Nada é bizarro demais para um leilão — Gama Revista
©Otávio Gergely

Nada é bizarro demais para um leilão

Por que alguém compraria o hálito de Angelina Jolie numa garrafinha, a privada de Salinger ou a calcinha da mulher de Hitler? O frenesi de um lance explica que compradores paguem caro pelo prazer de ter algo único (e bizarro)

Willian Vieira 29 de Março de 2020

A cadeira de Stephen Hawking

Não é uma simples cadeira de rodas, é verdade. Ela carregou por mais de duas décadas um dos maiores cientistas do século 20. Ele descobriu que os buracos negros emitem radiação. Ela passou inadvertidamente sobre os pés do príncipe Charles durante um encontro (segundo o biógrafo de Hawking, ele se arrependia de não ter passado por cima dos pés de Margaret Thatcher). Juntos, viajaram meio mundo – mais que a maioria de nós. É, “literal e figuradamente, uma das cadeiras de rodas mais viajadas da história”, disse o diretor da Christie’s. O físico só a deixou de lado quando já não conseguia acionar os controles – ele sofria da doença de Lou Gehrig. A cadeira vermelha motorizada foi vendida por 296,7 mil libras, que foram para associações que ajudam pessoas com deficiência.

O vaso sanitário de Salinger

J. D. Salinger foi um escritor avesso a entrevistas e boatos que, alçado ao estrelato com “O Apanhador no Campo de Centeio”, decidiu viver recluso em sua casa em New Hampshire, nos Estados Unidos. Foi lá que escreveu cerca de 15 manuscritos, muitos deles sentados em sua privada – é o que sugeriu o casal que, tendo comprado a casa do autor, falecido aos 91 anos em 2010, decidiu colocá-la à venda no Ebay. O valor pedido: US$ 1 milhão. Mas o vaso sanitário tinha seus detalhes: vinha “sujo e em sua condição original”. Quanto da verve do autor não estaria naquela superfície esmaltada da cerâmica? “Quem sabe quantas de suas histórias foram pensadas e escritas enquanto Salinger estava sentado em seu trono!”

A escada de acesso da Torre Eiffel

O fetiche de levar um pedacinho do maior símbolo da França para casa custa caro. 169 mil euros, mais exatamente. Isso por 25 degraus de uma escada em espiral branca, cerca de 4 m que uma vez ligaram o segundo e o terceiro andar da Torre Eiffel, antes que os elevadores fossem instalados, em 1983. E não foi a primeira vez que alguém deu um lance por algo assim. Escadas do tipo hoje ligam andares no Japão e na Suíça. Uma delas fora vendida anos antes por 523 mil euros.

A calcinha nazista

Existe um “interesse perene” em memorabília nazista, disse o leiloeiro britânico após um comprador desconhecido arrematar, por telefone, uma calcinha rosa que pertenceu à mulher de Hitler, Eva Braun, por 3,7 mil libras. A calcinha pertencia a uma coleção privada de itens da Segunda Guerra Mundial. Tais vendas fizeram políticos britânicos tentarem proibir a comercialização de objetos que evoquem o nazismo, sem sucesso. Não deixa de chamar a atenção que um bracelete de ouro vendido no mesmo leilão tenha custado bem menos. O fetiche pelo nazismo se junta a outros mais específicos. O mesmo proponente levou a camisola da primeira-dama do nazismo por 2,6 mil libras.

O bolo da rainha

Elizabeth, hoje rainha da Inglaterra, se casou em 1947. Seu bolo de casamento tinha 2,7 m de altura e foi feito com ingredientes da África do Sul e da Austrália, ficando conhecido como “o bolo das 10 mil milhas”. Era um símbolo do poder do antigo império. Estava delicioso, dizem os historiadores da realeza, mas um convidado decidiu guardar seu pedaço – e sua filha, que ficou com a herança, levou a fatia, embrulhada em papel e acondicionada numa caixinha original (onde se lê “Buckingham Palace 20th November 1947”), a leilão. Por 500 libras, um americano arrebatou o mimo – que podia, em tese, ser consumido, dado seu “grande conteúdo alcoólico”. Ninguém sabe se foi comido ou guardado para a eternidade.

