para promover a igualdade de gênero na ciência, que infelizmente ainda está longe de ser alcançada.
Outro aspecto que me motiva é o compromisso da TWAS com a sustentabilidade. A emergência climática e outros desafios globais que se relacionam a ela, exigem soluções baseadas em ciência e com colaboração internacional. Apoiar a participação de países em desenvolvimento nessas discussões e na implementação de ações para o enfrentamento dessas questões é algo que considero crucial.
Aceitar esse novo cargo, no entanto, significa fazer uma pausa neste espaço, que tem sido uma plataforma importante para compartilhar ideias e reflexões sobre ciência e educação. Agradeço imensamente às editoras e a todos as leitoras e leitores que acompanharam a coluna até aqui. Vocês foram parte fundamental desta jornada.
Agora, a partir de Trieste e com os olhos voltados para o mundo continuarei trabalhando com toda a minha energia para que a a ciência chegue mais longe e melhore nossa realidade. Sendo essa uma missão coletiva, para a qual espero ter conquistado novas aliadas e aliados, como você, despeço-me com um até logo!
Ver mais sobre a TWAS em www.twas.org
Marcelo Knobel é físico e professor do Instituto de Física Gleb Wataghin, da Unicamp. Escreve sobre ciência, tecnologia, inovação e educação superior, e como impactam nosso cotidiano atual e o futuro
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões da Gama.