Yoga, para carregar — Gama Revista
Isabela Durão

Yoga, para carregar

A prática que já se expandia como aliada contra o estresse, tem conquistado mais admiradores ao se adaptar ao formato online e oferecer alívio contra a exaustão gerada pela pandemia

Cristina Nabuco 07 de Junho de 2021

Imagine chegar a um lugar silencioso, luz suave, tapetinhos coloridos, mantas macias, almofadas com aroma de lavanda e camomila, e ser recebido com olhar amoroso e uma xícara de chá. O método de Yoga Restaurativa, idealizado há 14 anos pela psicóloga e professora de yoga Miila Derzett, constrói uma espécie de ninho para propiciar momentos de descanso, reflexão e recuperação da energia. “Na nossa cultura, quanto mais você faz, mais é valorizado. O custo é um nível altíssimo de cansaço”, diz a Gama. “O método tira a pessoa dessa angústia. Utiliza mantas e almofadas que oferecem suporte físico para proporcionar conforto e a sensação de flutuar, o que reverbera na parte emocional e vai colocando o aluno em estado meditativo.”

As aulas incluem posturas físicas que conduzem ao relaxamento, técnicas para acalmar a respiração, meditação deitada, toques e diálogos que despertam a afetividade. “Restauram o corpo, a mente e a alma”, informa a professora. “A pessoa sai dali mais serena, sensata, criativa e aberta a insights. A prática é o ponto de partida para ressignificar a própria vida e criar momentos de pausa e recuperação no dia a dia.”

Na nossa cultura, quanto mais você faz, mais é valorizado. O custo é um nível altíssimo de cansaço

Dadas em grupo, dupla ou individuais, as aulas usuais e as do curso de formação de instrutores – mantido há nove anos, que reunia 40 pessoas por sete dias em um lugar isolado – com a pandemia tiveram de migrar para o ambiente virtual. Nas transmissões ao vivo, ela tem passado “horas” na casa dos alunos, um espaço repleto de lembranças e significado emocional. “Em vez do tapetinho de yoga, o praticante usa o tapete da sala, a almofada que ganhou da avó, a manta que mais adora e a tela capta imagens dos filhos e animais de estimação. Fica mais pessoal. Apesar da falta do toque, os participantes têm compartilhado experiências positivas ao receber o yoga em casa.”

Embora os vídeos de yoga estejam disponíveis no Youtube há anos, as aulas remotas explodiram com o distanciamento social. O Google Trends divulgou que a busca por “yoga online” no site foi 25 vezes maior no primeiro semestre de 2020 comparado ao mesmo período do ano anterior. Estima-se que o número de praticantes tenha aumentado até 200% em alguns países durante a pandemia.

Instagram / @yogarestaurativa_oficial

Longa tradição

Yoga é um termo em sânscrito que vem da raiz yuj e significa unir ou integrar. Surgiu há 5 mil anos, no vale do rio Indo, atual território do Paquistão. Um dos textos mais antigos Yoga Sutras (Sol Nascente, sem data), com 196 sutras ou aforismos, é atribuído a um mestre que viveu na Índia no século III. O sábio Patanjali define yoga como o controle das atividades da mente para religar o ser humano à sua essência. Produz um estado de equilíbrio e paz por meio de asanas (posturas físicas) e pranayamas (exercícios respiratórios) que constituem a base da prática atual e foram descritos em outro texto clássico, Hatha Yoga Pradipika, do século XVI.

Ao longo do tempo sofreu diversas metamorfoses. Chegou ao Ocidente no final do século XIX, mas só foi se popularizar nesta parte do mundo a partir de 1968, quando a banda de rock inglesa The Beatles visitou o ashram do guru Maharishi Mahesh Yogi, em Rishikesh, um importante centro de yoga e meditação, na Índia. A difusão ocorreu sobretudo nos Estados Unidos, onde o número de praticantes saltou de 20,4 milhões em 2012 para 36,7 milhões em 2016, conforme pesquisa do Ipsos Public Affairs efetuada a pedido da Yoga Alliance (Aliança do Yoga, organização que reúne professores de yoga) e do periódico Yoga Journal. Calcula-se que 300 milhões de pessoas pratiquem yoga ao redor do mundo. No Brasil este número pode ultrapassar 700 mil.