O bem-casado de Sandy

“Alguém vai amar ter essa lembrança!” Foi o que disse uma fã que esperou 11 anos para pôr à venda o que seria um bem-casado do casamento da cantora Sandy com Lucas Lima, ocorrido em 2008. No Mercado Livre, ela garantia que o quitute havia sigo guardado congelado intacto na embalagem e queria R$ 3.500 por ele. Um possível comprador pediu para a anunciante postar fotos do casamento em que ela segurasse o docinho. A galhofa ganhou contornos maiores com o boom de matérias na imprensa de fofocas. Até que a anunciante surgiu numa entrevista (incógnita) explicando a origem: ela teria se postado em frente ao condomínio onde Sandy casou. “Na saída, os convidados estavam com docinhos, entre eles o bem-casado. Eu pedi e me deram dois. Eu comi um e o outro guardei.” A dona do bem-casado justificou o valor do doce. “Coloquei o preço alto a fim de não vender mesmo.” A lembrança ficaria com ela.

O chiclete do galã

Quanto vale um chiclete que passou 15 minutos sendo mastigado pela dentição perfeita do ator e símbolo sexual Cauã Reymond? Exatos R$ 349. Não parece muito, mas valeu cada centavo para o desenhista curitibano Phelipe Mattos, que arrematou a preciosidade num leilão de publicidade do novo chiclete promovido pela marca Trident em 2008. O preço da saliva às vezes inflaciona. Quatro anos antes, um fã tentou vender a goma usada por Britney Spears por US$ 14 mil. Ninguém levou.

Ar de celebridade

“Se você está procurando um presente original para um amigo obcecado por celebridades”, diz o site Rotten Tomatoes, seu lance deve ser “ar de celebridade”. Num golpe de mestre, Joe Wilson, humorista de Los Angeles, se postou na fila para a pré-estreia do filme “Sr. & Sra. Smith” com uma garrafa de vidro nas mãos. Brad Pitt e Angelina Jolie passaram no carpete vermelho. A garrafa então foi fechada e oferecida no Ebay – com “as mesmas moléculas de ar” que o casal dividiu com a audiência. O site exigiu que o anúncio fosse retirado por oferecer algo que os donos não podiam comprovar. Mas o artista, com um misto de crítica social a Hollywood e vontade de notoriedade, mudou o nome para Celebrity Jar. O anúncio, jocoso, ganhou fãs. “Seja o primeiro a ganhar uma jarra de ar de celebridade, que pode conter moléculas de ar que tiveram contato direto com Angelina Jolie e Brad Pitt.” Após muitos lances, o objeto foi vendido por US$ 523.

O mapa do Ursinho Puff

Eis que a gravura de livro mais cara da história, vendida pela Sotheby’s no ano passado, quem diria, é um mapa original de Winnie-the-Pooh, o Ursinho Puff, o mesmo dos desenhos animados da TV. A ilustração, criada por E.H. Shepard em 1926, seria “o mais famoso mapa da literatura infantil”, segundo o comunicado da casa de leilão. Para quem gosta das aventuras do personagem, talvez faça sentido pagar US$ 570 mil para ter em mãos o caminho do ursinho até Bolota, o elefante.

Relaxando com Clodovil

Foi em 2012 que os responsáveis pelo espólio do estilista Clodovil Hernandes organizaram um leilão com tudo o que o ex-deputado e apresentador deixara – justamente para pagar as dívidas que também deixou. De toalhas com iniciais douradas a vasos e joias, o que mais atraía desejo era a famosa gravata borboleta feita de ouro branco, cravejada com mais de mil diamantes, arrematada por R$ 46 mil. Havia ainda um piano, um relógio Cartier… mas o que chamou a atenção de um convidado desconhecido do leilão foi de outra ordem: quem diria que alguém levaria uma maca de massagem usada por Clodovil em seus momentos de relaxamento em sua mansão (construída em área ilegal, aliás) em Ubatuba? Dividir esse momento de paz com a memória de Clodovil custou apenas R$ 150.

Quer mais dicas como essas no seu email?

Inscreva-se nas nossas newsletters

  • Todas as newsletters
  • Semana
  • A mais lida
  • Nossas escolhas
  • Achamos que vale
  • Life hacks
  • Obrigada pelo interesse!

    Encaminhamos um e-mail de confirmação