O método de Yoga Restaurativa é uma das mais de 100 modalidades existentes hoje. E a cada ano surgem novidades, como Yoga Hiit, que alterna treino de alta intensidade com repouso; Yogalates, que combina yoga e pilates; Aerial Yoga, que utiliza um tecido semelhante a uma rede, para realizar as posturas; e SUP Yoga, feita na água, sobre uma prancha de stand up paddle. Também recente é a Broga, que enfatiza a tonificação muscular, o treinamento de força e o trabalho cardiovascular, direcionada sobretudo aos homens – o estudo da Yoga Alliance revelou que 72% dos praticantes pertencem ao sexo feminino contra 28% do masculino.

Fonte de equilíbrio

“A prática regular do yoga pode ajudar a enfrentar o tumulto da vida com estabilidade e tranquilidade”, afirma um dos grandes mestres contemporâneos, B. K. S. Iyengar (1918-2014), criador de uma modalidade que leva seu nome e autor de Luz sobre o pranayama (Selo Mantra, 2021), que apresenta 14 tipos de respiração para auxiliar no controle das emoções, trazer concentração, equilíbrio físico e emocional, além de expandir a capacidade do pulmão, um dos principais alvos do Sars-CoV 2. Fora isso, “o pranayama modula o sistema nervoso autônomo – ao diminuir a ação do simpático, que nos agita, e ativar o parassimpático, que põe o corpo em repouso –, reduz a pressão arterial, massageia os órgãos e regula a produção de hormônios”, diz a Gama a educadora física Silvia Meireles, que dá aulas de yoga há 33 anos e fez a formação no Instituto Kaivalyadhama, em Lonavla, na Índia, pioneiro em Yoga Científica.

A experiência de saber o que pode acontecer numa aula contribuiu para ela fazer a transição digital. “Uma aluna me ensinou a usar o aplicativo Zoom. Aprendi como enquadrar e acionar o microfone, melhorei a minha Internet e comecei em abril do ano passado.” Para ela, a maior vantagem foi resgatar alunos antigos que moram longe, inclusive em outros países. A desvantagem é que as imagens ficam pequenas na tela do computador, o que dificulta a correção, por isso evita posturas mais trabalhosas. As reações dos alunos variam. Alguns têm dificuldade em lidar com a tecnologia ou alegam que em casa há muita distração; outros gostaram tanto de não precisar se locomover no trânsito que não pretendem voltar às aulas presenciais; e muitos demonstram gratidão pelo apoio para atravessar essa época de incertezas.

A prática regular do yoga pode ajudar a enfrentar o tumulto da vida com estabilidade e tranquilidade

De fato, yoga e meditação podem ser úteis contra a covid-19, concluiu uma revisão de 145 estudos coordenada pelo antropólogo William Bushell, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachussets), da qual participaram cientistas das Universidades Harvard e Columbia, nos Estados Unidos. Segundo os autores, ambos colaboram na gestão do estresse e apresentam propriedades anti-inflamatórias. O artigo foi publicado em julho de 2020 no The Journal of Alternative and Complementary Medicine.

De acordo com Iyengar, o yoga torna o corpo forte e flexível, melhora os sistemas respiratório, circulatório, digestivo e hormonal, produz estabilidade emocional e clareza de ideias. “Mas esse é só o começo da jornada até a autorrealização, que é o objetivo final.” Ele compara quem foca apenas no físico a “um riacho de águas rápidas, que caem em atropelo, carentes de profundidade e direção. Quando atenta para o lado mental e espiritual do yoga, o praticante sincero se torna um rio de águas tranquilas, que ajudam a irrigar e fertilizar a terra à sua volta”.

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